Depois de passar por festivais como a Mostra de Cinema de Tiradentes, na cidade histórica localizada na região de Campos das Vertentes, o CineOP, em Ouro Preto, e o Festival Internacional de Cinema Infantil (FICI), no Rio de Janeiro, o filme “A Mensagem de Jequi”, dirigido pelo cineasta e educador Igor Amin, chega ao circuito comercial de cinema nesta quinta-feira (7/8) com distribuição da Ao Vento Filmes. Em Belo Horizonte, o título é exibido no Una Belas Artes (rua Gonçalves Dias, 1.581, Lourdes). A produção, que nasceu de oficinas de sustentabilidade e audiovisual com crianças da região do Vale do Jequitinhonha, em Minas Gerais, combina ficção, educação climática, tendo por foco a defesa da infância – e das águas como elementos constituintes das infâncias ribeirinhas.
O protagonista da história é Jequi, interpretado pelo menino Kaique Santos Silva, de 9 anos, morador da comunidade quilombola de São Gonçalo do Rio das Pedras, distrito do município de Serro, no Vale do Jequitinhonha. Em cena, Jequi se depara com os impactos da mineração e do “progresso” predatório em sua terra natal e decide agir, sabotando os planos dos poderosos. Ao mesmo tempo, lança uma mensagem, por meio de uma garrafa, para outras crianças.
Além do Vale do Jequitinhonha, a narrativa do filme alcança a Aldeia Boa Vista, na Serra do Mar, em São Paulo, visita uma comunidade em Portugal e chega ao povo Chope, em Moçambique, tendo sempre essa garrafa portadora da mensagem do protagonista – e, depois, das outras crianças – como fio condutor da história, conectando diferentes culturas em torno da luta pela preservação ambiental.
No elenco, além de Kaique, estão Mateus Andrade, Hillary Moreira, Meryê Paraguassu, Cecília Pinto e o moçambicano Lírio Zango. O roteiro é de Adolfo Borges e Susane Meyer Portugal, com direção de fotografia de Breno Conde, direção de som de Daniel Nunes e arte e animações de Cecília Morbidoni.
“Minha expectativa para a chegada do filme na sala de cinema é grande, porque, quando iniciamos este filme, ele nasceu de um processo educativo com crianças quilombolas de São Gonçalo do Rio das Pedras, no Alto Jequitinhonha, distrito do Serro, em Minas Gerais. É um local onde as águas desse território vêm sofrendo muitas ameaças de possíveis empreendimentos predatórios que podem gerar um impacto irreversível, principalmente para as comunidades de povos tradicionais, como a comunidade quilombola da Vila Nova, que protagoniza o filme”, comenta Igor.
O realizador prossegue: “Levar esta mensagem para as grandes telas nos emociona muito, no sentido de que conseguimos ocupar um espaço onde uma criança negra protagoniza uma história em defesa do seu próprio território, mostrando que as crianças também são agentes de transformação. Eu fico muito feliz por conseguirmos alcançar esse espaço tão nobre que são as salas de cinema, com uma mensagem tão importante que, em síntese, busca chamar a atenção para a importância da garantia do direito das crianças de coexistirem com as águas de seus territórios”.
Convite à reflexão
“‘A Mensagem de Jequi’ é um convite para refletirmos sobre o valor da água, da natureza e das comunidades tradicionais que vivem em harmonia com os rios”, definiu Igor Amin em entrevista a O TEMPO, em outubro do ano passado, quando a produção foi apresentada no Palácio das Artes, no centro de Belo Horizonte, integrando a programação da exposição “Telegarrafas”, com curadoria do próprio cineasta, que funcionou como um desdobramento do filme.
No mesmo período, a reportagem conversou com Kaique, que vive Jequi nas telas e descreveu o processo de gravação com o mesmo entusiasmo de quem narra uma travessura. “Eu acho que foi no ano passado, em maio, só sei que foi muito bom. A gente atravessou o rio, tiramos uns lixos que estavam lá. A gente viu uma garrafa e foi pegar”, conta, rindo. Em seguida, vieram as filmagens de bicicleta, o futebol e o mergulho no rio – tudo vivido por ele com a naturalidade de uma brincadeira.
“Depois peguei a garrafa e levei pra casa. Fiquei brincando, fingindo que olhava por dentro dela… Aí passa um barquinho, eu entro no rio e vamos descendo”, recorda.
A espontaneidade do relato de Kaique é emblemática da condução do filme, que enxerga na infância como potência criativa e política, mais que público natural. “Eu costumo dizer que aprendi a filmar não as crianças ou para as crianças, mas com as crianças”, explicita Igor, que trabalha há quase duas décadas com processos colaborativos envolvendo infâncias e narrativas comunitárias. Educador audiovisual e mestre em Ciências Humanas pela UFVJM, ele está em seu terceiro longa-metragem – anteriormente, ele dirigiu “O que queremos para o mundo”, lançado em 2016, e “Em Busca das Telas Amigáveis”, de 2022.