Música

Grão Discos comemora quatro anos de existência com shows e lançamentos

Iniciativa de Natália Mitre, Alexandre Andrés, Octávio Cardozzo, PC Guimarães e Lucca Mezzacappa nasceu para fortalecer a cena instrumental mineira

Por Raphael Vidigal Aroeira
Publicado em 16 de fevereiro de 2024 | 06:30
 
 
 
normal

Federico Fellini, o mais aclamado cineasta italiano de todos os tempos, tinha o hábito de dormir nos sets de filmagem. Foi a partir de sonhos que ele criou obras-primas como “A Doce Vida”, “Noites de Cabíria”, “Ensaio de Orquestra” e “A Voz da Lua”. O selo Grão Discos talvez também tenha nascido dessa maneira. “Acho que alguém sonhou com esse nome, não tenho certeza, mas essa versão é divertida”, admite Natália Mitre, uma das idealizadoras da iniciativa, que, neste final de semana, comemora os primeiros quatro anos de existência com shows nesta sexta e no sábado.

A ideia de “grão de café, de semente” colaborou para o batismo. “Tem essa relação com colher os frutos daquilo que queremos plantar”, ressalta Natália. Musicista premiada, ela se uniu aos pares Alexandre Andrés, Octávio Cardozzo, PC Guimarães e Lucca Mezzacappa, cada um com sua especialidade, para fundar o selo durante um trabalho que produziam no Estúdio Macieiras, sediado em uma fazenda na acolhedora cidade de Entre Rios de Minas, interior do Estado.

Conversando sobre o cenário da música instrumental mineira, eles compartilhavam o sentimento de angústia. Decididos a “fazer algo em prol da música instrumental independente”, a trupe abraçou o desafio. “A música instrumental é universal, ela acessa pessoas de qualquer idioma e tem o poder de ser múltipla porque, se não traz uma mensagem de texto, cada um recebe à sua maneira. Vejo isso como potência”, defende Natália. A perspectiva vai na contramão de um senso comum, que, muitas vezes, “coloca a música instrumental em um lugar elitizado”.

Democracia 

“Temos experiência em levar a música instrumental para lugares periféricos, escolas, crianças, e as pessoas se identificam. Ao compor, é claro que a gente coloca uma intenção na música, mas a recepção alimenta a diversidade porque os contextos e as referências de cada pessoa são únicos, a simples sonoridade lembra uma situação de vida, um parente”, afirma Natália. Ela acredita ter “inspirado algumas pessoas a tomarem as rédeas da carreira, e a perceberem que ter o seu próprio selo não é um feito assim tão inalcançável”, sustenta. 

As apresentações, que acontecem com o apoio da Lei Municipal de Incentivo à Cultura, vão levar ao público lançamentos de Luísa Mitre com Lucas Telles, Davi Fonseca com Paulim Sartori, Gabriel Bruce, Igara e Camila Rocha. Desta vez, Natália, hábil instrumentista e compositora, vai ficar na plateia, “só na vontade” de tocar. Ela destaca que características como frescor e identidade musical guiaram a seleção dos artistas que integram o projeto.

Alia-se a isso a “necessidade de jogar luz sobre a produção de mulheres e pessoas negras, que têm alcançado cada vez mais visibilidade e assumido seus trabalhos autorais, que, muitas vezes são desvalorizados pelo preconceito de pessoas que nem sabem que têm esse preconceito”. As realizações com os contemplados ocorreram “no modo parceria, sem visar lucro”. Finalizada essa etapa, uma feira com palestras e mesas de conversa já está prevista para “fortalecer a cena instrumental”. Pelo visto, os grãos de sonho começam a brotar na realidade das Gerais.

Serviço.

O quê. Shows em comemoração aos quatro anos da Grão Discos

Quando. Nesta sexta (16), às 20h; e sábado (17), às 18h

Onde. Teatro Raul Belém Machado (rua Jauá, 80, Alípio de Melo)

Quanto. Gratuito 

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!