CINEMA

'Durval Discos' retorna às telonas em formato digital 20 anos após lançamento

Longa-metragem de estreia de Anna Muylaert tem Ary França no papel do dono de uma loja de vinis

Por Paulo Henrique Silva
Publicado em 23 de novembro de 2023 | 18:23
 
 
 
normal

A reação da diretora Anna Muylaert ao rever "Durval Discos", na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, no ano passado, foi efusiva. "Fiquei encantada pelo filme", destaca. Uma atitude que seria absolutamente normal se não fosse ela a realizadora do longa-metragem, lançado em 2002. "Não via há 20 anos, já não me lembrava mais das cenas", explica.

O reencontro com a obra é motivado pelo relançamento nos cinemas, em formato 4K, compatível com as mídias atuais. "Agora ele poderá existir de novo", anseia Anna, já que "Durval Discos" só tinha versões em 35mm. "Ele estava parado lá na Cinemateca (Brasileira, em São Paulo). Não tínhamos verba para passar para o 4k. Nem eu nem os outros diretores daquela geração", lembra.

Prova desse "desaparecimento" é o fato de que, numa coletiva realizada na capital paulista, para divulgação do relançamento nos cinemas, nenhum dos jornalistas presentes havia visto "Durval Discos". Por isso, Anna não só comemora a volta aos cinemas como também a possibilidade de que o seu longa-metragem de estreia possa desbravar outras mídias, especialmente as plataformas de streaming.

"Estou extremamente feliz, porque eu amo esse filme. Ele foi feito com muita dedicação, muito estudo. Foram anos de preparo, de ensaio.  E ele deu muito certo", comemora. Ela se diverte com a relação entre o que aconteceu com o filme, em relação à tecnologia, e o que é mostrado na história, que acompanha um dono de loja de vinis em plena ebulição dos CDs, quando as "bolachas" já estavam condenadas.

"É engraçado que esteja sendo relançado a propósito de uma mudança de mídia. O personagem  foi baseado naqueles velhos hippies que  continuavam nos anos 60 para sempre. Imagina, na época o filme falava do CD, mas depois vieram outras mídias. Agora é o Spotify. E o mesmo aconteceu com o cinema. Hoje o modelo é outro, não só no Brasil como no mundo", compara.

Pouco antes de "Durval Discos" começar a ser produzido, foi lançado "Alta Fidelidade", que também tem como cenário principal uma loja de discos. "Eu o vi antes de fazer o 'Durval' e ele tinha infinitos pontos de vistas na loja. A cada hora a câmera estava num lugar diferente. Observei que, ao final, não sabia dizer como era a loja. No meu filme, queria que o espectador se sentisse dentro da loja".

Mas a principal razão de o longa ter caído no gosto de público e crítica é a estrutura narrativa, com uma primeira parte mais leve e cômica, quando uma empregada doméstica e sua filha tomam conta do rotineiro lar de Durval e sua mãe. Na outra metade, porém, o filme envereda pelo drama. Esse formato foi comparado, na época, a um vinil, com um lado A e um lado B.

"Lembro de ter feito um laboratório de roteiro, em 1998, com um consultor americano e o perguntei para ele se achava que a estrutura seria um problema. Ele disse que não, que o cinema moderno é assim e que ninguém está mais a fim de ver só drama ou só comédia. Eu me deu um sinal verde teórico de que poderia fazer o que eu queria. No cinema brasileiro, isso não tinha muito", lembra.

A cineasta, que mais tarde seria bastante premiada com "Que Horas Ela Volta?" (2015), está em fase de finalização de "Clube das Mulheres de Negócios", que tem no elenco Irene Ravache, Louise Cardoso e Cristina Pereira. "Fiz filmes bem diferentes, mas esse é o mais parecido com o 'Durval', porque é ao mesmo tempo dramático e engraçado", revela Anna, que deverá lançá-lo no próximo semestre.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!