Mistura

Fina sintonia entre o piano e uma voz do Brasil

Túlio Mourão e Dona Jandira apresentam, nesta sexta-feira, em BH, o repertório do disco “Afinidades

Por Raphael Vidigal
Publicado em 15 de dezembro de 2017 | 03:00
 
 
 
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Dona Jandira, 79, ouvia sua mãe cantar em casa versões para músicas vindas da Espanha, França, Itália, México e Estados Unidos. Todas no idioma português, pois era assim que elas chegavam através do rádio. E foi assim que ela as apresentou para Túlio Mourão, 65. “Cantarolei músicas que eu sabia de cor e o Túlio se surpreendeu. Porque ele só conhecia no original em francês, inglês, italiano, e eu em português”, conta Jandira.

Munidos desse repertório que abarca clássicos como “Além do Arco-Íris”, “Hino ao Amor”, “Jalousie”, “Luzes da Ribalta” e “Sorri”, todos vertidos para a nossa língua pátria por nomes como Braguinha, e ainda “Com que Roupa?” e “Último Desejo”, de Noel Rosa, a dupla concebeu o álbum “Afinidades”, que serve de mote para o espetáculo que apresentam nesta sexta-feira, na sala Juvenal Dias, dentro do Palácio das Artes.

“O crédito desse encontro deve ser dado ao projeto ‘Caixa Acústica’, que propõe reunir duplas inéditas no palco. Foi uma experiência baseada em admiração mútua. Jandira sempre me chamou atenção pela singularidade de seu perfil artístico e pelo que sua figura representa” enaltece Mourão, ao se referir à cantora alagoana que atualmente vive em Itatiaia, no interior de Minas. “Quando imaginamos um trabalho juntos, com piano e voz, muita gente achou essa união improvável, mas nós passamos longe dessa reflexão, porque o que acontece é que temos uma longa faixa de convergência”, assegura o músico.

Risco. Além das 12 faixas do disco, quem comparecer ao espetáculo verá de perto a interpretação do duo para mais um leque de canções conhecidas, casos de “Folhetim” (Chico Buarque) e “Emoções” (Roberto Carlos e Erasmo Carlos). Mas é, principalmente, o inesperado que marca essa parceria. “Somos artistas de circo, gostamos de saltar no trapézio sem rede embaixo. Esses saltos mortais para mim têm a ver com improviso, com o jazz, com a valorização do momento e com essa vontade de criar em torno da melodia e da harmonia”, define Mourão.

“Meu filho, eu não tenho palavras para definir... É muita história! Fico bastante emocionada. Não tinha nem noção de que um dia teria essa responsabilidade, ainda mais ao lado do Túlio”, admite Jandira, antes de disparar mais uma de suas famosas e sonoras gargalhadas. “Vamos continuar, o presente é sempre o melhor momento”, completa.

Set list. Na hora de pinçar apenas uma canção desse repertório, Mourão é enfático. “Sem dúvidas a mais emblemática é ‘Hino ao Amor’, lançada pela Edith Piaf. Escutei todas as versões para esse trabalho. De Maysa, Dalva de Oliveira, todas cantaram com intensidade”, afiança.

Para manter a fuga da obviedade, Jandira escolhe outra. “Eu era meninoca, garota, e minha mãe cantava ‘Rosas Vermelhas para uma Dama Triste’. Me faz lembrar muita coisa do passado”, declara a entrevistada. Apesar da diversidade, Mourão é capaz de enxergar um discurso que une as músicas alinhavadas.

“Creio que esse álbum pode nos levar a vivenciar uma dimensão poética e romântica dentro da gente que se faz mais do que necessária como antídoto contra a enorme indiferença que nos cerca e a perplexidade que nos assalta”, convoca o pianista. “Esse é meu preceito mais insistente, a afinidade desse repertório iguala a todos em um profundo humanismo, são sentimentos que atingem a todos”, avalia.

E é voltando às suas raízes que o instrumentista e arranjador de Divinópolis aponta uma solução para a encruzilhada. “O mineiro tem essa capacidade de se voltar para dentro, vasculhar e descobrir preciosidades, seja ouro ou minério. Está no nosso perfil psicológico”, constata.

Serviço. Dona Jandira e Túlio Mourão lançam o álbum “Afinidades”, nesta sexta-feira (15), às 21h, na sala Juvenal Dias, dentro do Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro). De R$ 20 (meia) a R$ 40 (inteira).

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