AFROFUTURISMO

Festival IMuNe chega a 5 edição mais potente e diverso

Evento recebe show de Karol Conká, homenageia Maurício Tizumba e traz diversas atividades, como oficinas, palestras e lançamento de podcast

Por Vinícius Lacerda
Publicado em 01 de novembro de 2023 | 06:00
 
 
 
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Pelo outro lado da linha, a voz de Bia Nogueira emana tons de satisfação e expectativa. Parece sorrir ao telefone ao falar sobre o festival IMuNe, cuja quinta edição acontece entre os dias 2 e 4 de novembro, em Belo Horizonte, e traz diversas atividades e shows - entre eles o da artista Karol Conká -, oficinas, palestras, festa, rodada de negócios e lançamento de podcast. O misto de sensações é justificado à medida que a conversa avança e se torna evidente a potência transformadora, estética e social do projeto. 
 
O festival surgiu a partir de uma iniciativa do coletivo homônimo, formado por Bia Nogueira, Cleópatra e Raphael Sales. À época, a intenção do grupo permeava a tônica que impulsiona grande parte dos músicos: tocar. Ter um local para dar visibilidade ao trabalho realizado é obstáculo para muitos artistas, especialmente quando se trata de mulheres negras. Essa perspectiva germinou o projeto e fez nascer não apenas palcos, mas também oportunidades. 
 
"Os festivais [que conhecia] não me representavam, geralmente não tinham mulheres pretas", relata Bia, que completa: "com a realização do evento vimos que seria possível fortalecer nossas carreiras e também de outros artistas negros". 
 
Na edição de 2023, o IMuNe abraça outras minorias, ampliando ainda o escopo de representatividade e reforçando o caráter estético e político do festival. "Nesta edição, contemplamos também a música produzida por indígenas, pessoas periféricas e LGBTQIAPN+.
 
Somado a isso, o evento foi construído sob o alicerce do conceito de afrofuturismo, que diz sobre a importância de equilibrar o conhecimento ancestral, como os dos povos originários e africanos, com as novas tecnologias. Para Bia Nogueira, esta é uma forma de fazer um amanhã possível, além de construir uma narrativa política por meio da arte e do empreendedorismo. "Tecnologias dos quilombolas, das favelas, dos grupos de resistência, tudo isso faz parte da minha vivência e da minha construção", justifica. 
 
A construção de novos caminhos para cantores se dá a partir dos pitchings: encontros realizados entre artistas e agentes culturais, donos de festivais e produtores. Por meio de um edital, foram selecionados 10 artistas que poderão apresentar o trabalho durante 5 minutos e, eventualmente, serem integrados a outros eventos culturais. 
 
A lógica do afrofuturismo também explica bem a curadoria. De um lado, Karol Conká, rapper contemporânea e renomada nacionalmente; de outro, Maurício Tizumba, que completa 50 anos carreira neste ano e é o homenageado do evento. "Tizumba é representante do congado, das tradições, enquanto Karol representa a cultura urbana atual", completa Bia. 
 

Tombou e levantou

Além de se apresentar no palco do Sesc Palladium, Karol Conká vai participar do podcast “Ninguém Manda Ni Mim”, realizado por Bia Nogueira e pela influencer e produtora Malu Tamietti. O programa estreia nesta edição do festival IMuNe e terá como tema “50 anos e Hip Hop: Mulheres Negras no Rap”. 
 
Sobre o assunto, para a rapper curitibana, o cenário atual está mais favorável para cantoras negras na atualidade. Segundo ela, quando começou a carreira, há 21 anos, havia menos chances, ao passo que hoje muitas artistas estão no cenário atuando, compondo e estabelecendo parcerias importantes. Ela também não se priva de citar uma inspiração. "Existem várias, mas uma delas é a Nega Gizza. Na minha adolescência ouvia e me sentia muito forte, inspirada. É uma artista que contribuiu para minha formação como cantora de rap", confessa. 
 
