Música

Daniel Jobim e Kell Smith prestam tributo ao álbum “Elis & Tom” com show em BH

Encontro da cantora com o maestro, que ocorreu há 50 anos, eternizou clássicos como “Águas de Março e “Corcovado

Por Raphael Vidigal Aroeira
Publicado em 05 de abril de 2024 | 06:00
 
 
 
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Chegou do lixo aquilo que “mudaria para sempre a vida” de Kell Smith. A cantora tinha acabado de completar onze anos quando o pai, para comemorar o aniversário da filha, a presenteou com “uma vitrola achada na caçamba, consertada por ele mesmo”. “Acompanhando a vitrola, ‘Falso Brilhante’, da Elis. E foi assim que eu conheci o meu primeiro amor”, declara Kell, em referência ao histórico LP de Elis Regina (1945-1982), lançado em 1976, e oriundo do show que mobilizou o Brasil com canções do porte de “Como Nossos Pais”, “Velha Roupa Colorida”, ambas de Belchior, “Fascinação”, numa versão de Armando Louzada, “Gracias a La Vida”, de Violeta Parra, “Tatuagem”, e etc.

“Elis me atravessou com sua música e existência e passou a ser o meu grande e poderoso amor. Me apresentou a música brasileira e é trilha sonora da minha vida”, enaltece Kell, que encara um repertório eternizado pela intérprete no espetáculo “Tributo a Elis & Tom”, que aporta neste sábado (6) a BH, um dia antes de Kell completar 31 anos, e resgata outro momento ímpar da cultura nacional, definido pelo crítico musical Hugo Sukman como o encontro “da nossa maior cantora com o nosso maior compositor”. “É um trabalho que mostra muito amor entre os dois, com a união dos estilos e um repertório belíssimo, que transformou esse disco em atemporal. Cinquenta anos depois, não há outro igual”, avalia o músico Daniel Jobim, neto de Tom.

Clássicos

Daniel, que sobe ao palco ao lado de Kell, se reporta a “Elis & Tom”. Lançado em 1974, o álbum baliza a homenagem que passeia pelas 15 faixas originais e ainda acrescenta clássicos da tarimba de “Garota de Ipanema”, recordista de regravações no mundo, com mais de 450, e “Wave”. “Corcovado”, “Só Tinha de Ser Com Você”, “Retrato em Branco e Preto”, “Brigas, Nunca Mais”, “Inútil Paisagem”, “Triste”, “Por Toda a Minha Vida” comparecem com a habitual elegância, além da incontornável “Águas de Março”, a preferida de Daniel, “pela maneira diferente como gravaram as divisões vocais”. “Ficou muito bonito como dueto, melhorou a canção”, diz.

Kell prefere entregar ao público a difícil missão de escolher uma entre tantas belezas. “Cada música desse álbum é um universo. Eu não seria capaz de escolher uma só. Gosto de como, em cada show, o público ‘escolhe’ suas prediletas. Essa descoberta é a minha preferida”, graceja. Para encarar esse desafio, ela embarcou em um “completo mergulho”. “É claro que cantar a maior intérprete desse país não é tarefa fácil. Mas é a mais deliciosa que já vivi. Me sinto grata e, de tão grata, os desafios ficam menores. É sobre mergulhar e entregar o meu melhor. Nada menos do que o público merece. Elis sentia cada palavra que cantava. Nada pode ser mais poderoso do que a verdade na palavra”, assegura. Visando esse resultado, Kell e Daniel se aplicaram com todo afinco.

Encontro

“É um repertório muito difícil, denso, fomos ensaiando uma a uma, aos poucos, são músicas complicadas, em tons diferentes. Um trabalho grande e gratificante. É uma honra”, resume o pianista. A sofisticação não impediu “Elis & Tom” de atingir números expressivos, vendendo mais de 46 mil cópias. Daniel, que nasceu um ano antes do álbum, se recorda de, a partir do momento que teve a mínima idade, acompanhar o avô famoso “em todos os ensaios e shows que podia, desde pequenininho”. “Ele me dizia que cada pessoa tem o seu próprio som, que todos podem identificar, até ouvindo pelo rádio, e a coisa mais importante é o toque no piano, porque é o touché”, conta, se valendo da expressão francesa entendida como “vitória”.

Certa vez, enquanto saía de um táxi, uma garota se aproximou de Daniel para pedir uma foto. Agora, ele sabe que essa recordação segue guardada. Kell Smith, que o acompanha no palco, lhe mostrou a “Fotografia”, título de música de Tom cantada por Elis em 1974. Há exatamente meio século. E é como se fosse hoje, ontem, sempre. Kell, que acaba de colocar na praça o autoexplicativo “(Não É Só Mais) Um Álbum de Amor”, reflete sobre o sentimento “em tempos líquidos”, expressão consagrada pelo sociólogo Zygmunt Bauman (1925-2017), e segue com “tantos outros projetos”, que incluem música e audiovisual. “Estou me segurando pra não dar spoiler”, admite, e reitera o convite para o show: “O melhor lugar do mundo é morar em momentos assim”. 

Serviço.

O quê. “Tributo a Elis & Tom”, com Kell Smith e Daniel Jobim

Quando. Neste sábado (6), às 21h

Onde. Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, Centro)

Quanto. De R$90 (meia) a R$260 (inteira) na bilheteria ou do teatro ou pelo site www.eventim.com.br 

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