AcessibiliBAR

Cadeirante cria projeto que certifica bares acessíveis em Belo Horizonte

Para comemorar o primeiro mês da iniciativa, Aline organizou o primeiro rolê do AcessibiliBAR, que será realizado, neste domingo (3), no Churras

Por Laura Maria
Publicado em 01 de março de 2024 | 14:07
 
 
 
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Aline Castro, de 30 anos, ama curtir a cidade. Sempre quando pode, ela reúne os amigos e a família para conhecer os diversos cantos de Belo Horizonte, inclusive os bares e restaurantes da capital dos botecos. Mas não foram raras as vezes que ela encontrou dificuldade em acessar esses locais. Cadeirante, Aline já precisou voltar para a casa ao se deparar somente com escadas. “Ser carregada, por mais que as pessoas se ofereçam a ajudar, é muito desconfortável, e a minha cadeira já teve algumas danificações por conta disso”, relembra. 

Mas ela não apenas guardou para si esse incômodo. Então, criou o AcessibiliBAR, projeto que certifica bares e restaurantes que oferece recursos acessíveis para os seus clientes. A ideia não é “fiscalizar” os estabelecimentos, mas provocar neles a conscientização sobre a importância dessa iniciativa. “Eu sou um projeto de conscientização, justamente para mostrar: ‘olha, o público PCD quer sair de casa.’ O público PCD participa do giro financeiro da nossa cidade, a gente só precisa de ter locais que nós possamos ir e frequentar com dignidade. Então, o Acessibilidade Bar veio para criar essa conscientização sobre a necessidade de ter ambientes que recebam todos os tipos de público, uma vez que BH é reconhecida oficialmente como a cidade dos bares e restaurantes”, pontua Aline. 

No processo de certificação dos bares, ela considera alguns critérios, como acesso de entrada, se possui rampa ou elevador; se o banheiro é acessível e se o bar tem cadeiras e mesas altas. “Tenho notado que em BH há uma tendência de os bares terem banquetas muito altas, mas como idosos, crianças ou PCD vão se sentar? Um cadeirante quase passa por debaixo desta mesa. Então, sempre avalio se está na altura padrão”, diz Aline. Na análise dela, também estão cardápios digitais e equipe acolhedora. “Para pessoas com deficiência visual, por exemplo, é importante ter o cardápio digital, porque o celular dessas pessoas consegue lê-lo”, explica.

Após esse trabalho, Aline faz um vídeo de divulgação do estabelecimento para ser postado em seu perfil no Instagram e entrega um selo para o restaurante ou bar aprovado. Os estabelecimentos que desejam o certificado devem entrar em contato com Aline pelo perfil do projeto no Instagram:

Até o momento, o projeto, que começou há cerca de um mês, já certificou 40 estabelecimentos. “Há estabelecimentos que também me procuram, dizendo: ‘depois que vi o Acessibilibar, percebi que o meu ambiente precisa de adequações para ser um ambiente apto a receber a todos. Então, você pode vir aqui me ajudar em relação a isso?’. As pessoas mostram que realmente elas precisam entender mais deste assunto. Isso é muito gratificante, porque todos eles falam, ‘muito obrigada pelas dicas, eu não sabia que precisava dessas adequações, e daqui a alguns meses, quando nossa reforma já estiver pronta, a gente vai te chamar para você avaliar novamente e aí entregar esse selo de acessibilidade para a gente’”, aponta.

Churrasco de comemoração

Para comemorar o primeiro mês de projeto, Aline organizou o primeiro rolê do  AcessibiliBAR, que será realizado, neste domingo (3), no Churras, uma churrascaria certificada pelo AcessibiliBAR, que possui um espaço bastante amplo, banheiro acessível, trocador infantil, espaço kids, comanda individual e música ao vivo. “É um momento para todo mundo se conhecer, se reunir, curtir o momento em um estabelecimento com acessibilidade. É uma churrascaria excelente, muito ampla, plana, tem banheiro acessível contra o calor, tem espaço kids, tem as mesas e banquetas da altura padrão, tem o cardápio digital, inclusive os pedidos podem ser feitos por meio de um tablet”, reforça. A entrada é gratuita, mas os ingressos devem ser retirados pelo link.

Retorno positivo

Aline conta que tem recebido diversos relatos positivos vindos de pessoas PCD. “Isso me deixa muito feliz e faz sentido comandar todo esse trabalho, que não é só meu, mas também do meu irmão, que também é cadeirante, e da minha mãe. As pessoas com deficiência agradecem o tempo todo por ter alguém dando voz a elas também, por mostrar quais ambientes elas podem frequentar com tranquilidade, com indignidade, com autonomia e com segurança”, comemora. 

“Atualmente, nós somos cerca de 120 mil pessoas com deficiência em Belo Horizonte. E quando eu falo de lazer, eu estou falando de um direito constitucional. Eu estou falando de um direito que visa a garantia, qualidade de vida e o desenvolvimento pessoal e social dos cidadãos. Além disso, de ser um direito constitucional, a gente tem diversas evidências científicas do lazer atrelado ao aumento da expectativa de vida, do lazer como fator de proteção à saúde mental, do lazer enquanto beneficiário no desenvolvimento cognitivo, no desenvolvimento social e pessoal. Então, assim, não é muito mais do que simplesmente sentar no bar e beber uma cerveja, né? A gente está falando de direito, a gente está falando de benefícios em relação à nossa saúde”, finaliza. 

Muitas pessoas com deficiência através desse projeto e isso me deixa muito feliz porque isso gera um sentimento de pertencimento, isso gera um sentimento de que, olha, a gente não tá sozinha nessa luta, então assim, tem sido muito gostoso, embora exaustivo esse trabalho, né, que nós somos três na equipe e a gente que faz tudo, desde o contato com o estabelecimento, a visitação, a filmagem, edição de vídeo, narração, publicação, enfim, somos nós que fazemos esse projeto, ainda sem nenhum apoio, ainda sem nenhum antecinador, mas tem sido gratificante demais porque eu sei que eu tô sendo vó de outras pessoas com deficiência e que eu sei que eu tô sendo uma facilitadora de vida dessa. Pessoas.

 
 

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