Arte urbana

Eduardo Kobra vai pintar rostos anônimos em seu primeiro mural em BH

Obra ficará no Centro da capital e terá 53 metros de altura por 18 metros de comprimento; uma segunda empena do edifício do Sesc receberá um painel do coletivo Minas de Minas

Por Bruno Mateus
Publicado em 02 de agosto de 2023 | 16:37
 
 
 
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Um dos artistas urbanos mais reconhecidos e celebrados do mundo, Eduardo Kobra tem mais de 500 murais espalhados por mais de 40 países dos cinco continentes. Faltava Belo Horizonte; agora, não falta mais. A capital mineira acaba de entrar para a lista das cidades em que o trabalho de Kobra se impõe também entre enormes prédios das grandes metrópoles. No caso de BH, o que se verá é um gigantesco painel de 53 m de altura e 18 m de comprimento. A estrutura para o início da pintura, que deve durar 15 dias, começou a ser montada em 28 de julho. A previsão é que a obra seja concluída no dia 12 de agosto.

“Estou muito entusiasmado, é uma oportunidade muito especial porque é a primeira vez que faço uma empena em BH, cidade tão rica culturalmente. Estou muito feliz por estar aqui. Vou pintar rostos de crianças, jovens e idosos, que mostram as linhas da vida, a mensagem é essa: não importa a idade, as características faciais e raciais, todos somos importantes para a humanidade, e é somando as forças que podemos melhorar a vida de todo mundo”, explica o artista.

O primeiro trabalho de Kobra na cidade faz parte do projeto Sesc Arte Urbana, lançado, nesta quarta-feira (2), em uma entrevista coletiva no edifício-sede do Sesc, encravado na rua Tupinambás, Centro da capital. O prédio possui duas empenas,  nome que se dá a grandes paredões laterais geralmente sem janelas nem portas. Em uma delas, cujas medidas alcançam 935,98m², voltada para a avenida Olegário Maciel, ficará a pintura de Kobra, visível a partir da região da rodoviária; a outra, de 774,73m² e com vista para a rua Tupinambás, dará lugar à criação do Coletivo Minas de Minas, composto por Carol Jaued, Musa, Nica e Lídia Viber e convidado pelo Sesc para também dar cores ao projeto.

Segundo Kobra, o processo de criação da arte que vai colorir a empena durou cerca de seis meses. No período, ele mergulhou em referências da cultura mineira para se aproximar da paisagem histórica e estética de Belo Horizonte e Minas Gerais. Pensar em Carlos Bracher, Guimarães Rosa, Carlos Drummond de Andrade, Milton Nascimento, Skank e Pato Fu e outras personalidades, ele ressaltou, deu a dimensão da responsabilidade que seria inaugurar seu trabalho em solo belo-horizontino.

O primeiro passo foi receber a foto da parede e suas medidas. No estúdio em Itu, no interior paulista, ele passou a fazer as pesquisas. Foram mais de 20 estudos de desenhos diferentes. Da lapidação e de três “finalistas”, um foi escolhido. A aplicação da arte na fachada também é um passo importante no processo. Cada “pedaço” da obra vai sendo colocado na parede e o todo vai ganhando forma aos poucos, com Kobra fazendo adaptações de luz e sombra, por exemplo, à medida em que o painel vai sendo realizado.

Eduardo Kobra sublinha que o painel que surgirá no horizonte da capital mineira é “coerente com outras obras recentes que fiz pelo mundo, em que busco valorizar questões cruciais para nossa época”. O artista conta que está com “80% da imagem resolvida, mas pode ter algumas alterações”.

Para Kobra, o mais importante, além da pintura, da estética, das cores, da luz e sombra, da anatomia da perspectiva, são as mensagens que suas obras transmitem: “O significado, acima de tudo, é o mais importante. Venho tratando de temas que falam de tolerância, paz, racismo, união dos povos, história e memória. Busquei trazer um pouco de informação que se conecta com a cidade, realmente valorizando o povo, a população. Vou trazer as pessoas comuns, do dia a dia, que fazem de BH uma das cidades mais importantes do país”.

Sobre o primeiro mural na capital mineira, Kobra diz que é um projeto “grande, complexo e meticuloso”. Em BH, ele trabalha com a ajuda de uma equipe de três assistentes. “Utilizo cerca de 200 latas de spray, 50 galões de tinta, pinto com vários materiais diferentes, como compressor, pistola, rolinho, spray, stencil. Cada detalhe do trabalho em si exige uma determinada técnica”, detalha.

Empena histórica

Outro imenso mural de 62 metros de altura será pintado em um dos paredões laterais do prédio do Sesc, na rua Tupinambás, e já nascerá histórico, pois será o primeiro feito por um coletivo formado somente por mulheres em uma empena no Brasil. Pensada em conjunto por Carol Jaued, Musa, Nica e Lídia Viber, a obra mostra uma mulher negra com os pés na terra. Em suas mãos, ela segura algumas ervas. Ao fundo, a Serra do Curral compõe o retrato de uma mulher que simboliza várias.

“Sendo um grupo de mulheres, sempre temos essa relação com a representatividade feminina. Quando vemos essa imagem, tem a coisa do pé no chão, na terra, falamos muito sobre raízes, as ervas na mão. Minas tem muito disso. E a Serra do Curral está na paisagem da nossa cidade, tem muitas questões a ela, o resgate das coisas da natureza. É um presente para a gente e para a cidade”, observa Carol Jaued.

O Minas de Minas está há quatro meses no processo de criação do mural, que começa a ser pintado no próximo dia 14 e tem previsão de conclusão em 29 de agosto. “Dentre as obras que estamos fazendo como grupo, tentamos mostrar a forma da mulher, ela pode estar em qualquer lugar. Nosso trabalho valoriza a mulher negra, a luta feminina. Agora, buscamos elementos que retratam essas mulheres buscando a valorização de uma história que tem se perdido ao longo dos anos”, pondera Musa.

Roda de conversa e ampliação do projeto

Na próxima quarta-feira (9), às 19h, o Sesc Tupinambás (rua Tupinambás, 956 – Centro) será palco de um debate gratuito e aberto ao público sobre arte urbana e o projeto Sesc Arte Urbana. Participação do evento, cujas vagas são limitadas (é preciso retirar ingressos pelo Sympla), Eduardo Kobra e as integrantes do coletivo Minas de Minas – Carol Jaued, Musa, Nica e Lídia Viber.

“O projeto Sesc Arte Urbana é um presente para BH e Minas Gerais, queremos valorizar o hipercentro da capital com esse trabalho nas duas empenas, com a arte brasileira representada aqui pelo Eduardo Kobra e pelas meninas do Minas de Minas”, afirma o presidente do Fecomércio MG, Sesc e Senac, Nadim Donato.

Segundo a coordenadora de ação cultural do Sesc, Marcela Ferreira, “foram meses de trabalho para conseguir viabilizar as pinturas das empenas e transformá-las em obras de arte, fortalecendo a cena da arte urbana em BH”. Donato também adiantou que o Sesc Arte Urbana terá outras etapas, com a pintura de todos os muros da parte de trás do prédio da entidade. Segundo ele, faltam poucos detalhes para a assinatura do contrato com o artista responsável pelo trabalho.

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