Literatura e cinema

‘Apaixonada’: livro de autora belo-horizontina vira filme com Giovanna Antonelli

Adaptação de ‘Apaixonada aos 40’, de Cris Souza Fontês, chega aos cinemas na véspera do Dia Internacional das Mulheres

Por Alex Bessas
Publicado em 06 de março de 2024 | 06:30
 
 
 
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“Amor é privilégio de maduros”, crava Carlos Drummond de Andrade logo no primeiro verso de “Amor e seu Tempo”, publicado no volume “As impurezas do branco”, de 1973. O poema, aliás, é mais um a explicitar a convicção do itabirano de que a maturidade faz bem ao romance. Uma certeza posta ainda mais em evidência na última estrofe da mesma composição: “Amor é o que se aprende no limite/ depois de se arquivar toda a ciência/ herdada, ouvida. Amor começa tarde”.

Quem parece, em alguma medida, concordar com o poeta é a escritora independente Cris Souza Fontês, autora do livro “Apaixonada aos 40”, que, lançado em 2018, acaba de ganhar uma adaptação para o cinema, estreando nas telonas nesta quinta-feira (7), véspera do Dia Internacional das Mulheres, com o título “Apaixonada”. Na trama, a personagem Beatriz – uma mulher de 40 anos, que no cinema é interpretada por Giovanna Antonelli – vive uma espécie de travessia após se ver abandonada pelo marido e longe da filha, quando vai se reconectar consigo mesma, retomar o gosto pela vida e voltar a se abrir para o amor.

“Antes de escrever o ‘Apaixonada aos 40’, eu escrevia para sites de assuntos comportamentais e, devido aos temas que eu abordava, muitas mulheres me procuravam nas redes sociais para contar sobre suas dores e problemas. Então pensei: ‘Meu Deus, essas mulheres estão precisando tanto de amor-próprio!’”, detalha a belo-horizontina. “Foi aí que a Bia nasceu. Uma mulher com a idade que eu tinha na época, 40 anos, vivendo as neuras e dilemas da nova fase, sendo capaz de recomeçar, de se reconstruir após uma vida inteira”, detalha a autora, refletindo que a personagem se tornou um pouco de cada mulher – “todas que leem o livro comentam que possuem um pouco dela, que se identificam com a sua dor, seus sentimentos, medos e dilemas”, conta.

Entre essas leitoras identificadas com Bia está Giovanna Antonelli, que devorou o título em apenas um dia e se movimentou para que a adaptação para o cinema fosse possível. É o que revela Cris, lembrando que, no primeiro momento, quem entrou em contato com e falou da possibilidade de fazer o livro virar filme foi Patrícia Chamon, uma produtora do Rio de Janeiro. “De início, nem acreditei muito, achei que poderia ser alguma estudante de cinema interessada em fazer uma experiência e tudo bem! Mandei um exemplar para que ela lesse e em seguida ela voltou a entrar em contato e fechamos contrato”, detalha. 

A escritora Cris Souza Fontês, autora do livro 'Apaixonada aos 40'
A escritora Cris Souza Fontês, autora do livro 'Apaixonada aos 40'

“Meses depois, em uma reunião com roteiristas, produção, diretora e a Giovanna, tive a oportunidade de conhecer a atriz e saber que havia sido ela que recebeu o meu livro (que eu havia enviado há um tempo) lido ele todo em apenas um dia e que tinha gostado tanto que fez todo um movimento para que ele se tornasse um filme, passando por um amigo produtor dela, depois pela diretora Natália Warth, por outros, até chegar na Patrícia e ela me contactar”, recorda ela, que prossegue rasgando elogios à artista: “É uma mulher maravilhosa, simples, forte, espontânea e me apaixonei por ela de primeira. Não consegui mais imaginar outra pessoa para interpretar a minha Beatriz que não ela, que representa tantas mulheres”.

Autora acompanhou processo de adaptação

A escritora independente Cris Souza Fontês, fundadora da editora Arte Impressa, anima-se ao dizer que pôde participar de todo o processo de adaptação da obra, mesmo que não pudesse interferir muito nas escolhas cinematográficas. “Eu acompanhei tudo, desde o início. O argumento para o filme, os roteiros e até fizemos reuniões para conversar um pouco mais sobre as personagens. No entanto, muitas mudanças que ocorrem nas adaptações eu não tive como dar tantos ‘pitacos’ quanto eu gostaria, até porque eu entendo que para o audiovisual muita coisa precisaria mesmo ser alterada”, explica, mostrando-se grata pela oportunidade de viver tal experiência. Sentimento que, aliás, fica ainda mais evidente quando Cris fala sobre as emoções vividas ao ver o filme pronto na sessão de pré-estreia, que aconteceu no fim de fevereiro, em São Paulo.

“Foi imensamente gratificante”, resume Cris, que imediatamente prossegue com mais detalhes: “Foi uma espera longa. O livro foi publicado em 2018 e os seus direitos vendidos no final de 2019, mas devido à Covid-19 o projeto ficou parado e retornou praticamente em 2022 saindo agora, em 2024, para os cinemas. Um longo tempo com muitas expectativas! Na pré-estreia pude conhecer parte do elenco e sentir um pouco a troca, o calor que o filme proporcionará às pessoas e, principalmente, as mulheres que estavam de batom e unhas vermelhas, me mostrando, todas animadas, dizendo que irão assim para os cinemas. Aquilo me emocionou muito e fiquei me perguntando: ‘Quando é que uma autora independente, pouco conhecida, teria uma oportunidade dessa?’ É a realização de um sonho, a certeza de que as coisas que escrevo, as histórias que crio, tomarão uma forma muito maior e alcançarão muito mais pessoas”, relata.

Versões de uma mesma história

Sobre as diferenças entre a obra literária e a cinematográfica, Cris Souza Fontês avalia que, talvez, o filme soe mais divertido do que dramático. “Mas acredito que isso vai depender de cada pessoa que assistir e de como ela receberá a proposta oferecida. Eu confesso que, realmente, adoraria que pelo menos algumas pessoas saíssem do cinema renovadas e com uma nova coragem para enfrentar desafios e mudar o que tiver de mudar em sua própria vida. Esse é o propósito do livro ‘Apaixonada aos 40’ e também do filme ‘Apaixonada’”, assinala.

Por fim, a autora não esconde a expectativa de que a produção possa aumentar o interesse do grande público e levar mais pessoas a conhecer o seu trabalho literário. “Acredito que só o fato de a Giovanna Antonelli ser a atriz principal já dá uma força maior ao filme, já que ela é uma profissional adorada por todos e tudo o que ela faz é majestoso”, elogia. “Quanto ao meu livro, creio que possa aumentar sim o interesse das pessoas (e eu torço muito por isso!), uma vez que desperta uma curiosidade para ver como é a versão daquela história no livro, sabe? Até porque as adaptações são praticamente um resumão de um livro, ficando sempre muita parte boa e interessante de fora que não cabem em 90 minutos de filme”, constata.

“Espero mesmo que os meus outros livros também sejam procurados, conhecidos, pois gosto do que faço, da forma como escrevo, dos temas que abordo de forma leve e cotidiana e creio que as pessoas irão gostar também”, finaliza.

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