CINEOP

Lançado há 40 anos, 'Quilombo' se aproxima dos filmes americanos de heróis

Longa exibido na Mostra de Cinema de Ouro Preto é protagonizado pelo homenageado Tony Tornado

Por Paulo Henrique Silva
Publicado em 26 de junho de 2023 | 10:00
 
 
 
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Assim como “Ganga Zumba”, filme de Cacá Diegues apresentado em 1964, “Quilombo”, lançado 20 anos depois pelo mesmo diretor,  deve ser analisado pelo seu momento histórico. Por esse prisma, faz todo sentido que ele tenha sido exibido na 18ª edição da Mostra de Cinema de Ouro Preto (CineOP), dedicada à preservação, à educação e à história do cinema, na tarde de sexta-feira (23)

Se “Ganga Zumba” pode ser analisado como parte das mudanças estéticas e temáticas de sua época, relacionado ao movimento do Cinema Novo no Brasil, evidenciando diversas leituras políticas, “Quilombo” já se encaixa dentro de um desejo de se encontrar os heróis do país, não diferente do que se fazia no cinema norte-americano com seus personagens que se projetavam por suas habilidades e senso de justiça.

O filme de Diegues deixa isso bem claro ao reforçar uma ligação espiritual, com Ganga Zumba (Tony Tornado, grande homenageado da Mostra) e Zumbi (Antonio Pompeo) sendo os “escolhidos” de uma força superior para conduzir os escravos e a resistência contra os brancos em Quilombo dos Palmares. Como nos filmes hollywoodianos, a narrativa é recheada de elementos de ação para ilustrar essa função de embate.

Já nos primeiros minutos, após mostrar um escravo sendo morto pela sua dona, acompanhamos uma rebelião numa fazenda onde está Ganga Zumba. O que apreendemos dele é o suficiente não para um mergulho psicológico daquele homem, mas sim dos conflitos inerentes a um herói, nas escolhas que determinam o seu papel de herói e as consequências que isso pode gerar.

“Quilombo” não pretende discutir com profundidade a questão do negro, trazendo referências para a sociedade de hoje. Toda a história se concentra na necessidade de os brancos vencerem os líderes-heróis do quilombo. Em determinado momento, especialmente na segunda parte, o filme se comporta como um clássico filme de guerra, atentando-se para as estratégias de cada lado para os confrontos.

Como um longa de “Superman”, há certa fanfarronice e dose de loucura no lado inimigo. Daniel Filho vive um capitão que, a exemplo de Lex Luthor, se preocupa mais com as vantagens próprias que pode tirar, sem qualquer ideologia por trás. Já o bandeirante Domingos Jorge Velho  (Maurício do Valle) é mostrado como um louco, que se torna obsessivo no seu intuito  em matar Zumbi, acima de qualquer relação com a Coroa portuguesa.

Assim, “Quilombo” se tipifica no gênero da luta do bem comum contra um mau que quer se fazer prevalecer pelo uso da força. Ganga Zumba pode ser visto como um Obi Wan Kenobi, enquanto Zumbi é o Luke Skywalker, personagens de “Star Wars”, uma franquia em grande evidência na época.  Essa premissa de Diegues funciona, embora, como qualquer filme de ação, sofra com a ação do tempo.  

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