Entrevista

‘Em dois meses, no máximo, teremos novidades’, diz secretária de Cultura de BH

Eliane Parreiras, que assumiu a pasta há 10 dias, fala sobre desafios, orçamento, objetivos e qual será a marca de sua gestão

Por Bruno Mateus | @eubrunomateus
Publicado em 14 de julho de 2022 | 15:09
 
 
 
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Há 10 dias, Eliane Parreiras assumiu a Secretaria Municipal de Cultura. Ex-presidente da Fundação Clóvis Salgado por duas oportunidades, sendo a última delas na atual gestão do governador Romeu Zema (Novo), e ex-secretária estadual de Cultura durante o mandato de Antonio Anastasia (2010-2014), entre outros cargos ocupados tanto no setor público quanto na iniciativa privada ao longo de 27 anos de atuação na área cultural.

Convidada pelo prefeito Fuad Noman (PSD), com quem já havia trabalhado no Estado, Eliane Parreiras chega ao executivo municipal em um momento de reabertura e reaquecimento da agenda cultural em Belo Horizonte após as restrições causadas pela pandemia da Covid-19 serem. Um dos desafios nesse cenário é o de reconexão com a sociedade. “Isso passa pela questão de ocupar a cidade, de ter uma programação pulsante, de conseguir reafirmar esse papel da cultura e todas as suas linguagens como fundamentais para o desenvolvimento de qualquer sociedade”, pondera.

Em 2022, somando o orçamento da Secretaria Municipal de Cultura e da Fundação Municipal de Cultura, agora liderada por Luciana Féres, chega a R$ 107 milhões. “Estamos falando de R$ 55 milhões de investimentos, mais valores de lei de incentivo e gastos com pessoal”, explica Eliane.

No segundo semestre, a secretária diz que a PBH irá lançar um novo edital da Lei de Incentivo Municipal de Cultura no valor de R$ 15 milhões, valor que chega com um aumento de 7% em relação ao ano passado. “Vamos injetar esse valor ao longo de um período de um ano diretamente na atividade cultural por meio da renúncia fiscal do município sobre ISS”, ela acrescenta.

Em entrevista a O TEMPO, Eliane Parreiras diz que em até dois meses outras novidades serão anunciadas. A secretária de Cultura de BH também fala sobre o olhar que terá para os equipamentos culturais geridos pela prefeitura e qual marca pretende deixar à frente da pasta.

Primeiro, queria que você contasse como recebeu o convite para assumir a Secretaria Municipal de Cultura, se foi uma surpresa, e o que te motivou a pedir exoneração da Fundação Clóvis Salgado para chefiar a pasta na prefeitura?

É importante comentar que tive oportunidade de conhecer o prefeito Fuad como gestor e um gestor muito competente em vários momentos quando fui presidente da Fundação Clóvis Salgado, depois como secretária de Estado. Isso, sem dúvida nenhuma, foi um dos motivadores da minha vida para a prefeitura, porque conhecia essa capacidade de gestor, de liderança, e isso vem associado a um posicionamento dele de um desejo de potencializar a cultura, especialmente com a questão da ocupação dos espaços públicos, do entendimento da cultura como protagonista do encontro, da troca, do viver, do entendimento de que a cultura tem um papel estratégico para o desenvolvimento sustentável da cidade. Além disso, (chefiar a pasta da cultura) é um processo muito desafiador. Estamos pensando muito num conceito de que a cultura se faz localmente, é um fenômeno local, é no chão da cidade que a cultura acontece. A junção dessas motivações me fizeram aceitar o convite, mas foi uma surpresa, sim, inclusive tive que fazer uma transição muito rápida na Fundação Clóvis Salgado.

Como sua experiência na presidência da Fundação Clóvis Salgado e na secretaria de estado de Cultura no governo Anastasia podem contribuir para o novo cargo na administração municipal?

Tenho uma trajetória de 27 anos atuando na cultura tanto no setor público quanto na iniciativa privada. Essa vertente de conciliar interesse público e privado, favorecendo a sociedade, sempre esteve muito presente na minha história. São duas experiências bem diferentes mas que vão me favorecer muito nesse novo desafio. Uma é a administração direta, esse processo da elaboração das políticas públicas, da garantia da participação social, de estabelecer instrumentos de gestão, de formular, implementar, avaliar o processo das políticas públicas. Essa experiência no Estado foi num momento em que a gente tinha a cultura pulsando muito, então vem me favorecer nesse lugar de elaborar, implementar e monitorar a política pública. Por outro lado, a experiência dos espaços culturais, do próprio Sesc, também traz um tipo de visão e compreensão dos processos que certamente vão apoiar as decisões na secretaria de cultura. Com essa visão a partir da gestão, a experiência da iniciativa privada me ajudará a conseguir fazer essa conexão com a atuação da Fundação Municipal de Cultura de maneira muito orgânica, natural e  sinérgica, que é a nossa proposta de trabalho. Nossa proposta é de uma atuação bem sinérgica entre as duas instâncias para que a gente possa avançar em todo esse legado de políticas culturais e programas que foi deixado.

Você assume a SMC em um momento de reabertura do setor cultural em Belo Horizonte. Quais são os principais desafios nesse cenário?

Vou falar sob duas perspectivas, a primeira sobre a cultura de uma maneira geral. Temos um desafio de reconexão com a sociedade, de voltar a estar mais próximo, e isso passa pela questão de ocupar a cidade, de ter uma programação pulsante, de conseguir reafirmar esse papel da cultura e todas as suas linguagens como fundamentais para o desenvolvimento de qualquer sociedade, cultura entendida não só como produção artística, mas também como nossa identidade.

