Dois mil e onze – mais precisamente o mês de outubro – corria ligeiro no calendário. Eric Clapton estava no Brasil para uma turnê no país. O britânico, virtuoso da guitarra, bardo do blues, tinha um sonho: tocar com João Gilberto. No início dos anos 2000, Clapton viu um show do brasileiro em Londres e ficou embasbacado ao ver aquela figura curvada dedilhando seu fiel violão. No ano seguinte, no álbum “Reptile”, a faixa-título faz referências à bossa de João.

O britânico tomou tanto gosto pela obra de João Gilberto que usou, em vão, sua influência na gravadora EMI para que ela relançasse os três primeiros discos do brasileiro – “Chega de Saudade” (1959), “O Amor, o Sorriso e a Flor” (1960) e “João Gilberto” (1961). Os três álbuns continuam fora de circulação.

Ocorre que, em 2011, naquele mesmo outubro em que Clapton estaria no Brasil, João Gilberto também iniciaria uma turnê nacional em comemoração ao seu aniversário. O projeto “80 Anos – Uma Vida Bossa Nova” passaria por algumas cidades e o guitarrista britânico participar de alguma apresentação, ou pelo menos estar na primeira fila para ver bem de perto o personagem que o influenciou.

A história ganhou força e a imprensa começou a comentar sobre a possível parceria. Em entrevista ao Jornal da Globo, o guitarrista falou sobre o papa da bossa novista: “Ele é fantástico. Mas também sei o quanto é difícil de ser encontrado”.

"Adoramos Clapton, mas ninguém da produção dele entrou em contato com a gente. João é difícil, mas eles têm de me ligar para que armemos o encontro. O que João não gosta é de saber das coisas pela imprensa”, disse ao Estadão, à época, Claudia Faissol, então companheira de João Gilberto. Ele acabou não indo aos shows do bluesman no Rio de Janeiro, mas fez recomendações: “Ele pediu para eu filmar. João tem muito respeito pela música dele”, contou Claudia.

Eric Clapton cumpriu seus shows no Brasil – os últimos desde então –, mas não conseguiu encontrar o recluso João Gilberto, que, por motivos de saúde, teve de cancelar a turnê “80 Anos – Uma Vida Bossa Nova” e nuca mais foi visto no palco.

Aquele outubro de 2011 poderia ter ficado marcado pelo encontro de dois artistas que caminharam por estradas completamente opostas, mas que a música, à sua maneira, uniu em algum acorde.