Animação “Patos!” mostra que a vida é feita de desafios

Com “Patos!”, em cartaz nos cinemas, a produtora Ilumination põe uma cabeça à frente na corrida com a Disney em matéria de qualidade e inovação no campo da animação – o último trabalho memorável da casa de Mickey Mouse foi “Soul”, lançado em 2020.

A criadora da franquia de “Meu Malvado Favorito” explora de maneira bem-sucedida o já gasto universo animal, avançando muitos passos na questão técnica e oferecendo um conteúdo que nos remete aos melhores filmes da Pixar, ao apostar na dobradinha diversão e profundidade.

Um tema tão simples como a migração de aves ganha várias camadas, que vão desde a educação dos filhos, o medo de sair da zona de conforto e o preconceito (etarismo e diferenças sociais) até a maneira como mostra os humanos – são pouquíssimos e nada confiáveis.

Uma das muitas qualidades dos filmes da Ilumination é admitir que o mal existe. Não desejam passar a ideia de que pode ser eliminado em função da felicidade plena, mas sim saber conviver com ele. Esse pensamento está bem ilustrado no personagem do pato Mack, patriarca dos Lospatos.

Ele tem muito medo do desconhecido e, ao aceitar sair do laguinho onde vive com a esposa, dois filhos e um tio, encontra muitas dificuldades para cumprir a viagem rumo à Jamaica. Com isso, a narrativa quer mostrar que nossa vida é feita de desafios constantes, o que nos faz seguir adiante.

Essa travessia cheia de aventuras e lições tem ingredientes próximos às animações da Pixar, como a família de “Os Incríveis” (também são cinco), em que cada integrante tem personalidade bem definida, o pai demasiado protetor de “Procurando Nemo” e a necessidade de sair do comodismo (“Wall-E”).

Interessante observar que todas as aves possuem boa índole,diferentemente dos humanos. Estes aparecem em pequeno número e não falam. Suas intenções são todas elas transformadas em ações. E chama a atenção a silhueta disforme do Chef, maior obstáculo à viagem dos Lospatos.

Na parte animada propriamente dita, “Patos!” traz cenas exuberantes de voos dos pássaros, como se juntássemos a eles (a opção 3D é a ideal), especialmente quando alcançam o céu pela primeira vez e numa sequência “sem cortes” quando chegam em Nova York.

Além de doses de emotividade a partir da própria relação familiar, o humor também está garantido. O ponto alto é quando os patos são recebidos por garças aparentemente maliciosas, criando uma atmosfera de filme de terror. Sem falar nas tiradas do tio idoso (excepcionalmente dublado por Ary Fontoura.