O título do documentário leva o nome de Julian Assange, hoje sinônimo de luta pelo direito à livre informação após ser condenado nos Estados Unidos por divulgar barbaridades cometidas pelas forças armadas do país durante a Guerra do Afeganistão. Mas o grande protagonista de "Ithaka: A Luta de Assange", com estreia nesta quinta-feira (31) nos cinemas, é o pai do jornalista.
Além de buscar sensibilizar o mundo em torno do significado da prisão do filho na Inglaterra, de onde pode ser extraditado a qualquer momento para os Estados Unidos, John Shipton é um personagem à parte, compartilhando preciosos momentos de sabedoria e resiliência em oposição a um mundo que parece ter perdido seus valores essenciais.
É possível imaginar que o diretor Ben Lawrence e o produtor Gabriel Shipton (meio-irmão de Julian) tenham começado o documentário com duas opções, entre a esposa Stella Devant e o pai, com a narrativa seguindo instintivamente o segundo, que, mesmo em silêncio muitas vezes, parece carregar sentimentos profundos sobre paternidade e humanismo.
Shipton usa várias metáforas e citações para ilustrar o que ele e seu filho estão vivendo – ambos deslocados, cavaleiros solitários no que se refere aos ideais de justiça. A imagem do criador do WikiLeaks (organização sem fins lucrativos que divulga, desde 2006, informações confidenciais) se mistura a de John, dando à perseguição americana um sentido de grande arbitrariedade.
O pai faz alusões a conceitos existencialistas, definindo, por exemplo, o que é o amor, ao mesmo tempo em que compara o filho a Prometeu, titã que foi severamente castigado por Zeus, com as suas vísceras sendo diariamente devorada por uma águia, ave que é símbolo dos Estados Unidos. Ele também cita as baleias de “Moby Dick”, caçadas por um capitão vingativo.
Esse modo de ver as coisas ao redor, a partir do que acontece com Assange, pode ser medido na frase “Gosto de construir a casa e ver outras pessoas mudarem”, quando é indagado da razão de não estar na porta do tribunal após uma importante vitória na Justiça britânica. Mas o que fica é a imagem de um homem fora de seu tempo. “Quanto mais distinto mais solitário”, define-se exemplarmente.