Música

Janis Joplin 80 anos: o dia em que a cantora deixou Mama Cass boquiaberta

Show no Monterey Pop Festival, em junho de 1967, foi a porta de entrada de Janis, uma então desconhecida, para o panteão do rock e do blues

Por Bruno Mateus | @eubrunomateus
Publicado em 19 de janeiro de 2023 | 15:20
 
 
 
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Janis Joplin já havia deixado a pequena e conservadora Port Arthur, no Texas, e sua família para trás quando abandonou as aulas de artes visuais na universidade estadual, sediada em Austin, e seguiu viagem para a promissora San Francisco. Estamos falando de 1963 e a cidade californiana ainda não havia se tornado o reduto da contracultura estadunidense, com jovens hippies e suas flores no cabelo à procura da liberdade de costumes e de uma nova consciência sobre tudo – da moda à música, da política ao ambientalismo.

Influenciada por cantoras do jazz, do blues e do rock do quilate de Billie Holiday, Big Mama Thornton, Bessie Smith e Etta James, a tímida Janis Joplin, encorajada pelo uso de álcool e drogas para suavizar seu acanhamento, deu os primeiros passos na música cantando em nanicos bares de folk e boates, até que encontrou a excelente Big Brother & The Holding Company, banda que começava a ganhar alguma notoriedade na comunidade hippie em Haight-Ashbury.

Com a banda, Janis assinou contrato com um selo independente, algo importante para alavancar sua carreira. O álbum “Big Brother & The Holding Company featuring Janis Joplin” foi lançado em 1967, mas os singles que dele foram pinçados não alcançaram o sucesso esperado. Contudo, um show iria alterar para sempre não só os caminhos da estrada de Janis, mas também do rock ‘n’ roll.

Explosão no Monterey Pop Festival

Era meados de 1967. John Phillips, compositor e um dos vocalistas do The Mamas & The Papas, o assessor de imprensa dos Beatles, Derek Taylor, e os produtores Loud Adler e Alan Pariser decidiram organizar um festival de música em Monterey, na Califórnia, com a luxuosa curadoria de Mick Jagger, Paul McCartney e Brian Wilson.

Em tempos pré-Woodstock, o Monterey Pop Festival foi o primeiro grande evento de rock do mundo. Entre 16 e 18 de junho, um público de quase 100 mil pessoas assistiu a diversos shows. Por Monterey, onde as portas – e as percepções – do chamado “Verão do Amor” foram abertas, passaram Jimi Hendrix, The Who, Ravi Shankar – o trio estreou em palcos norte-americanos naqueles dias –, Grateful Dead, Jefferson Airplane, The Paul Butterfield Blues Band, Otis Redding, The Byrds, Simon and Garfunkel, The Mamas & The Papas e Eric Burdon, ex-The Animals, com sua nova banda, entre outras atrações.

Foi em Monterey que Hendrix tocou fogo em sua guitarra, um dos momentos mais simbólicos do rock. A desconhecida Janis Joplin e a Big Brother & The Holding Company também estavam escalados para o festival. Extremamente nervosa, Janis subiu ao palco para apresentar um par de canções com sua banda. Quando começou “Ball and Chain”, a cantora mostrou porque, nos anos e décadas seguintes, seria celebrada como uma das maiores vozes do século XX.

“Ball and Chain” apareceu primeiro com a poderosa Big Mama Thornton, que compôs e lançou a versão original na primeira metade dos anos 1960, e ganhou vida nova com Janis. Um estridente solo de guitarra deu início ao espetáculo na tarde daquele sábado, 17 de junho. Vestida com uma espécie de túnica levemente dourada salpicada por lurex, calça da mesma tonalidade e um muli dourado nos pés, Janis Joplin, com seus longos e característicos cabelos, se impôs. Tinha só 24 anos, mas já era, ali, uma estrela impossível de não ser notada.

A voz rouca e metálica, dotada de tanto blues, preencheu todos os espaços de Monterey e além. Janis gritava, balançava os braços, batia os pés no chão. No palco, deixou sua alma e seu coração e parecia expurgar todo o sofrimento da menina texana que um dia foi vítima das risadas e do julgamento cruel e insensível de seus conterrâneos. Cantou tão alto e de forma tão verdadeira que, atônito, o público se perguntava de onde havia saído tamanha explosão.

Nas primeiras fileiras da plateia, Mama Cass, tão concentrada quanto assombrada, via tudo com atenção. Boquiaberta, a grande vocalista do The Mamas & The Papas admirava Janis no palco. Ela parecia não acreditar no que estava vendo diante das lentes de seus óculos escuros. Foram quase seis minutos de completa catarse. Quando Janis e a Big Brother & The Holding Company terminaram “Ball and Chain”, uma efusiva salva de palmas deixou a menina Janis feliz. Então, ela sai do palco dando um pulinho de alegria, traduzida por um sorriso no rosto da maior cantora do rock em todos os tempos.

Hoje, 19 de janeiro, Janis Joplin completaria 80 anos. A carreira da garota texana foi abreviada em 4 de outubro de 1970. Aos 27, morreu sozinha em um quarto de hotel em Los Angeles, vítima de uma overdose de heroína. A voz de Janis, no entanto, está aí em grandes discos e canções. Estrela que é, ela nunca se calou – e ainda nos deixa desconcertados com tamanho brilho, talento e aflição.

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