O filme Um Dia e Meio, disponível na Netflix, mergulha o espectador em uma narrativa intensa, ambientada na zona rural da Suécia, onde um ato desesperado desencadeia uma série de eventos marcados por tensão, empatia e crítica social. Inspirado em fatos reais, o longa acompanha um pai em estado emocional instável que, armado, invade uma clínica médica exigindo ver sua filha — iniciando assim uma jornada de resgate que vai além do físico, alcançando feridas profundas da alma e da sociedade.

Dirigido e protagonizado por Fares Fares, o filme se constrói em tempo quase real, ao longo de um único dia. O protagonista, Artan, um homem divorciado, sente-se injustiçado após perder o contato com a filha em meio a uma disputa judicial com a ex-esposa. Em um surto de frustração e desespero, ele toma a mulher como refém e exige a presença da filha. A situação rapidamente se transforma em uma espécie de road movie policial, acompanhado por um negociador experiente que tenta evitar uma tragédia maior.

A força de Um Dia e Meio está na sua capacidade de gerar empatia mesmo diante de uma situação-limite. Embora o protagonista cometa um crime grave, o filme não o pinta como vilão absoluto, mas como reflexo de uma sociedade onde as instituições nem sempre oferecem respostas humanas às dores familiares. A narrativa apresenta, de forma equilibrada, os sentimentos contraditórios dos personagens, abrindo espaço para compreender suas motivações sem justificar seus atos.

A direção aposta em uma estética sóbria e realista, com uso comedido da trilha sonora e movimentos de câmera discretos, que reforçam o peso dramático das situações. A ambientação rural e o isolamento dos personagens contribuem para a sensação de urgência e claustrofobia, enquanto o roteiro evita maniqueísmos e entrega diálogos carregados de dor, culpa e tentativas de reconciliação.

Um Dia e Meio é, acima de tudo, um drama sobre os limites do ser humano diante da perda e da impotência. Ao retratar a crise de um pai que se sente excluído da própria família, o filme convida à reflexão sobre os efeitos colaterais das disputas familiares, do abandono emocional e das falhas institucionais — temas universais, tratados com honestidade e sensibilidade.

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