Dicas para dias de quarentena

Live "Dando Corda" convida a pianista Celina Szrvinski

“A formação de público para a música de concerto é o tema de discussão da também pedagoga musical e curadora com a Orquestra Sesiminas

Por Patrícia Cassese
Publicado em 20 de maio de 2020 | 13:39
 
 
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Convidada desta quarta-feira da live Dando Corda, projeto que a Orquestra Sesiminas Musicoop promove em sua página oficial no Instagram todas as quartas, a partir das 21h30, a pianista Celina Szrvinski se vale de uma frase de Friedrich Nietzsche para discorrer sobre o papel da arte na sociedade. "Sem arte, a vida seria um erro". Na sequência, ela emenda outro pensamento do filósofo alemão para situar a importância da seara na qual também transita aos tempos atuais, de pandemia.  "Nietzsche também falou que a arte serve para nos tirar da dura realidade da vida. E acho que é bem esse momento", explana ela, que vai conversar de sua casa, por vídeo, com os músicos, sob a batuta do maestro convidado Marco Antônio Maia Drummond. 
 
Dentro do campo da cultura e da arte, com ênfase na música, Celina empunha, já há muitos anos, a bandeira da formação de público.  No caso, para ter a oportunidade de apreciar a música de concerto. Entre os projetos que tocou, constam alguns bem conhecidos entre os belo-horizontinos, como o  “Concerto às 18h30”, “Concertos Didáticos UFMG” e “Diálogos Musicais do Museu de Arte da Pampulha”. Desde 2013, Celina dirige o “Festival de Maio – Cordas e Piano”, além de, a partir de 2010, a série “Concertos” do Centro Cultural Minas Tênis Clube. "Na verdade, o convite para abordar esse tema na live foi do maestro, e achei excelente. Trata-se de um assunto sobre o qual eu sempre gosto de falar, porque, na verdade, é uma atividade que sempre desempenhei paralelamente à atuação como pianista e professora. No início do ano que vem, aliás, vou completar 30 anos (de atuação). E talvez (essa faceta) tenha se mantido e crescido tanto (dentro dea sua trajetória) exatamente por eu ter também a experiência de subir no palco e saber o que público e artistas esperam. Acho que consigo estabelecer essa ponte entre plateia e artistas. E sempre foi uma tarefa muito instigante e prazerosa para mim", diz ela.
 
Celina argumenta que formar público para a música de concerto continua sendo um trabalho necessário. "A música de concerto é muito vasta e muito rica, ela atravessa séculos, conta a história da humanidade, tem implicações políticas. Muitas vezes, está atrelada às outras artes: à literatura, à pintura... Ela narra a história dos povos e nos faz entender, por exemplo, o momento que a gente vive".  
 
Não só. A pianista defende com veemência que conhecer a música de concerto (bem como suas figuras exponenciais, seus gênios) é um direito do ser humano. "Mas, como não tem a mesma divulgação que outros tipos de música, esse trabalho (de formação) se faz sempre necessário". E também recompensador. "É emocionante assistir a pessoas que nunca tinham tido antes a oportunidade de ouvir um determinado compositor - vamos dizer Beethoven, Chopin ou Brahms, seja com orquestra, música de câmara ou mesmo com um solista apenas, um pianista, por exemplo - se encantarem. Ouvir um jovem dizer: 'Nossa, eu nunca ouvi nada tão lindo'. Ou receber agradecimentos por e-mail para relatar dessa experiencia única. Isso nós da a certeza de que essa música precisa ser levada a todos, assim como você convida pessoas a lerem livros, a conhecer museus. É a mesma coisa".
 
Para seu alento, ela entende que não só em MInas, mas em todo Brasil, hoje existem inúmeras iniciativas destinadas ao fomento de público. "Aliás, elas crescem cada vez mais, no sentido de levar música a um público que ainda precisa ser conquistado. Existem, por exemplo, as iniciativas de concertos ao ar livre - e, neste caso, as orquestras têm mais facilidade, além de um apelo maior, pelo próprio número de músicos, a diversidade dos instrumentos. E, muitas vezes, também convidam um solista, então, fica ainda mais interessante. Mas, de uma maneira geral, eu vejo que é uma preocupação, é um trabalho que tem se ampliado bastante, e que tem trazido um retorno muito positivo na conquista desse público enorme que precisa conhecer essa música".
 
Voltando à fala de Nietszche, Celina lembra que os tempos de pandemia deflagaram a importância da arte.  "O que seria das pessoas se elas tivessem, nesse confinamento, a possibilidade de acompanhar tantas lives? Shows, concertos, visitas a teatros, livros online, exposições... Enfim, a arte invadiu a casa das pessoas e é ela que está proporcionando não só lazer, mas ajudando a ter um equilibrio emocional. Amenizando essa dura realidade. As pessoas estão podendo, de forma gratuita, desvendar universos que, antes, não estavam acessíveis. Em alguns  casos, as pessoas teriam que viajar a outros países para conhecer coisas que agora estão disponíveis de forma ampla e gratuita".
 
Mas sim, claro, ela espera que logo, logo o contato presencial volte a ser reativado, com zelo e segurança. "Eu acredito bastante que um novo público está sendo formado nesse período e que depois, quando tudo isso acabar, ele se interesse em comparecer às salas de concertos para ter a experiência presencial. Porque o concerto ao vivo, ele nunca será substituído. É como a gente pensar que não precisa conhecer um jardim porque já viu a foto dele, ou 'eu não preciso visitar um museu porque já vi o catálogo, já vi as fotos'. Com a música, a mesma coisa. Você pode ouvir o CD, assistir ao vídeo... Mas dividir o momento, aquele instante da produção musical com o artista, é uma experiência única. E que não se repete mesmo que você ouça o mesmo artista. Não acredito que essa experiência (presencial, in loco) acabe,  e penso que, neste momento, um público novo está sendo conquistado".
 
Em tempo: Celina possui duo com instrumentistas como o violoncelista Antônio Meneses e a violinista Utae Nakagawa. Também já produziu oito discos, todos divulgando autores brasileiros. Desde 1991, idealiza e dirige, em Belo Horizonte, séries de concertos com acesso gratuito e foco na formação de público. 
 
Confira a live nesta quarta-feira, às 21h30, em:

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