Discurso

Djonga: Grana eu já conquistei, agora é pela arte

Mineiro comenta como é trabalhar no teatro, fala de parcerias e do que conquistou com três álbuns

Por Folhapress
Publicado em 16 de outubro de 2019 | 18:32
 
 
 
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O rapper mineiro Djonga participou das sessões da peça “Madame Satã” no teatro Jaraguá, em São Paulo, em setembro. É possível que boa parte do público tenha ido apenas para vê-lo. Enquanto os espectadores entravam no teatro, os personagens ficavam espalhados pelas cadeiras da plateia até que todos se posicionassem. Ao ver Djonga sentado na última fileira, um fã anunciou que sentaria ao seu lado e foi vetado pelo rapper. No fim da peça, vários gritos de “Gustavo”, primeiro nome do artista, podiam ser ouvidos.

“É muito complexo, porque as pessoas sempre vão me olhar como o Djonga, e eu também sempre vou me sentir assim, mas é preciso trabalhar essa disciplina”, diz o artista sobre o trabalho no teatro. “Mas Djonga também é um personagem”, defende.

Nos últimos três anos da carreira de Gustavo, é possível acompanhar o arco de construção do personagem Djonga por meio dos álbuns “Heresia” (2017), “O Menino que Queria Ser Deus” (2018) e “Ladrão” (2019). Se no primeiro disco ele bradava sobre as dificuldades que vivia na capital mineira e da luta para conquistar espaço na cena de rap nacional, no segundo, um Djonga já mais maduro relatava o sufoco com a recém-adquirida fama. 
Em “Ladrão”, o rapper fechou a trilogia com a reflexão de que o melhor a se fazer com a fama e o dinheiro é levá-los de volta à sua origem. “Sinto que eu fiz meu melhor, mas que ainda tenho muito mais para caminhar. Tanto de discurso, quanto de estética, quanto de número”, diz. “A grana eu já conquistei. Agora é pela arte”, completa.

Teatro. No último ano de seu ensino médio, em 2011, Gustavo Pereira Marques roteirizou e dirigiu uma peça como parte de uma feira cultural. Esse tinha sido seu primeiro e último contato com o teatro até abril de 2019 quando, num encontro com a atriz e diretora Bia Nogueira, pediu para participar da remontagem de “Madame Satã”. Lá pelos idos de 2011, ele não pensava em ser rapper. “Sempre soube que seria artista de alguma forma. E arte é tudo: pintar, estar nos palcos, na televisão, no cinema, na música”, diz

Após o ensino médio, Djonga passou a frequentar saraus, até se interessar por poesia para compor sua primeira música, “Corpo Fechado”. Em 2016, formou o grupo DV Tribo com os rappers FBC, Clara Lima, Oreia e o produtor Coyote Beats. Depois, se concentrou em seu trabalho solo e alçou voo com a ajuda de um freestyle para a marca Pianeapple Supply, “Olho de Tigre”.

Um ponto comum em todos os trabalhos de Djonga é a preocupação com temas sociais que vão além da política institucional. Brados contra a homofobia e o machismo já apareceram diversas vezes nas letras do rapper. Durante uma apresentação, Djonga falou que era preciso impedir a reeleição do presidente Jair Bolsonaro e chamou dois índios pataxó ao palco para falar sobre as queimadas na Amazônia.

“Só estou tentando dar voz para as coisas que acredito. Muitas vezes, as pessoas estão mais preocupadas com a narrativa em torno das coisas do que com os fatos e em como resolvê-los. E o que eu tento fazer é ser bem direto na minha ideia, falar de uma forma que a galera entenda”, diz o rapper.

A trajetória rendeu a Djonga um lugar no pódio das poucas grandes figuras do rap nacional a surgir fora do eixo Rio-São Paulo. “Eu trabalhei demais pra estar nesse patamar. Não tem surpresa, é só felicidade. Surpresa é para quem não se sente digno. Eu me sinto digno”, reflete.

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