40 anos

CCBB BH celebra o rock com DNA brasileiro

A partir desta quarta, e até o dia 21 de fevereiro, o espaço cultural recebe shows, palestras, sessões de cinema e muitas outras atividades que saúdam o estilo musical

Por Patrícia Cassese
Publicado em 26 de janeiro de 2022 | 03:00
 
 
 
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Em janeiro de 1982, uma lona branca e azul se erguia nas cercanias da pedra do Arpoador, o icônico reduto situado na fronteira entre Ipanema e Copacabana, no Rio de Janeiro, no qual só mesmo os meses mais tensos da pandemia impediram por um período maior a realização do antológico ritual de aplaudir o pôr-do-sol. Provavelmente, os nomes por trás daquela iniciativa não imaginavam, à época, que o Circo Voador viraria um marco. Tão importante quanto um símbolo de resistência (afinal, apesar da abertura, a ditadura militar ainda estava vigente), o local foi um verdadeiro celeiro artístico, abrigando um contingente de expoentes de diversas vertentes, tendo como denominador comum a mente fervilhando de ideias para espraiar diversão e arte a um público ávido, após tempos marcadamente turbulentos. Passados 40 anos, uma iniciativa destinada a colocar em repasse um recorte importante do período aporta a partir de hoje na capital mineira: depois de passar pelo Rio, o Festival Rock Brasil 40 Anos adentra o CCBB-BH prometendo, até o dia 21 de fevereiro, colocar em revista o ritmo que ecoou a toda no citado palco, que depois migrou para a Lapa. 

Idealizado por Peck Mecenas, o evento programa, além de shows (alguns em formato pocket), espetáculos musicais, mostras de cinema, exposições, video mapping, bate-papo (com Nelson Motta) e até mesmo um quiosque “Arpoador”, que vai oferecer um cardápio inspirado na Barraca do Pepê – que foi inaugurada em São Conrado, mas lembrando que seu criador, o lendário surfista Pepê (Pedro Paulo Guise Carneiro Lopes, 1957 -1991), era notório frequentador do Arpoador –, com comidinhas saudáveis.  

A abertura da programação, hoje, se dará com a apresentação de “Cássia Eller, o Musical”, com direção de João Fonseca e Vinicius Arneiro, que terá outra sessão amanhã. Na sexta, tem palestra de Nelson Motta (20h) e pocket-show do Hanoi-Hanoi (21h), no teatro 2; enquanto, no teatro 1, pocket-show de Rodrigo Santos (19h). No sábado, tem show de Fernanda Abreu, e, no domingo, Evandro Mesquita – ambos às 20h. Até o encerramento, vários outros nomes terão passado por lá. Gente do naipe de Nando Reis, Barão Vermelho, Kiko Zambianchi, Leo Jaime, Dinho Ouro Preto, Arnaldo Antunes, Paulo Ricardo, Toni Platão, Humberto Effe, George Israel... Ah, sim. Não estranhe ao ler o nome dos irmãos Wilson Sideral e Rogério Flausino, que, todo mundo sabe, despontaram nos palcos depois. É que, no caso, eles estão a bordo do show-homenagem a Cazuza. 

Em entrevista ao Magazine, o produtor Peck Mecenas lembra que a iniciativa despontou logo no início da pandemia, quando o CCBB lançou, em âmbito nacional, um edital mirando projetos inéditos. “Como diretor da produtora (Peck Produções), eu estava, como todos os representantes da classe artística, pensando: ‘O que vai ser de nós agora?’. Com a quarentena, o mercado estava parado, todo mundo em suas casas. Como comecei minha carreira de produtor musical no Circo Voador, em 1992, me senti com propriedade para inscrever um projeto que homenageava a turma que surgiu dez anos antes e que agora está completando 40 anos de estrada. Turma que é formada por Barão Vermelho, Blitz, Capital Inicial, Paralamas, Titãs, João Penca, Kid Abelha... Uma turma cultural muito rica, tanto que inspirou muitos filmes, sendo ‘Eduardo e Mônica’ o mais recente. Mas tem outros, como ‘Somos Tão Jovens’, ‘Rock Estrela’, ‘Beth Balanço’, ‘Faroeste Caboclo’... Há, ainda, os musicais baseados na vida do Renato Russo, da Cássia Eller, do Cazuza. Tem as fotos da época, até hoje muito presentes no jornalismo. Então, o projeto não envolve só shows, tem teatro, palestra, exposição... Ficou, na minha opinião, culturalmente muito rico”, avalia.  

