Trap está para hip-hop assim como punk está para rock. Ambos são conhecidos pela energia juvenil, muitas vezes desmedida. A principal diferença, no entanto, é justamente a idade. Foi o que ficou evidente nos dias de estreia do The Town 2025, dedicados a esses dois gêneros musicais.

As estrelas mais esperadas no fim de semana foram os rappers Travis Scott e Don Toliver no sábado e os roqueiros Green Day e Iggy Pop no domingo — todos conhecidos por shows explosivos, cada um à sua maneira. No sábado o público foi dominado por adolescentes, muitos com os pais, enquanto o domingo foi o dia de adultos saudosos.

A combinação transformou o Autódromo de Interlagos numa pista de roupas pretas. Na garotada do trap, os trajes novos estampavam os rockstars do momento --os artistas do rap. Na turma do punk, as camisetas eram relíquias de tempos idos que ainda hoje fazem barulho.

Scott, no entanto, foi o menos barulhento entre os grandes. Depois de duas boas passagens pelo Brasil em 2023 e 2024, seu trap de climas constantes deu sinais de cansaço. O show curto e algo monótono contrastou com a apresentação anterior, de Don Toliver, que chegou a ser interrompida quando a multidão se apertou em frente ao palco.

Outro ponto alto de sábado foi o show de Lauryn Hill. A cantora, que também havia tocado no Brasil no ano passado, construiu um novo espetáculo ao lado de seus dois filhos, YG e Zion Marley. O resultado foi um círculo completo do hip-hop, recuperando a força de suas origens na Jamaica aos sucessos incontornáveis na voz da artista, como "Killing Me Softly".

Nomes brasileiros, caso de MC Cabelinho e Matuê, também fizeram shows de destaque. Aquele conquistou pelos seus vários sucessos, enquanto este avançou na estética do trap ao vivo com seu espetáculo - algo esperado para o próprio Scott, aliás. Ainda na ala hip-hop, MC Hariel e Filipe Ret lembraram do cantor Oruam. "Liberdade para Oruam, MC não é bandido", disse Ret sobre o palco.

A chuva fina de sábado não deu as caras no domingo, um dia com ar retrô no festival. O destaque ficou mesmo para Iggy Pop e Green Day. O padrinho do punk voltou ao Brasil após dez anos desde seu último show, e a banda destilou seu pacote de sucessos do punk pop californiano - uma continuidade do que apresentou o Bad Religion, convocados de última hora para o The Town para substituir o Sex Pistols.

Mais cedo, Supla e Os Inocentes cantaram "São Paulo" — um momento divertidamente paulistano para o festival que tenta capturar o espírito da cidade. Os metaleiros do Ready to be Hated convocaram medalhões do gênero, como Marcello Pompeu, vocalista do Korzus.

CPM 22 e Pitty também entregaram boa dose de sucessos dos anos 2000 ao público que foi ao Autódromo, enquanto no Palco Quebrada as bandas Black Pantera e Punho de Mahin, com a MC Taya, incorporavam as atuais gerações do rock nacional - pouco representadas no evento.

Entre trap e punk e uma grande diferença de idade, o The Town também teve momentos que fugiram à regra. O nigeriano Burna Boy entregou um show exemplar da música pop moderna da África e o jazzista Kamasi Washington voltou a executar com destreza seu spiritual jazz em palcos brasileiros.

O The Town continua no próximo final de semana e conta ainda com shows na sexta. Entre os artistas escalados para o evento, os nomes internacionais de destaque são Backstreet Boys, Mariah Carey, Katy Perry e Jessie J.