A postura inovadora e de vanguarda da chamada Semana de 22 – movimento artístico-cultural considerado o estopim do modernismo no Brasil e que completa 100 anos em 2022 – é o fio condutor da 16ª edição do Festival de Verão da UFMG, que começa nesta quarta-feira (9), com programação gratuita e totalmente digital por meio do canal oficial da universidade no YouTube

Até o próximo dia 12, o evento vai promover uma série de atividades culturais – entre palestras, rodas de conversa e a exibição de um videodocumentário sobre dança urbana – todas voltadas para celebrar o centenário da Semana de Arte Moderna e discutir o legado do movimento nas artes brasileiras. Neste ano, o festival também presta homenagem a Jaider Esbell (1979-2021), uma das figuras seminais da arte indígena contemporânea. 

Segundo os organizadores, a programação se pautou pelo impacto que aqueles seis dias em fevereiro de 1922 tiveram para a formação de uma nova identidade brasileira. “A Semana de Arte Moderna é, acima de tudo, o momento principal em que se nota uma mudança verdadeira no modo de pensar e de fazer a arte no Brasil”, afirma a coordenadora do evento, Mônica Ribeiro.  

"Foi a partir dali que se fortaleceu a noção de uma brasilidade e a aposta num modo de criação não-europeu das estéticas artísticas no País. É justamente com esse conceito em mente que a gente criou a agenda do festival – para mostrar a força revolucionária da Semana de 22”, analisa. 

Ela explica, no entanto, que as discussões também foram pensadas com o intuito de questionar o papel da instauração do modernismo por aqui e, assim, colocar o próprio movimento em questão. “A intenção é refletir para além do impacto positivo que o movimento teve em nossa sociedade, já que é notório o fato de ele ter deixado muitas lacunas e ausências quando surgiu”, diz Mônica. 

“A ideia é lançar um olhar sobre os desdobramentos do modernismo e tudo aquilo que ele tem de potência transformadora, porém sem deixar de examinar suas falhas. Queremos entender, por exemplo, qual o impacto desse pensamento para a construção da cultura que existe agora no século 21. Será que ele ainda é relevante?”, indaga. 

Programação 

O festival abre sua programação nesta quarta (9), às 19h, com um tributo ao artista plástico Jaider Esbell, um dos principais expoentes da arte dos povos originários. Nascido na região hoje demarcada como Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, Jaider morreu em novembro do ano passado.  

Durante a homenagem, o público terá a chance de assistir à palestra “Rever Makunaíma”, que o artista de etnia Makuxi apresentou durante a última edição do Festival de Inverno da UFMG, em 2021.  

“É uma honra para nós poder celebrar este artista tão singular e especial, que contribui para o nosso entendimento da importância da arte indígena contemporânea no Brasil”, comentou o professor Fernando Mencarelli, um dos coordenadores do festival. 

Já na quinta-feira (10), o evento vai focar palestras e bate-papos com especialistas. A partir das 19h, ocorre o debate “Psicanálise Literária: O Campo do Fora”. Guiada pela psicanalista e doutoranda em literatura Ayanne Sobral, a conversa vai refletir sobre os grupos, as comunidades e os modos de fazer que não foram contemplados pela Semana de Arte Moderna de 1922, como as artes negra e indígena. 

O célebre “Manifesto da Poesia Pau-Brasil” será o destaque na sexta-feira (11). O texto, escrito por Oswald de Andrade em 1924, servirá de inspiração para a palestra “Modernismos: Uma Questão de Memória”, que será apresentada às 19h pela poeta, tradutora e professora Vera Casa Nova, da Faculdade de Letras da UFMG. Na sequência, às 20h, haverá uma roda de conversa sobre o tema com a professora de música e pianista Ana Cláudia de Assis, o professor da Faculdade de Letras Marcos Alexandre e a artista e pesquisadora Gabriela Guerra. 

No encerramento do festival, que acontecerá no sábado (12), o grupo MEC – Movimento Em Cena Mulheres – exibe, às 20h30, um videodocumentário que busca ampliar e aprofundar aspectos da mostra coreográfica “Direito à Cultura nas Quebradas”, que fez parte da última edição do Festival de Verão, em 2021. Idealizada por Celo Mendes, o trabalho conta com a concepção coreográfica de 14 artistas da cena das danças na Grande BH. 

A agenda completa da 16ª edição do Festival de Verão da UFMG pode ser conferida diretamente no site ufmg.br/festivaldeverao/2022

Serviço 

O quê: 16ª edição do Festival de Verão da UFMG 

Onde: No canal oficial do YouTube do evento

Quando: De 9 a 12 de fevereiro 

Quanto: Gratuito