Sete meses depois de uma superprodução levar a obra mais importante de Bram Stoker de volta aos cinemas, o vampiro criado pelo autor irlandês retorna às telonas com sede de sangue renovada. Saem de cena Robert Eggers e seu "Nosferatu" e entram Luc Besson e sua versão para "Drácula".

Sob a sombra do tom aterrorizante do antecessor e com um cartaz que evoca o lado predatório do personagem, com longos dentes brancos abocanhando uma silhueta, o filme que chega nesta quinta-feira (7/8) aos cinemas pode enganar o espectador.

Por mais que vejamos um renascimento de monstros clássicos nas telas - o ano ainda teve um "Lobisomem" e vai ter um "Frankenstein" -, "Drácula: Uma História de Amor Eterno" está mais interessado no lado humano do que no sobrenatural. O filme é muito mais um romance do que um terror.

Besson escolheu contar uma história de amor, se apropriando da mitologia criada por Stoker, mas desviando do cânone para adequar seu chupador de sangue aos anseios de um homem perdidamente apaixonado, embora privado de vivê-lo.

A relação do Drácula, interpretado por Caleb Landry Jones, com sua amada é muito mais verdadeira e pueril do que aquela entre o conde e Mina Murray, personagem do livro que está noiva do mocinho Jonathan Harker, mas é alvo de sua obsessão macabra e abusiva.

"Quando eu reli o livro, o que mais mexeu comigo foi o fato de este homem ter vivido por 400 anos sem um amor. Esta era a história que eu queria contar, usei o vampirismo apenas como ferramenta, mas sem interesse de levá-lo muito a sério", diz Besson, dono de uma carreira errática no cinema de gênero que inclui "O Quinto Elemento" e "Lucy".

"Drácula" já começa quebrando protocolos. Um nobre devoto, ele entra em guerra para barrar a entrada do islamismo no Leste Europeu. Antes de deixar seu castelo, faz um único pedido ao padre que o abençoa - pouco importa se morrer no campo de batalha, mas sua mulher tem que permanecer em segurança.

Deus não ouve suas preces, porém. Apesar de sair vitorioso, Drácula vê a amada ser morta numa emboscada. Inebriado pelo ódio, ele atravessa uma cruz no peito do padre e renega o cristianismo, se aliando a forças sombrias que o tornam imortal. Sua obsessão, então, é encontrar a reencarnação de sua amada.

Quatro séculos depois deste epílogo, o protagonista vira uma espécie de bon vivant que passeia por cidades europeias seduzindo mulheres. Entram em cena outros personagens da obra de Stoker, como Mina e Jonathan Harker e uma versão de Van Helsing, o caçador de vampiros que agora é um padre, vivido pelo excêntrico Christoph Waltz.

E se o "Drácula" original e suas adaptações mais fiéis tomaram a Inglaterra como cenário, enquanto as versões com o título de "Nosferatu" preferiram a Alemanha, o filme de Besson se alocou na França.

Parisiense, o cineasta diz que o objetivo era facilitar a progressão da história, encurtando a distância entre a Transilvânia e a nova morada de Drácula, e usar o centenário da Revolução Francesa como um pano de fundo inusitado e "cheio de energia". Também combina o fato de Paris ser considerada a cidade do amor.

"Esta é a obsessão que todos deveríamos ter. Não uma obsessão por dinheiro, como se normalizou na sociedade hoje - ou sangue, no caso de 'Drácula' -, mas uma obsessão por amor".

"Drácula: Uma História de Amor Eterno"
Quando. Estreia nesta quinta (7/8), nos cinemas
Classificação. 16 anos
Elenco. Caleb Landry Jones, Christoph Waltz e Matilda De Angelis
Produção. França, Reino Unido, 2025
Direção. Luc Besson