Teatro

'A Última Sessão de Freud' discute religião, razão e o poder da empatia

Com Odilon Wagner e Claudio Fontana no elenco, espetáculo apresenta um embate imaginário sobre ciência e fé entre o pai da psicanálise e o escritor C. S. Lewis

Por Alex Ferreira
Publicado em 01 de abril de 2022 | 03:00
 
 
 
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É possível a coexistência harmônica entre ciência e religião? Este é o argumento que dá rumo ao espetáculo “A Última Sessão de Freud”, que faz curtíssima temporada nesta sexta (1º de abril) e sábado (2), no palco do Grande Teatro do Sesc Palladium, no centro da cidade. Ambas as sessões estão com entradas esgotadas.

Com direção de Elias Andreato e texto do norte-americano Mark St. Germain, a peça conta a história de um embate fictício entre o psicanalista ateu Sigmund Freud (1856-1939) e o renomado crítico literário e escritor irlandês C.S. Lewis (1898-1963), grande defensor da fé cristã.

O enredo se passa na Inglaterra, no ano de 1939, dentro do consultório do pai da psicanálise, que vira palco para uma disputa intelectual acirrada entre Freud, representado por Odilon Wagner, e Lewis, interpretado pelo ator Claudio Fontana. Na trama, os pensadores convergem sobre a possibilidade da existência de Deus, mas o entrechoque verbal acaba se estendendo por outros terrenos relevantes do comportamento humano, como a guerra, o sexo e o medo da morte.

A montagem propõe um exercício intelectual a respeito da importância do equilíbrio quando se discutem temas muitas vezes dominados pela intolerância e pela polêmica.

“Desde que li o texto pela primeira vez, me apaixonei por ele, pois, além de unir esses dois gênios numa conversa profunda, o autor o faz de uma maneira absolutamente simples, compreensível para qualquer pessoa, conhecendo ou não a obra de Freud ou de Lewis”, explica Wagner, que se diz privilegiado por assumir o papel de alguém tão carismático e grandioso quanto Freud.

O ator ressalta que, apesar do teor erudito, os argumentos são abordados de maneira acessível e despretensiosa, e o texto se mantém o mais próximo possível da verdade histórica.

“‘A Última Sessão de Freud’ é absolutamente realista, nos tempos, no cenário (que reproduz o gabinete onde Freud desenvolvia sua psicanálise, mesmo exilado na Inglaterra) e no tempo histórico também. Tudo se passa no dia que a Inglaterra declara guerra à Alemanha nazista. E é nesse contexto que Freud chama Lewis para uma conversa, pois o irlandês tinha lançado um livro criticando e ridicularizando o pai da psicanálise”, revela Wagner, acrescentando que Lewis era um ex-ateu, que se convertera ao cristianismo, tornando-se um dos mais aguerridos defensores da fé raciocinada.

“Freud não conseguia entender isso. Daí segue uma série de questionamentos entre eles, algumas vezes ferozes, outras vezes irônicos e engraçados, mas sempre respeitosos”, complementa.

Um conflito sem vitoriosos

Mesmo com dois pesos-pesados do pensamento moderno em cena, o espetáculo não aponta um vencedor para esse embate cerebral. 

“Esta é a melhor parte, pois não existem vencedores. São apenas visões diferentes do mundo. O que fica presente é a importância da escuta, do diálogo, do respeito, mesmo sendo esses dois personagens absolutamente contrários um ao outro”, diz.

Para o ator, a mensagem principal é conseguir mostrar que a empatia pode ser o antídoto ideal contra a intolerância.

“Essa mensagem é muito importante, principalmente nos dias atuais, quando tudo parece ter apenas dois lados em qualquer disputa. Creio que é o que mais precisamos neste momento: ser mais empáticos, mais compassivos; ou seja, mais humanos. E essa montagem nos faz refletir sobre isso”, ensina.

Wagner opina que Mark St. Germain, autor da peça, foi muito inteligente ao usar Freud e Lewis – personalidades tão diferentes em seus posicionamentos sobre vida, religião, sexualidade – para deixar claro que não há como estabelecer o que é certo ou errado em questões tão profundas. “Nossa existência não é tão simples assim. Não é tudo branco e preto, mas sim multicolorido. E esta é a maior beleza de todas”, finaliza. 

 

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