Artes visuais

Artista carioca Maria Palmeiro faz sua primeira individual em BH

Em Ludíbrio, ela apresenta nove séries, sendo uma delas batizada de Belo Horizonte

Por Patrícia Cassese
Publicado em 22 de novembro de 2022 | 19:03
 
 
 
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A artista plástica Maria Palmeiro estabeleceu de forma orgânica uma forte conexão com a capital mineira. "Na verdade, a minha relação com a cidade me intriga mesmo, porque ela se deu a partir de afetos, e tem muito a ver com a minha decisão de ser artista", diz ela, ao Magazine, lembrando que a primeira vez que esteve por aqui foi para conhecer a família de um namorado, cujos pais são artistas. "A mãe dele foi a primeira pessoa que falou que eu era artista", rememora ela, acrescentando que, desde então, voltou muitas vezes. "Tenho interlocução com vários artistas daqui. O espaço da Nydia Negromonte e do Marcelo Drummond, por exemplo, faz parte dessa história". 

"Ludíbrio", o nome da mostra que está em cartaz na Casa GAL, apresenta nove séries, sendo uma delas batizada de "Belo Horizonte". "Essa série começa com a pintura de horizontes, de paisagens. Antes de ter esse nome, a série era feita de linhas de uma pintura, de uma marina de Pancetti (Giuseppe "José" Pancetti, 1902-1958), Eu tenho uma relação forte com a paisagem litorânea, cresci numa espécie de balneário no Rio, então, as paisagens do Pancetti são muito familiares pra mim. No caso das minhas obras, são perspectivas verticais, sem horizonte algum. Mas essa falta de horizonte gera uma vertigem, afinal, o horizonte é aquele lugar no qual você sabe qual é a sua meta, onde quer chegar. Por isso a chamei de Belo Horizonte, tanto por essa conversa do horizonte da pintura quanto pelo fato de Belo Horizonte estar sendo um lugar de desejo, eu estou sempre indo atrás de BH, e acho que isso tem a ver com a minha relação com a arte".

Curador da exposição, Lucas Vasconcellos lembra, em seu texto de apresentação da iniciativa, que, derivada do verbete "ludus", plural de "ludi" em latim, a palavra ludibrium, em sua etimologia, remete ao ato de brincar, àquilo que é objeto de diversão e, ao mesmo tempo, de ironia. "Nesta exposição, a produção artística de Maria Palmeiro nos anuncia diferentes variações estéticas acerca da ilusão ótica de imagens ludibriadas. Uma proposta curatorial que enreda a experiência ilusória da visão humana por um conjunto de obras produzidas por Maria entre 2018 e 2022 cujos sentidos nos revelam alternâncias dicotômicas entre o objeto e a coisa", assinala ele.

Entre as outras séries, há uma que se constitui de desenhos de quarentena. "Acho que o título é pelo fato de serem grafias de movimento, e grafia de movimento significa também grafia de tempo e espaço. A pandemia foi um momento que a gente viveu uma experiência diferente de tempo, espaço, deslocamento, então, é  uma série que quem olha é que vai atribuir o ritmo e velocidade daquele deslocomento. Tem movimentos pendulares, quedas, tem essa influência da esfera, da esfera que se desloca, que transiciona". E transicionar, adiciona ela, é uma questão importante para o seu trabalho. "È uma pergunta que eu me faço sobre isso, passar de uma fase para outra, na vida, por exemplo, passar de um estado de não conhecimento para um estado de conhecimento, para um sujeito que se transforma. Então, o lugar também da transição. Do objeto de arte na transição, na transformação de si".

Maria Palmério diz que seu trabalho se dá muito por procedimentos, gestos, formas e ações que repete. É um trabalho que se dá muito por repetição, e que desconfia da repetição. O quanto ela é só uma repetição, que não gera nada novo, e quando é apenas uma estrutura para surgir algo novo".

Solicitada a falar de outros trabalhos, ela cita um da série Varas, que se chama "Conduta Contínua". "É uma série de miçangas que faz um padrão espiralar e contínuo, e elas vão, digamos, alternando de cores e padrões cromáticos, em sequências. Essa é a ideia, tanto da conduta de uma ação que gera uma forma e uma conduta que gera valor".

A artista fala, ainda, deum par de fotografias que se chama "Jogo de Espelhos", que são dois momentos de um trabalho. "Na exposição, esse trabalho está em um outro momento, e é uma tela de pintura, perfurada, no chão, com vários objetos. Essa é a que eu chamo 'Jogar com o Eco', e coloca essa questão do jogo como ocupação do tempo, ocupação do espaço. Esses objetos estão um pouco como um tabuleiro, e, no momento seguinte, essa mesma foto, ela tem as quatro faces desse tecido espelhadas, criando uma superfície ilusória e contínua".

Esse par, contextualiza, reflete um pouco essa ambiguidade que ela entende ser o principal fio condutor da exposição, que é uma ideia de ilusão. "De um lado, esse jogo que é parte da prática artística, que é uma ação que precisa ser feita, é um modo de estar na vida, e do outro, é como se isso fosse uma espécie de jogo de espelhos, que te aprisionasse, assim, numa série de ações que são uma ilusão. Não uma ilusão que produz imaginação. Bom, é essa ambiguidade, ilusão que produz uma invenção e criação e a ilusão que é um engano, e acho que é isso que reúne os trabalhos aqui".

Sobre Maria Palmeiro

A artista vive e trabalha no Rio de Janeiro. Doutoranda no Programa de Estudos Contemporâneos das Artes da UFF e mestre pelo Programa de Pós-graduação em Artes da Cena pela ECO-UFRJ. Artista e pesquisadora, investiga e produz o entrelaçamento entre pensamento, escrita e prática através de objetos, pinturas, performances, e narrativas.

Maria participa regularmente de mostras coletivas e expôs individualmente no Rio (A obra está, 2014 e Pintura crônica, 2018) e na Argentina (Rol, 2018). Escreve textos sobre artes que estão publicados em revistas acadêmicas como Cosmos e contexto, revista A!, revista ensaia (Uni-Rio) e Lamparina (UFMG) e poesia, publicada na revista Garupa. Realizou residências artísticas em Barcelona (CanSerrat, 2017), Belo Horizonte (Espai,2018), São Paulo (Faap, 2019) e Rio de Janeiro (Refresco, 2020), e Silo (2021).

Serviço

Maria Palmeiro - Exposição Individual

Casa Gal (Groelândia, 50 - Sion). terça a sexta: 14 - 18h | sábado: 10 - 14h

Até 4 de fevereiro de 2023

Informações: (31) 99370-8998 | info@gal.art.br

 

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