Niilismo, perversão, poesia mordaz. Foi assim, tocando em assuntos profundos e degenerados, que o Velvet Underground deixou uma marca indelével na história do rock.
Fundado em 1964 pelo letrista, guitarrista e compositor Lou Reed e o estudante de música clássica John Cale, o grupo tinha como concepção artística alinhar o primitivismo do rock'n'roll à sonoridade vanguardista. Não demorou muito e a dupla encontrou novas peças para completar a engrenagem da banda: o guitarrista Sterling Morrison – colega de Reed na universidade de Syracuse, em Nova York – e o baterista Angus MacLise, que acabou deixando o Velvet ainda nos primóridos, passando as baquetas para Maureen "Mo" Tucker.
A partir dali, o tal "subterrâneo de veludo" (nome tirado de um livro pornô) tornou-se o agente de uma das metamorfoses mais radicais da música nos anos 1960.
Apostando na agressividade, realismo urbano e lirismo agridoce, o VU teve uma trajetória efêmera, mas brilhante – lançando apenas dois discos com a primeira formação, e cinco no total.
O ponto alto para a banda foi seu álbum de estreia, "The Velvet Underground & Nico" (1967).
Com uma capa antológica criada pelo papa da pop art Andy Warhol e repleto de futuros clássicos, como "Sunday Morning", "I'll Be Your Mirror", "Femme Fatale" e "I'm Waiting For The Man", o LP provocou muita polêmica e vendeu pouco. Porém, acabou servindo para elevar o nível da discussão sobre os limites da música popular e despertou um instinto artístico em jovens músicos para enxergarem o rock para além do simples sucesso radiofônico.
Com uma postura sonora apontada para o futuro, o quarteto influenciou gerações de artistas de áreas diferentes, como o cineasta norte-americano Jim Jarmusch, o escritor britânico Salman Rushdie e o poeta, dramaturgo e escritor tcheco Vaclav Havel – que veio a se tornar presidente da República Tcheca com a chamada Revolução de Veludo, movimento não agressivo que concretizou a queda do regime comunista na antiga Tchecoslováquia.
Na música, o VU serviu de inspiração para um sem-número de cantores e bandas importantes como David Bowie, Iggy Pop, Joy Division, Sex Pistols, Roxy Music, Television, The Smiths, Nick Cave, Sonic Youth e Nirvana.
Enfim, qualquer semelhança com o punk e todos os outros estilos musicais significativos dos últimos 50 anos não é mera coincidência.