CINEMA

Atriz e diretora Grace Passô vive o melhor momento da carreira em 2023

Artista mineira acaba de rodar o longa Amores 1.500, adaptação para cinema da peça Amores Surdos

Por Paulo Henrique Silva
Publicado em 27 de dezembro de 2023 | 07:00
 
 
 
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Dois mil e vinte e três foi muito significativo para Grace Passô. No ano em que  a premiada atriz, dramaturga e diretora mineira  completou três décadas de teatro, iniciada em 1993, aos 13 anos, ela alargou a sua experiência artística em direção a outras linguagens, consolidando uma trajetória igualmente vitoriosa no cinema e na televisão.

“Foi um ano importante porque tive trabalhos com muita visibilidade, tanto no teatro, na TV e no cinema. E em funções muito diferentes”, comemora Grace, que, no dia da entrevista ao jornal O TEMPO, tinha acabado de voltar de Brasília, onde ganhou o Candango de melhor atriz pelo filme “O Dia que Te Conheci”, de André Novais de Oliveira.

O prêmio  (também ganhou no Festival do Rio, em outubro) representa a cereja no bolo de um ano que começou no teatro, ao dirigir “Herança”,  peça que comemorou os 50 anos das artes de Maurício Tizumba. Ela ainda  assinou duas séries como roteirista, “Histórias (Im) possíveis” e “Resistência”, além de atuar em “Reencarne”, todas para a Globo.

O ano também marca a realização do primeiro longa-metragem como diretora, “Amores 1.500”, dentro de um processo  que ela define como uma “reescritura” de seus textos teatrais para o cinema. Uma experiência que começou com o média “Vaga Carne”, em 2019,  e agora ganha uma segunda investida, com a transposição de “Amores Surdos”.

“É uma adaptação, uma reescritura, da primeira peça que eu escrevi – na época, para o grupo Espanca!, em Belo Horizonte. Fiz (o roteiro) sozinha, porque foi um trabalho muito importante para mim. Com isso, eu venho reescrevendo, no audiovisual, o que eu fiz no teatro”, assinala a artista, que construiu a carreira em BH, mas hoje mora em São Paulo.

Ela lembra que começou a trabalhar com cinema em 2016 mais efetivamente e que logo se sentiu atraída por essa linguagem. “Ela faz parte hoje da minha vida artística. Então me interessa trabalhar com materiais íntimos. E o que fiz para o teatro representa o meu pensamento na arte. Naturalmente, o que eu fiz em um, quero fazer no outro também”.

No caso específico de “Amores 1.500”, o filme também representou uma maneira de repensar a história, imaginando outras possibilidades para o que foi levado aos palcos em 2005. “É a possibilidade de conectá-la ao que eu sou hoje. O fato de ser outra linguagem modifica a história completamente”, observa Grace.

O resultado dessa transposição traz novos personagens, além de uma trama atravessada por várias outras. “De fato, é uma nova escritura. Nesse projeto agora existem alguns pensamentos mais explícitos em relação, por exemplo, à negritude brasileira. Para mim, não chega a ser um avanço (da história), mas um novo momento da criação”, afirma.

O filme narra o cotidiano de uma família negra que, para suportar o luto recente do pai, recusa-se a falar sobre sua ausência. À medida que o silêncio aumenta, estranhas manchas de lama surgem pela casa. Os membros da família desta história representam as gerações da formação da negritude no Brasil. No elenco estão Mateus Aleluia, Ju Colombo e Robert Frank.

A aproximação com o cinema, lembra Grace, ganhou um tônus devido à pandemia. Foi nessa época, por exemplo, que ela realizou o curta-metragem “República” (2020), sobre um xamã que descobre que o Brasil é um sonho. “O teatro teve que conversar através de um universo audiovisual, aproximando-se mais dessa linguagem”, registra.

História real motiva criação da peça e do filme

A questão da ausência paterna, principal mote de “Amores 1.500”, é marcante na história de Grace Passô, que perdeu o pai cedo,  quando ainda era recém-nascida. Uma situação que levou a família a se reinventar, após passar por dificuldades financeiras. Foi quando  teve que se mudar de Pirapora, na região Norte do Estado, para Belo Horizonte.

“Quando um artista aborda uma família, evidentemente há uma inspiração e uma relação com as nossas próprias famílias”, admite. O desafio maior, segundo ela, foi a estrutura que um longa exige, especialmente narrativa. “É uma experiência nova, em que fico muito feliz de acontecer dentro de um universo tão íntimo”, analisa.

Em relação à peça, a história ganha um maior realismo, além de elementos do gênero de suspense. “O gênero vai sendo tecido a partir da dificuldade de a família falar sobre um assunto, até que esse problema é revelado. Como todas as famílias, eles têm os seus problemas internos. A história é sobre o que não se consegue falar dentro do afeto familiar”.

Apesar de uma longa carreira no meio teatral, o cinema ainda é algo novo na trajetória de Grace. Em sete anos, ela foi da atuação para a direção. “Eu já tinha feito algumas participações em cinema, mas foi a partir de 2016 – com ‘Praça Paris’, de Lucia Murat, que eu comecei mesmo a atuar. Depois fiz ‘No Coração do Mundo’, ‘Temporada’ e não parei m ais”.

No caso da direção, Grace conta que suas referências vêm de vários lugares, entre eles o trabalho com a produtora mineira Filmes de Plástico, o diretor Ricardo Alves Jr. e s a fotógrafa Wilssa Esser. “São pessoas e coletivos que surgem como referências de trabalho, mas sobretudo é o teatro que me dá repertório para eu poder começar a dirigir no cinema”, destaca.

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