Dança contemporânea

Espetáculo sobre a violência contra a mulher será encenado na Praça da Estação

'Poderia Ser Rosa', da Cia de Dança Palácio das Artes, estreou em 2001 e ganhou nova versão para dialogar com o atual contexto

Por O Tempo Entretenimento
Publicado em 29 de agosto de 2023 | 11:51
 
 
 
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No fim da década de 1990, o crescente número de mulheres assassinadas na região do Anel Rodoviário de Belo Horizonte impactou a Cia de Dança Palácio das Artes, que transformou o absurdo em arte e, em 2001, estreou o espetáculo “Poderia Ser Rosa”. Pouco mais de 20 anos se passaram e a violência contra a mulher continua sendo um tema urgente na sociedade brasileira – segundo o 17º Anuário Brasileiro de Segurança Pública, crimes motivados por gênero cresceram em 2022, quando comparados ao ano anterior. É o caso dos feminicídios, que subiram 6,1%, e também das agressões em contexto de violência doméstica, cujos registros aumentaram em 2,9%.

Neste contexto alarmante, a Cia de Dança Palácio das Artes apresenta uma nova versão de “Poderia Ser Rosa”, cuja coreografia é novamente assinada por Henrique Rodovalho. O espetáculo será encenado de forma gratuita na Praça da Estação, região central de BH, a partir das 16h. Como a apresentação contém cenas que simulam violência, a classificação indicativa é de 14 anos. O evento faz parte das comemorações da Defensoria Pública de Minas Gerais, em função do aniversário de dezessete anos da Lei Maria da Penha. O espetáculo marca também o encerramento do Agosto Lilás, campanha centrada na luta pelo fim da violência contra a mulher.

“Poderia Ser Rosa” aborda o feminicídio a partir de quatro casais e suas histórias, que apresentam o começo das relações e seus desmembramentos. Em um país que registrou uma média de 4 feminicídios por dia em 2022, Henrique Rodovalho revisita sua criação e concebe, de forma totalmente reformulada, o tema da violência de gênero.

Diretora da Cia de Dança Palácio das Artes, Sônia Pedroso reforça a importância da nova versão de Poderia Ser Rosa ser encenada neste espaço, notável pela grande circulação de pessoas. “Eu entendo que é um assunto de extrema importância e atualidade. Ao retomarmos esse trabalho na Praça da Estação, estamos fazendo um alerta para a população de uma forma geral. Para nós é fundamental podermos trazer essa retratação de algo que, infelizmente, acontece todos os dias”, afirma.

Remontagem

Henrique Rodovalho foi convidado para criar a coreografia de “Poderia Ser Rosa” em 2001 e, agora, duas décadas depois, é chamado novamente para a remontagem. O coreógrafo destaca os desafios de se adaptar o espetáculo para um contexto diferente: “Na época, o conceito final se deu no sentido de tratar questões psicológicas e procedimentos desse assassino em série que estava matando mulheres, a partir de personagens que foram desenvolvidos e também de movimentos/gestos coreografados. Foram captados vários depoimentos de mulheres sobre o assunto e esse material foi utilizado na linha narrativa do espetáculo. Quando agora houve a proposta de resgatar essa obra, uma grande questão foi apresentada: como trazer esse triste assunto de novo, mas dialogando, de alguma forma, com o que acontece hoje?”.

Foi então que surgiu a proposta de tratar o feminicídio a partir das histórias de quatro casais. Rodovalho conta que os duos começam com uma dinâmica de relação e movimentos mais suaves e tranquilos, indo depois para momentos e movimentações mais tensas e agressivas. Segundo o coreógrafo, “o que era para ser uma simples remontagem demandou uma análise mais cuidadosa, surgindo a necessidade de se repensar a obra para a construção de um olhar atual”.

Henrique Rodovalho ainda diz que o elenco feminino da Cia de Dança Palácio das Artes colocou o olhar sobre o tema, “que toca direta e principalmente as mulheres”. “Assim, o protagonismo dessa nova obra é delas, para tentar buscar formas de respostas, além de um pensamento e atos mais sensíveis de acolhimento sobre essa delicada questão”, conclui.

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