Música

Cantora Maria Creuza completa 80 anos; Relembre os maiores sucessos da baiana

Casada com Antônio Carlos, da dupla com Jocafi, ela lançou o hit “Você Abusou e conquistou Vinicius de Moraes, excursionando com o Poetinha pela América do Sul

Por Raphael Vidigal Aroeira
Publicado em 26 de fevereiro de 2024 | 20:20
 
 
 
normal

Maria Creuza era ainda uma adolescente quando recebeu a primeira oportunidade numa rádio da Bahia, onde nasceu, há 80 anos, mais especificamente na litorânea Esplanada. O sucesso imediato a tornou uma estrela na capital Salvador, onde comandou o programa “Encontro com Maria Creuza”, na TV Itapoã.

No início, gravou somente músicas em inglês, até ser descoberta por Antônio Carlos, famoso compositor da dupla com Jocafi, com quem se casou. O matrimônio rendeu hits radiofônicos, como “Você Abusou” e “Otália da Bahia”, na década de 1970. 

Antes, Maria Creuza conquistou a simpatia do poeta Vinicius de Moraes, e excursionou com ele e Toquinho pela América do Sul, interpretando clássicos da estirpe de “Eu Sei Que Vou Te Amar”, “Garota de Ipanema”, “Minha Namorada” e “Onde Anda Você”, esta última feita especificamente para sua voz.

Praticamente desconhecida nos dias de hoje, pouco lembrada mesmo no dia de seu aniversário, Maria Creuza, que atualmente vive na Argentina, foi uma das mais talentosas cantoras da MPB. Seu último álbum lançado é de 2007. Mas a força de suas canções segue ecoando. 

“Eu Sei Que Vou Te Amar” (samba-canção, 1959) – Tom Jobim e Vinicius de Moraes

Considerada ainda hoje, com justiça, uma das mais românticas canções do repertório nacional, “Eu Sei Que Vou Te Amar” costuma embalar pombinhos apaixonados de todas as gerações. Composta pela dupla Vinicius de Moraes e Tom Jobim, a música foi lançada pela cantora lírica Lenita Bruno, em 1959. No mesmo ano, recebeu outras regravações, sendo a mais destacada delas a da intérprete paulista Elza Laranjeira.

Os versos de Vinicius ganharam a adesão de uma declamação feita por ele próprio do “Soneto de Fidelidade”, mais conhecido pelo afamado verso “que seja infinito enquanto dure”, numa gravação feita por Maria Creuza em 1972, com o acompanhamento do violão de Toquinho. “Eu sei que vou te amar/ Por toda a minha vida, eu vou te amar/ Em cada despedida…”.

“Tortura de Amor” (bolero, 1962) – Waldick Soriano

Uma das músicas que se impregnaram ao repertório de Waldick Soriano é o bolero “Tortura de Amor”, lançado pelo compositor em 1962. Com seu estilo conhecido, o cantor apresenta as nuances de um amor sofrido, daqueles condenados ao fracasso. Toda a passionalidade transparece nos versos “volta meu amor/ fica comigo/ não me desprezes/ a noite é nossa/ e o meu amor pertence a ti”. Junto à voz poderosa do intérprete, a melodia contundente ajuda a explicar o sucesso dessa canção de dor-de-cotovelo. Em 1977, Maria Creuza realizou uma das mais belas regravações da música, reavivando a sua chama.

“Minha Namorada” (bossa nova, 1965) – Vinicius de Moraes e Carlos Lyra

Considerada por Elis Regina “a maior cantada da música brasileira”, a composição de Vinicius de Moraes e Carlos Lyra faz jus ao entendimento da cantora, que assistiu ao registro feito por Jair Rodrigues durante o programa “O Fino da Bossa”, apresentado pela dupla na rede Record nos anos 1960. “Se você quer ser minha namorada/ah, que linda namorada/você poderia ser/ (…) e também de não perder esse jeitinho/de falar devagarinho/essas histórias de você”. E a música foi regravada, com êxito, por Maria Creuza, Maria Bethânia e Mart’nália.

“De Onde Vens?” (samba, 1967) – Nelson Motta e Dori Caymmi

Lançada por Nara Leão, a música “De Onde Vens” foi regravada por Elis Regina, Maria Creuza, Elizeth Cardoso, Tito Madi, Alcione, Fernanda Takai, dentre outros. Daí já se apreende a sua grandiosidade. Parceria de Nelson Motta e Dori Caymmi, essa samba de 1967 veio ao mundo no LP de Nara que trazia a sua caricatura na capa, ao estilo de Modigliani, com os olhos vazios e o perfil esguio, em um desenho do habilidoso Lan.

Na faixa, comparecia a voz de Edu Lobo, realizando o contraponto do diálogo, em uma participação especial. Seguindo os princípios ensinados por Vinicius de Moraes, a letra de Nelson Motta não titubeava em abraçar o sofrimento conjugal. “Dor de amor quando não passa/ É porque o amor valeu”, sentenciava. A canção se tornou clássica.

