Se a aclamação deu a tônica na trajetória do Sepultura, críticas também pontuaram esse caminho pedregoso. Para chegar lá, Andreas Kisser afirma que a determinação foi o principal trunfo do conjunto. Ele relembra o primeiro contrato internacional com a gravadora norte-americana Roadrunner, em 1989, feito até então inédito para uma banda brasileira de heavy metal. “Era o que a gente queria, tivemos foco para lutar por um sonho que, na época, parecia impossível”. A escolha pelo idioma inglês, que pontuou as restrições de setores da mídia, é defendida com unhas e dentes.
Andreas cita grupos de outros países, como Scorpions, da Alemanha; e Loudness, do Japão, que adotaram o mesmo procedimento, para provar seu ponto. “Era uma influência que a gente tinha e a língua inglesa abria portas. Foi algo natural, mas sempre falamos das coisas do Brasil”, diz o guitarrista, que destaca trabalhos com viola caipira e referenciais da música sertaneja, além da faixa “Manifest”, denúncia ao massacre na penitenciária do Carandiru, que culminou com a morte de 111 detentos, “mostrando a brasilidade da música pesada”, e, ainda, a parceria com Carlinhos Brown, que “trouxe a influência dos escravos”.
Outro marco foi o álbum “Roots”, de 1996, fortemente marcado por uma percussão tribal, com a presença de indígenas xavantes do Mato Grosso. “Os xavantes não falavam português, e aí? Vai dizer que somos mais brasileiros que eles? As pessoas se esquecem que o português é um idioma importado da Europa. Essa é uma discussão vazia, ser brasileiro vai além do idioma, tem a ver com uma série de responsabilidades como cidadão, que, inclusive, paga impostos”, rebate Andreas, que prossegue com mais veemência.
“É uma imbecilidade, um conservadorismo burro. O Brasil, como os Estados Unidos, sempre teve essa cultura da absorção. A música é muito mais poderosa do que essa questão da língua. Cada um fala o que quiser. Se não gosta, o problema é dessa pessoa. Quem mantém a banda são os fãs. E, contra isso, não há argumento”, finaliza.