Depois de rodar o país por dez meses, passando por oito capitais brasileiras e palcos nem sempre habituados a corpos e vozes da periferia, o projeto Favelinha na Estrada volta a Belo Horizonte, onde encerra a circulação nacional de um projeto vocacionado para a celebração da arte e da resistência das quebradas.
Abrindo os trabalhos, o espetáculo “Brinco de Ouro”, dirigido por Léo Garcia e protagonizado por sete artistas da Cia Favelinha, é apresentado neste sábado (2/8), no Sesc Palladium, misturando capoeira, samba, vogue, passinho e outros gestos afro-diaspóricos para contar, dançar e afirmar identidades negras. No dia seguinte, domingo (3/8), encerrando as atividades, o grupo comanda a final nacional da Disputa Nervosa, competição de dança de funk que reúne dançarinos de oito estados no Viaduto Santa Tereza, com entrada gratuita e prêmio de R$ 15 mil para o campeão.
Sobre a peça, a dançarina e produtora artística Negona Dance exalta o aprendizado durante proporcionado pelas trocas com diferentes plateias durante a circulação nacional. “Nesses últimos meses, ‘Brinco de Ouro’ foi se alimentando de cada cidade por onde passou, de cada visão compartilhada, de cada público atento e com fome de se ver representado no palco”, comenta, mencionando as passagens pelo Rio de Janeiro, Fortaleza, Salvador, Manaus, Porto Alegre, São Paulo e Recife, antes do retorno a BH, onde tudo começou.
“A gente trocou uma ideia pós-espetáculo com o público e, em todas as ocasiões, saímos muito felizes com a resposta da galera, da leitura que cada um fez das cenas, da relação que cada um viu com sua própria realidade, com sua própria quebrada”, ressalta, destacando leituras como a relação da mulher com o funk, dos corpos pretos que são alvo, mas também da fé, do compartilhamento de sonhos, das brincadeiras de menino, passando pelos atuais ataques à cultura funkeira, com projetos de lei que tentam, inconstitucionalmente, criminalizar essa manifestação artística. “Acho que esse nosso espetáculo ter passado por teatros que historicamente não são ocupados por favelados, falando sobre funk, é uma espécie de revolução”, celebra.
O projeto, diz, retorna a BH sem nunca ter saído da cidade – ao menos, simbolicamente: “A gente continua falando do Serrão, da nossa realidade, dos nossos artistas, do que está atravessando geral. A gente volta sempre para casa depois das viagens, e isso também é uma espécie de comunhão entre o que vivemos em outras cidades e o que vivemos aqui, no nosso quintal”, defende, admitindo, enfim, que encerrar o projeto de circulação na capital mineira representa uma celebração dessa conquista coletiva da Favelinha. “Então vai ser uma grande festa!”, garante.
A artista ainda ressalta que, como o espetáculo se transforma a cada apresentação e troca, o que vai acontecer no Sesc Palladium, neste sábado, será diferente de tudo o que já foi realizado até então em BH.
E a festa continua no domingo (3/8), quando o Viaduto Santa Tereza, reduto hip hop da cidade, sedia a final da Disputa Nervosa Nacional, uma batalha de funk que reúne dançarinos de oito cidades. O vencedor leva o prêmio de R$ 15 mil e o título de Melhor Dançarino de Funk do Brasil. O evento, gratuito e aberto ao público, inclui ainda uma oficina de dança com integrantes da Cia Favelinha.
“Sem dúvida, o evento é um importante espaço de manifestação dessa cultura, que levanta a bandeira de que o funk não é crime, mas um jeito que encontramos de falar o que pensamos, de ter controle sobre nossas narrativas, de falar a partir do que a gente vive”, salienta Negona. “E ter competidores de oito estados encerrando essa competição aqui, no Viaduto Santa Tereza, que já abriga tantas manifestações de arte urbana, é mostrar o poder da nossa arte, da favela, das quebradas de BH e do Brasil todo, unidas num só propósito. BH ganha com essa Disputa Nacional, Minas ganha, o Brasil ganha. Porque o funk é nossa resistência diária”, conclui.
SERVIÇO:
O quê. Peça 'Brinco de Ouro'
Quando. Neste sábado (2), às 19h,
Onde. Sesc Palladium (rua Rio de Janeiro, 1.046, centro).
Quanto. R$ 5. Ingressos disponíveis no Sympla
O quê. Disputa Nervosa
Quando. Neste domingo (3), às 15h
Onde. Viaduto Santa Tereza (avenida Assis Chateaubriand, 619, centro)
Quanto. Gratuito