Espetáculo aborda ausências e dores na trajetória de três mulheres diferentes

As ausências e dores que costuram o caminho de três mulheres são o ponto de partida para o espetáculo “Tecituras em Dança”, que retorna ao palco do Teatro João Cheschiatti neste final de semana, após a estreia em 2022. Idealizado e produzido pela Companhia Kinesis de Dança, a montagem coloca em cena histórias de mulheres reais que ecoam e representam as experiências de tantas outras. 

No palco, as bailarinas dançam e interpretam suas trajetórias, falando sobre a ausência de tempo em meio a uma rotina que exige a interpretação de inúmeros papéis sociais, sobre o enfrentamento a uma sociedade capacitista, que não compreende a deficiência e nem enxerga uma mulher além de suas muletas e, ainda, sobre o culto à maternidade. 

Resultado de dois anos de pesquisa, a produção mergulha na experiência íntima de cada uma das bailarinas e faz ecoar críticas e experiências comuns a outras mulheres. “Nosso processo teve como estímulo música e texto. Na produção, as bailarinas atuam como intérpretes e criadoras”, explica a diretora Renatha Maia. “Tudo é construído de forma coletiva, a trilha sonora, os movimentos, as pesquisas sobre esses momentos. E eu vou ajudando na construção dessa teia”, acrescenta. 

Tendo como ponto de partida textos que mergulhavam em questões pessoais das integrantes da companhia, o espetáculo foi construído ao longo de várias etapas. “Tudo começou a partir de uma pergunta sobre o que nos faltava. A partir disso, cada uma dessas mulheres escreveu um texto e fomos selecionando as palavras que achávamos que eram as mais importantes e chegamos em um segundo texto. Encurtamos mais um pouco, e buscamos relacioná-lo a músicas que dialogassem com ele, movimentos que representassem o que era dito, não de forma literal”, conta Renatha. 

A montagem do espetáculo também passou por um momento mais coletivo, em que a prática individual de cada uma das bailarinas foi compartilhada com as outras integrantes da Kinesis. “Começamos a filmar a produção, elas foram assistindo e aprendendo, vendo o que havia ficado bom, o que tinha ficado muito literal. O vídeo acabou se tornando também um recurso de pesquisa e criação”, conta. 

Sendo apresentada novamente, após uma temporada de estreia em 2022, o espetáculo também surge com novas emoções, principalmente para as bailarinas. “Agora que vamos reapresentar, vemos o espetáculo com novos olhos. Na primeira vez foi um momento muito emocionante, mas também muito difícil, porque elas trazem situações que foram vivenciadas por elas, tem dor, sofrimento e uma angústia", recorda. “Agora há um deslocamento da própria história, desse sofrimento”, acrescenta Renatha, pontuando, ainda, que nesse cenário a própria arte se inclui como um local de cura. 

“A mulher que foi denominada infértil descobre que a fertilidade tem outros significados; aquela que teve que lidar com a ausência do tempo teve no próprio espetáculo uma chance de encontrar tempo para si mesma; e a pessoa com deficiência viu que ela pode tudo que quiser. A arte traz esse processo de sair de um lugar de impotência para a potência”, afirma.

Serviço
O quê: Espetáculo “Tecituras em Dança”
Quando: sábado e domingo, às 19h
Onde: Teatro João Ceschiatti do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro)
Quanto:R$ 30 (inteira) e R$ 15 (meia-entrada)