Espetáculo 'Arrepsia' traz provocações e reflexões do fazer artístico

“‘Arrepsia’: estado de espírito que se abstém de qualquer ponto de vista definido a respeito da realidade, admitindo que qualquer afirmação que almeje a verdade possui justificações e refutações igualmente legítimas. Estado de dúvida, incerteza, hesitação. Quatro atrizes que correm. Para onde correm? Quem é o que as afeta nessa correria? Entre um freela e outro, dá tempo de parar e pensar sobre si, sobre seus sonhos, medos, identidades e pluralidades?”

A provocação da atriz Malu Dimas, 26, deixa no ar o que o público poderá absorver em “Arrepsia”, montagem que a IncompetênCia – Incompetente Cia. de Teatro vai ocupar espaços culturais em regiões periféricas de Belo Horizonte a partir deste fim de semana (veja o serviço abaixo).

“‘Arrepsia’ é o nosso xodó. Foi criada em um processo de muito afeto, que iniciou quando comecei a escrever meu TCC. Fiz uma pesquisa sobre a ancestralidade no processo teatral e, na montagem, trazemos nossas memórias e ancestralidades. Buscamos também refletir a realidade de grande parte de atrizes e atores brasileiros, que não conseguem viver de sua arte. O espetáculo é formado por histórias familiares, vivências e inquietações sobre isso. Será que vamos viver disso? Foi uma peça que nos ajudou a fazer essas reflexões, além de colocar nossas pluralidades no palco”, conta a atriz, que integra a companhia – e a cena – ao lado de Gabi Vieira, Rafa Calú e Sarah Vá.

No palco, quatro garçonetes – e atrizes – vislumbram um horizonte que parece distante: viver da própria arte. Entre um atendimento e outro, elas fazem um jogo provocativo com a plateia, debatendo temas como negritude, miscigenação, classes sociais, binaridade na sociedade, preconceitos de gênero, o contexto trabalhista de um país latino-americano e o fomento às artes na sociedade.

“São muitas as provocações, acho que vai atingir muitas pessoas. Mas o que mais chega é como conseguir fomentar e materializar nosso sonho. Tirar do âmbito ‘sobrenatural’ e trazer para a realidade”, adianta Malu, que recentemente ganhou maior visibilidade por sua atuação na novela “Amor Perfeito”, exibida na faixa das seis da Globo.

Autoetnográfico, “Arrepsia” não deixa de contar histórias e ralações de quatro jovens que lutam, mesmo diante das incertezas, por mais espaço para mostrarem sua arte.

“Eu consigo viver com o trabalho de atriz e espero prosperar. Mas comecei a fazer trabalhos muito cedo, como vendedora, monitora, menor aprendiz, planfetora, garçonete. Me direcionei para a área artística e tive uma oportunidade. E acho que isso faz a diferença. Precisamos de fomento para a cultura para transformar estas realidades”, sublinha ela, exaltando também o fato de a montagem percorrer espaços periféricos da cidade.

“Sempre foi um desejo descentralizar o espetáculo. Queríamos levar para as pessoas que vivem onde a gente cresceu. Eu cresci no Casa Branca, bairro vizinho ao São Geraldo, e tive muita vontade de levar pra comunidade. Conseguimos levar também pra Venda Nova, onde o (Rafa) Calú foi criado. Focamos nas regiões periféricas onde crescemos. E a ZAP 18 é um lugar que fomenta muito a cultura. É um sonho que estamos realizando, retornar para estes locais que tanto nos deram”.

Programe-se

“Arrepsia”, da IncompetênCia - Incompetente Cia. de Teatro

Sábado (28) e domingo (29), às 19h

Centro Cultural São Geraldo (rua Silva Alvarenga, 548, São Geraldo)

Entrada franca (ingressos distribuídos no local uma hora antes da apresentação)

4 de novembro, às 19h

ZAP 18 (rua João Donada, 18, Santa Terezinha)

R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia)

10 e 11 de novembro, às 19h

Centro Cultural Venda Nova (rua José Ferreira dos Santos, 1.843, Jardim dos Comerciários)

Entrada franca (ingressos distribuídos no local uma hora antes da apresentação)