Amante da capital mineira, Karol se sente feliz ao vir para cidade que, segundo ela, foi o primeiro local onde se apresentou depois de sua cidade-natal. "Eu nem sabia que tinha gente que ouvia minha música fora de Curitiba e quando cheguei, vi pessoas escutando em vários lugares. Por isso que toda vez que fico sabendo que irei para BH, sinto meu coração quentinho", confessou a cantora. 
 
E, claro, é impossível falar sobre a cantora sem lembrar do linchamento que ela recebeu após a participação no "Big Brother Brasil". Passados alguns anos, Karol revelou que a experiência, no fim das contas, foi positiva. "Foi uma questão de evolução como pessoa e entendimento de vida. Acho que foi uma grande experiência para autoconhecimento. Entender questões minhas que muita gente tem, saber que pessoas se reconheceram, se veem em mim, foi importante. No final foi bom não só para mim, mas para todo mundo porque foi um grande aprendizado compartilhado sobre cancelamento e falta de controle de emoções”, refletiu.
 

PROGRAMAÇÃO - FESTIVAL IMUNE 2023

 

2 de novembro, quinta-feira

 

15h – Lançamento Podcast “Ninguém Manda Ni Mim” com Bia Nogueira, Malu Tamietti. Convidada: Karol Conká. Tema: “50 anos e hip hop: Mulheres Negras e o Rap”
(ESPAÇO JARDIM) Sesc Palladium
Entrada Franca mediante retirada de ingresso | Vagas: 40

 

20h – Show de abertura do Festival – Karol Conká convida Bia Nogueira, Cleópatra e Raphael Sales (Coletivo Imune). (GRANDE TEATRO) Sesc Palladium
Ingresso: R$ 20 (inteira) R$ 10 (meia) - carteirinha de estudantes, idosos e quem trouxer um kg de alimento não perecível para o projeto Sesc Mesa Brasil

 

23h – Lançamento da Festa “Ninguém Manda Ni Mim”
Discotecagem + Show de Cleópatra (integrante do Coletivo Imune)
Mascate Runeria (Av. do Contorno, 1790 – Floresta)
Ingresso preço único: R$15

3 de novembro, sexta-feira

 

9h30 - Workshop: Gunga: Interseção entre as danças urbanas e a ancestralidade Ministrante: Kátia Aracelle e Guida
(ESPAÇO JARDIM) Sesc Palladium
Entrada Franca mediante inscrição

 

18h30 – Marketing de influência e a carreira artística:
Palestrante: Victoria Silva
(ESPAÇO JARDIM) Sesc Palladium
Entrada Franca mediante retirada de ingresso | Vagas: 40

 

19h30 - Música e tecnologia: as possibilidades dos eventos no Metaverso e inteligência artificial e o diálogo com a carreira artística
(ESPAÇO JARDIM) Sesc Palladium
Entrada franca mediante retirada de ingresso | vagas: 40

4 de novembro, sábado

 

14h – Circulo dos saberes, Rodada de negócios e pitchings com programadores e artistas negros, indígenas, periféricos e LGBTQIAPN+
Híbrido: Presencial e on line no youtube do Imune
(ESPAÇO JARDIM) Sesc Palladium
Entrada franca mediante retirada de ingresso | vagas: 40

 

17:30h - A Produção Cultural na Música Negra e Feminina com Elisa de Sena
(ESPAÇO JARDIM) Sesc Palladium
Entrada franca mediante retirada de ingresso | vagas: 40

 

19h - Showcases com artistas selecionados via chamamento
(Teatro de Bolso) Sesc Palladium
Entrada franca mediante retirada de ingresso 

 

22h - Festa de encerramento do Festival Imune
Show com Raphael Sales
Pré-lançamento do Álbum de Bia Nogueira

DJ  Roxie
Mascate Runeria (Av. do Contorno, 1790 – Floresta)
Ingresso preço único: R$15

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