Belo Horizonte tem nove regionais e o discurso da descentralização da cultura na cidade é sempre adotado por quem passa pela secretaria, e com a senhora não é diferente. Porém, é comum que artistas e produtores critiquem a concentração de eventos e políticas públicas em determinadas regiões da capital, principalmente na Centro-Sul. Como levar a cabo, de fato, essa tão falada descentralização?

Quando falamos da secretaria, outros desafios que se apresentam são no sentido de fortalecer a descentralização da cultura da cidade, fortalecer equipamentos culturais, programas independentes e empreendedores culturais. Hoje a gente vê uma programação diversa, de muita qualidade. A ideia é fortalecer não só os equipamentos culturais da PBH, mas também o diálogo com esses empreendimentos, projetos e ações da própria sociedade civil. Uma outra questão que é muito importante, que o prefeito já citou, é a questão da cultura quase como urbanismo, a cultura realmente ocupando a cidade. A experiência de  viver a cidade a partir da cultura, das diversas manifestações, viver a cidade por meio da cultura. A questão da formação também é muito importante e um desafio, vamos buscar ampliar também a descentralização das atividades de formação, que têm um impacto de inclusão social, de formação humanística, de garantia dos direitos. É importante fortalecer os instrumentos, a difusão e a preservação da nossa identidade e do nosso patrimônio. Por fim, potencializar uma política para o fomento e o incentivo das artes. Hoje temos programas muito importantes dentro da secretaria, mas a nossa intenção é aperfeiçoar esses instrumentos para que os programas sejam mais acessíveis. Vamos amarrar tudo isso a um fortalecimento institucional na cultura, que se desdobra também na ação de governança, de gestão. Acredito em uma gestão que busca resultados.

Sob a gestão da prefeitura estão diversos equipamentos culturais, entre museus e centros culturais. Qual será o olhar da nova gestão para esse patrimônio da cidade?

Estamos fazendo um diagnóstico dos centros culturais. Vamos fazer um processo de visitas técnicas a todos esses equipamentos, sem exceção, também com o intuito de escutar os gestores e a própria comunidade para que a gente possa também propor novas ações, projetos e construir parcerias com o setor. Temos uma gama de empreendedores culturais em BH com muita qualidade e competência. Há projetos muito interessantes.

Embora não tenhamos eleições municipais neste ano, os pleitos federal e estadual impacta na gestão da prefeitura de BH no que diz respeito a repasse de verbas, criação de políticas públicas que podem ser realizadas na cidade, editais que também podem ser destinados aos artistas e trabalhadores da capital. Como o ano eleitoral impacta na gestão da cultura no âmbito municipal?

Do ponto de vista da nossa execução orçamentária, do nosso calendário, este impacto não é direto, mas é evidente que a gente pode ter um cenário onde o governo do Estado ou o governo federal têm que adiar investimentos, ou postergar editais em função do período eleitoral, então todo mundo é impactado. A cultura é um fenômeno local, mesmo que o recurso seja proveniente do governo federal ou estadual. O que tentamos fazer é manter efetivamente nosso calendário de uma maneira muito compromissada para que o impacto seja o menor possível.

Você irá manter a agenda de eventos planejada pela gestão da Fabíola Moulin, sua antecessora, mas já dá para falar em novidades vindo por aí?

Temos um calendário e podemos inovar, mas sem destruir o legado. Tenho um profundo respeito por tudo que foi construído. Estamos debruçados sobre o calendário que já está compromissado. Teremos o FIQ (Festival Internacional de Quadrinhos) em agosto, a Virada Cultural em setembro e,em novembro, o FIT (Festival Internacional de Teatro Palco & Rua). Em breve, teremos algumas novidades relacionadas tanto aos editais quanto a algumas políticas que estão se estruturando. Acreditamos que nos próximos dois meses vamos conseguir apresentar isso para a sociedade. Nossa ideia é ampliar os investimentos por meio de parcerias com a iniciativa privada. Em dois meses, no máximo, já teremos novidades e alguns novos projetos que poderão ser anunciados. Ainda em 2022, teremos os 80 anos do Museu Histórico Abílio Barreto e da Casa do Baile. Vamos incrementar o planejamento que já existia, esse é um pedido do prefeito.

São dois anos e meio de gestão pela frente. Que marca você pretende deixar à frente da secretaria? 

Na prefeitura, estamos trabalhando agora com um conceito de uma BH mais feliz. É abstrato, mas também é um conceito que todo mundo entende; é trabalhar por meio da política pública, por meio da política pública setorial, para que a cidade seja realmente mais feliz, fortalecendo a infraestrutura cultural da cidade, que tem uma criação artística pulsante em todas as regionais. É preciso proteger e difundir nossa memória, nosso patrimônio, e criar garantias de acessibilidade para formação. De maneira geral, queremos conseguir que realmente todo mundo tenha um acesso maior ao setor cultural. Se eu tivesse que resumir pensando no conceito que o prefeito quer, seria que no final da minha gestão a gente tivesse um cidadão mais apaixonado pela cidade, com mais orgulho de BH. É com essa esperança que eu vou trabalhar. Vivenciar a cidade com arte e cultura é, sem dúvida nenhuma, outro tipo de experiência.

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