O Fórum Internacional de Dança (FID) surgiu em 1996, idealizado pela dançarina, coreógrafa e diretora mineira Adriana Banana. Nesses 25 anos de trajetória, o evento sempre pensou a dança como corpo político, seja nas propostas artísticas exibidas no palco, seja nos debates, oficinas e palestras refletindo a arte desde um ponto de vista sociocultural e humano. “O FID se entende como agente político, ético e estético desde sempre, ele é assim. O evento não é separado em uma caixinha, ele tem um comprometimento com o mundo e com a vida das pessoas. É uma posição nossa desde o começo”, comenta Adriana.
Em 2021, quando completa um quarto de século de atividades, nada mais natural que o festival mantenha a coerência programática. E assim será. A mostra virtual do FID começa nesta sexta-feira (26) e reúne 13 obras de companhias de diversas regiões do país. Os espetáculos serão exibidos no canal do fórum no YouTube. Neste ano, para falar da precarização das condições de criação, da desigualdade de oportunidades nas diferentes regiões do país e do apagamento de corpos e pensamentos que não correspondem aos padrões hegemônicos, o FID elegeu como norte o tema “Corpos Urgentes”, que acaba permeando todas as produções.
“É uma urgência de vida, de você continuar vivo, e quando continua vivo você acaba descobrindo, em meio a tanta precariedade, outras formas de existência. As obras falam de direito: direito à água, à propriedade, à floresta, à cultura, ao corpo livre da mulher, ao nosso território e à vida. Estamos chamando a atenção para isso”, explica Adriana Banana, que assina a curadoria do evento ao lado de Caroline Silas, coordenadora de comunicação do FID.
Já nos dias 11 e 12 de dezembro, seis mediadores convidados refletem sobre as peças em encontros com os coletivos e com o público. O cenário da dança no Brasil também será tema dos debates: “A dança não acontece só nos palcos, mas em todos os lugares. O palco é um resultado de algo que é muito maior, que passa por uma formação técnica e intelectual. A dança é interessante porque você consegue visualizar como o pensamento vira corpo. É fundamental colaborar com o avanço das discussões sobre a dança no Brasil e sobre como devemos nos integrar culturalmente”.
Democrático
Outro ponto importante na história do FID é o esforço para abrir palcos para companhias fora do chamado eixo Rio-São Paulo. Por isso, em 2021, o evento recebe propostas de pesquisas de 13 grupos: sete da Região Norte (Amazonas, Acre, Tocantins, Amapá, Tocantins, Rondônia e Pará), quatro de Minas Gerais (Belo Horizonte, Montes Claros, Ipatinga e Viçosa), um do Nordeste (Pernambuco) e um do Centro-Oeste (Brasília).
“O que o FID vem fazendo ao longo desses anos é chamar atenção para o que não é hegemônico, o que não está nos lugares de privilégios”, pondera Adriana. O formato 100% online, novidade da programação, possibilita uma maior abertura a convidados de outros centros do Brasil. O caráter internacional do fórum, que já trouxe grupos da América Latina e Central e da África, foi impactado pela pandemia, mas nos anos seguintes será retomado.
O Coletivo Nomeiodeparacom, fundado em 2012, tem como núcleo fixo o dançarino Johnny Cezar e as dançarinas Joana Wanner e Violeta Penna. Desde então, o foco são as realizações para e com a juventude periférica. No FID, o grupo traz parte da pesquisa denominada “Primeiro Tempo de Algo”, que ainda está em processo. “Vamos apresentar o primeiro compartilhamento desse processo, com duração de 40 minutos”, conta Violeta.
O trabalho foi influenciado pela pandemia e pelas memórias dos artistas: “Cada um de nós tem uma memória diferente da juventude, nossos corpos se entrelaçam, minhas experiências topam com as de outras pessoas, mas entendemos que, por mais que a gente se aproxime, jamais vou conhecer os outros corpos”. Em “Primeiro Tempo de Algo”, o trio utiliza objetos pessoais e textos para recriar essas memórias em movimento.
Programe-se
O Fórum Internacional de Dança começa hoje. O evento exibe, pelo canal no YouTube, 13 espetáculos de grupos de diferentes regiões do país. A programação é totalmente online e gratuita. Nos dias 11 e 12 de dezembro, das 14h às 16h30, o FID promove debates virtuais sobre as obras e o cenário da dança no Brasil. As inscrições podem ser feitas no link https://linktr.ee/fid_bra