Na estrada com os clássicos, mas sempre se renovando 

Presença confirmada no próximo domingo (30), com a sua Blitz, o cantor, ator e compositor Evandro Mesquita (oriundo do grupo Astrúbal Trouxe o Trombone) lembra que, no início dos anos 80, a banda que segue capitaneando literalmente “meteu o pé na porta das rádios, gravadoras, televisões”. “O underground estava fervendo. E o sucesso de ‘Você não Soube me Amar’ acabou abrindo portas para toda uma geração. Todas as gravadoras queriam ter uma Blitz no seu elenco, vendendo discos como a gente, o que possibilitou a um monte de banda, que até então estava num circuito só de amigos e família, passar para uma etapa melhor, ter contrato, gravar, ter acesso à rádio... Isso foi memorável. E tudo no meio de uma ditadura! Então, a gente abriu essa porteira para um monte de gente talentosa”.  

Evandro confessa ter orgulho ao constatar que a Blitz segue na estrada, 40 anos depois. “Veja, em 2017 fomos indicados ao Grammy Latino por um disco de inéditas, o que mostra que a banda está viva. Não é uma cover de si, mas uma banda atual. Um grupo que, graças a Deus, tem clássicos na bagagem, mas produzindo coisas novas”, festeja.  

Quanto ao repertório de sua apresentação no projeto, ele diz que o setlist passa por todas as etapas da carreira da Blitz. Ah, sim. Na temporada carioca, do projeto do CCBB, a Blitz se apresentou em um lugar histórico para a banda e para o Rio: o Morro da Urca, em uma noite que contou também com o Paralamas do Sucesso. “As pessoas estavam lá, emocionadas, a gente também... Foi uma troca muito legal. E no dia 5 de fevereiro, vamos voltar ao Circo Voador, onde tudo começou. O circo voou do Arpoador e foi para a Lapa, quando nós também inauguramos o palco, só que já conhecidos (do público)”. 

Atração do sábado, Fernanda Abreu também ressalta que o projeto abraça toda uma geração “que fez a diferença na música brasileira”. “A gente teve os anos 70, com os grandes nomes da MPB, e a juventude que estava surgindo, e que tinha vinte, vinte e poucos anos no início dos anos 80, teve musicalmente o seu start com a Blitz, em 82. Muitos desses grupos, pessoas, estão até hoje fazendo um trabalho significativo”. 

Fernanda Abreu, você se lembra, deixou a Blitz no final dos anos 80. No no passado, festejou em disco seus 30 anos de carreira solo – que, aliás, terá a primazia no show. “O que achei bacana foi que o Peck pensou não em um festival nostálgico, mas sim pautado por uma geração que continua aí, na ativa, fazendo música. Então, o meu repertório é o da Fernanda Abreu. Mas deve cantar ‘A Dois Passos do Paraíso’, que já estava no meu repertório desde 2006, com o ‘MTV ao Vivo’, e é um link que faço (com os tempos da Blitz). E talvez inclua também ‘Um Amor, um Lugar’, que Herbert Vianna fez para (o disco dela) ‘Raio X’. Ele, que é um parceiro querido, também representante desta geração”.  

Serviço  

O quê: Rock Brasil 40 Anos CCBB-BH: 

Quando: De 26 de janeiro a 21 de fevereiro (de quarta a segunda) 

Onde: CCBB-BH (praça da Liberdade, 450, Funcionários) 

Funcionamento do espaço: diariamente, das 10h às 22h (exceto às terças) 

Horário das atividades 

Shows: sábados e domingos, às 20h, sendo os primeiros, de Fernanda Abreu (dia 29) e Evandro Mesquita (dia 30) 

Peças: quartas e quintas, às 20h, sendo a primeira, “Cássia Eller, o Musical” (hoje e amanhã) 

Palestra + pocket-show: Às sextas, respectivamente, às 20 e 21h, no teatro 2 (80 lugares), começando neste dia 28, com Nelson Motta e Hanoi-Hanoi 

Pocket-shows: Toda segunda, no teatro 1 (262 lugares), às 20h / Sextas, no teatro 2 (80 lugares), às 19h, começando com Rodrigo Santos (dia 28, às 19h) 

Quanto:  

Teatro, shows e palestras + pocket-shows: R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia);  

Cinema: Gratuito (o público deverá retirar o ingresso no site Eventim) 

Exposições: Gratuitas (sem necessidade de retirada de ingresso) 

Vendas: www.eventim.com.br  

* Clientes Ourocard têm 50% de desconto no valor do ingresso, não cumulativo com o benefício de meia-entrada legal. 

Programação completa, horário, duração e classificação indicativa disponíveis em www.bb.com.br/cultura

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