Literatura

Fabrício Carpinejar lança, em BH, livro sobre morte, luto e a finitude da vida

Em 'Depois É Nunca', escrito durante a pandemia, autor e cronista de O TEMPO fala sobre a necessidade de aceitarmos as imperfeições da vida

Por Bruno Mateus
Publicado em 07 de dezembro de 2021 | 18:28
 
 
 
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Fabrício Carpinejar teve seu primeiro contato com a morte aos 5 anos de idade, durante uma visita ao túmulo do avô Leônida. “Eu saí da cova de um cemitério em Guaporé”, conta o escritor. Enquanto a família rezava o Pai-Nosso de mãos dadas e repousava flores na lápide do falecido, o garotinho Carpinejar fugiu do cortejo, se perdeu, caiu em uma cova e por ali ficou por quase 5 horas, até que alguém o encontrou pedindo ajuda. “Eu me tornei poeta ali. Eu vi o que significava morrer, vi o que significava pedir ajuda e não ser encontrado”, relata o cronista de O TEMPO.

Essa história, passada no interior do Rio Grande do Sul, é tema em um dos primeiros textos de “Depois É Nunca” (Bertrand Brasil), livro que Carpinejar lança nesta quarta (8) em Belo Horizonte. Escrito durante a pandemia, a obra traz a morte como tema central e surge de uma inquietação pessoal. Para o gaúcho, é preciso aprender a conviver com a imperfeição da vida e falar sobre morte e luto, assuntos ainda vistos com tanto pudor e melindre. “Depois É Nunca” chega à segunda edição após esgotar a tiragem de 8.000 exemplares em menos de um mês.

Fabrício Carpinejar salienta que o livro foi escrito capítulo a capítulo. Não é uma reunião de textos; é uma obra pensado com o rigor do tema. A ideia de tratar a morte com repulsa, como se ela não acontecesse a todo momento, e a banalização da dor do luto, sempre incomodaram o autor.

“Antes nós tratávamos o luto com mais respeito, ficávamos de preto, reconhecíamos a lacuna, uma cadeira ficava vazia por um tempo. Existia um ritual a ser preservado. Hoje não, hoje você perde alguém e já tem que desovar tudo de casa. Temos que enfrentar a morte de frente, reconhecer a dor do luto, parar de apressá-la”, observa.

Carpinejar diz que não se preocupou em escrever um livro leve, não quis suavizar ou usar atenuantes, eufemismos. “Não há sinônimos”, ele comenta, “para traduzir a dor de quem perde um filho, é inexplicável. É uma saudade vitalícia”. “Depois É Nunca” é pesado, entra na dor, não se esquiva do sofrimento. No entanto, o autor pondera que a obra traz conforto “na medida em que é absolutamente realista com nossos limites. Não queira ser melhor do que você é porque você vai sofrer muito mais”.

O livro nasceu de um processo criativo doloroso. O poeta teve que se abrir, se mostrar vulnerável, se emocionar, chorar e sangrar junto. “Depois É Nunca”, porém, não foi escrito para resolver alguma questão ou trauma do gaúcho. “Escrevi para me tornar mais disponível”, pontua. “Foi difícil falar sobre o assunto. É um livro absolutamente atípico na minha produção. Sou cronista, poeta, e eu não podia me valer de metáforas (para falar da morte). É meu livro mais ensaístico no sentido de falar de um tema específico sobre diferentes pontos de vista”, ele acrescenta.

Segundo Fabrício Carpinejar, falar da morte nesse momento de pandemia, em que ela está ainda mais presente e próxima, de certa forma, é fundamental para não tratá-la como uma exceção, entendermos a finitude da vida e não adiarmos afetos, planos e desejos. Depois é nunca. “O que incentivo nesse livro é reconhecer e valorizar quem está ao lado, não colocar mais nenhum projeto futuro acima do presente, não ficar protelando encontros, que todo mundo aceita a imperfeição de um encontro, ser mais possível e menos idealizado”, diz o escritor. 

Livro vai virar filme

Outra novidade envolvendo livros de Carpinejar é que “Minha Esposa Tem a Senha do Meu Celular” (Bertrand Brasil) vai virar filme. O anúncio foi feito em meados de novembro, durante a Expocine, maior feira de audiovisual da América Latina. A produtora Escarlate, de São Paulo, comprou os direitos da obra para o cinema. “O livro mostra o quanto você pode ser romântico sem ser impositivo e fala da vida de um casal que não se sente ameaçado pela partilha da senha dos celulares, que preserva suas individualidades mesmo morando na mesma casa”, afirma o escritor.

Programe-se

Fabrício Carpinejar lança “Depois É Nunca” nesta quarta (8), às 11h, na Quixote Livraria (Rua Fernandes Tourinho, 274, Savassi). Os 100 primeiros autógrafos ganham guardanapos poéticos. O escritor já realizou eventos de divulgação do livro em Recife, São Paulo, Porto Alegre, São Luís, Goiânia, Maceió, Curitiba e Tiradentes. Depois de BH, Carpinejar segue para a Bienal do Rio. 

 

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