“Você Abusou” (samba, 1971) – Antônio Carlos e Jocafi

Maria Creuza conheceu Antônio Carlos na Bahia, e, com ele, estabeleceu um casamento que ultrapassou as convicções musicais. Os dois tiveram três filhos e vários sucessos nas rádios do Brasil e do mundo, principalmente depois que migraram para o Rio de Janeiro. O primeiro grande êxito foi “Você Abusou”, que Antônio Carlos compôs com Jocafi em 1971. O canto de Maria Creuza explicitava a beleza da composição, que se esvaía de aspirações intelectuais. Ia direto ao coração. Eis um sucesso atemporal…

“Pouco Importa” (samba-canção, 1975) – Cartola 

Maria Creuza sussurra a poesia derramada do samba-canção “Pouco Importa”, do mestre da Estação Primeira de Mangueira, o inesquecível compositor Cartola. Após a indiferença dos primeiros versos, surge a consagração erguida de um coração que superou ferimentos mesquinhos: “O ciúme e o desprezo são armas de dois gumes/ Quanto mais se digladiam/ Aumentam os queixumes/ Felizmente eu sou dotada de resignação/ Para não ferir meu coração”. Com o encerramento de um maravilhoso solo de saxofone, a música é, sem sombra de dúvida, uma das mais comoventes da MPB…

“Otália da Bahia” (samba-canção, 1976) – Antônio Carlos e Jocafi

Maria Creuza dos olhos fundos, brasileira, baiana, filha da poesia, querida do Poetinha. Romântica, abusada, nunca reprimida pela força do cantar que ultrapassa barreiras ideológicas, territoriais e de gênero. Maria Creuza na Esplanada, sonora. Maria Creuza, cantora. Não extingue admiração, há encantamento.

Uma música que não cita em nenhum momento o título. Essa foi a peripécia de Antônio Carlos e Jocafi ao comporem, em 1976, a levada “Otália da Bahia”, com os irresistíveis versos “moça não merece medo, o amor quando não passa não merece medo, uma briga de pirraça não merece medo…”, cantados por Maria Creuza com sucesso que invadiu todas as rádios. 

“Onde Anda Você” (bolero, 1976) – Vinicius de Moraes e Hermano Silva

Maria Creuza nasceu em Esplanada, na Bahia, no dia 26 de fevereiro de 1944. Ainda criança, mudou-se com a família para a capital, Salvador, onde conheceu o seu futuro marido, Antônio Carlos, da dupla com Jocafi. A dupla, aliás, concedeu a Maria Creuza um dos maiores sucessos de sua carreira, “Você Abusou”, que ela lançou em 1972.

Depois, ela voltou ao topo das paradas com “Otália da Bahia”, mais uma parceria de Antônio Carlos & Jocafi, lançada pela cantora em 1976, com versos ao mesmo tempo simples e belos. Vinicius de Moraes e Hermano Silva procuravam, em 1976, a moça que os havia deixado loucos de tanto prazer. Até que encontraram em Maria Creuza a cantora exata para interpretar os versos, e com a dose certa de leveza e emotividade…

“Dom de Iludir” (samba-canção, 1977) - Caetano Veloso

Caetano Veloso compôs “Dom de Iludir” como uma espécie de resposta a “Pra Quê Mentir”, clássico de Noel Rosa lançado em 1939, na voz de Silvio Caldas. Dentro de seu projeto de resgatar e dialogar com a música brasileira, transgredindo-a e remodelando-a, “Dom de Iludir” se encaixa perfeitamente.

É um samba-canção à moda antiga, com uma harmonia requintada, que toma partido da mulher da história. Acusada por Noel de mentir, na letra de Caetano ela se defende insolentemente, eternizando os versos “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”. Lançada pela cantora Maria Creuza, em 1977, no LP “Meia-Noite”, ganhou uma inesquecível versão de Gal Costa…

“Valsa do Bordel” (valsa, 1979) – Vinicius de Moraes e Toquinho

Em 1962, mesmo sem ter nada a ver com a Bossa Nova, Carmen Costa participa do emblemático concerto no Carnegie Hall, em Nova York, que reuniu Tom Jobim, João Gilberto, Roberto Menescal e Carlinhos Lyra, e toca cabaça. No mesmo ano, reafirma a ligação com a festa mais popular do Brasil ao gravar a “Marcha do Cordão do Bola Preta”, de Vicente Paiva: “Quem não chora, não mama/ Segura meu bem a chupeta/ Lugar quente é na cama/ Ou então no Bola Preta”.

É, talvez, o último momento de ápice de Carmen. Nas décadas seguintes, ela presta tributo em disco a Paulo Vanzolini, realiza duetos com Agnaldo Timóteo e dedica, em 1980, um álbum inteiro a canções que têm como temática a prostituição, como “Dama do Cabaré”, de Noel Rosa, “Garoto de Aluguel”, de Zé Ramalho, e “Valsa do Bordel”, de Toquinho e Vinicius de Moraes, lançada, em 1979, pela cantora Maria Creuza.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!