Música e literatura

Livro ressalta as raízes mineiras da bossa nova com João Gilberto em Diamantina

Obra do músico e pesquisador Wander Conceição mostra força política, econômica e cultural da cidade mineira e como ela contribuiu para a evolução da música popular brasileira; lançamento acontece nesta quinta (1º), em Belo Horizonte

Por Bruno Mateus | @eubrunomateus
Publicado em 01 de setembro de 2022 | 13:49
 
 
 
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Ao ler o livro “Chega de Saudade: A História e as Histórias da Bossa Nova” (1990), do escritor e biógrafo Ruy Castro, que sublinha episódios importantes de um dos movimentos culturais mais importantes já surgidos neste país tropical, o cantor, violonista, pesquisador e escritor Wander Conceição ficou particularmente interessado nas passagens que citavam a relação do compositor João Gilberto com Diamantina, cidade natal de Wander. “Eu já sabia dessas histórias. João Gilberto desenvolveu e formatou o ritmo da bossa nova em Diamantina, e o Ruy Castro fala disso no livro”, comenta o músico.

A partir de agosto de 2000, Conceição se debruçou em um longo estudo sobre os períodos vividos pelo compositor na cidade mineira – foram dois, de setembro de 1955 a junho de 1956, e de agosto do mesmo ano a maio de 1957 –, mas decidiu ir além: ao examinar a conexão de Diamantina com a bossa nova, o autor ampliou o tema e começou a desenhar em que momento histórico, social, político e econômico do município do norte mineiro, principal centro de extração de diamantes no Brasil a partir do século XVIII, isso se deu.

“Com os depoimentos de pessoas que conviveram com João Gilberto na década de 50, percebi que se eu não contextualizasse e falasse sobre costumes e tradições de Diamantina, a história ficaria incompleta e incompreensível”, pondera.

O resultado da pesquisa empreendida por Wander Conceição agora será publicado em livro. “Desafinado – Das Cinzas da Acayaca à Bossa-nova” (Editora Mazza, R$ 165, 636 páginas) será lançado nesta quinta-feira (1º) em evento na Academia Mineira de Letras (detalhes no fim da matéria).

Ao longo de mais de 600 páginas, permeadas por 120 fotografias, a obra, segundo o escritor, quer ressaltar a potência e a relevância de Diamantina para além de um local dotado de riquezas naturais e minerais, saqueado pela invasão portuguesa.

Em capítulos ordenados cronologicamente, o livro remonta à lenda das cinzas da Acayaca, como observa o subtítulo de “Desafinado”. No início do século XVIII, os indígenas da etnia Puri tiveram seu símbolo espiritual, o Acayaca, derrubado pelos portugueses, sedentos por ocupar a região.

O folclore mineiro e sua influência na construção e renovação da cultura popular, as serenatas e as composições sacras, a passagem de João Gilberto e sua apuração sonora e estilística em Diamantina, a riqueza e a ascensão política do ex-presidente Juscelino Kubitschek, as raízes mineiras das bossa nova e as fotografias de Chichico Alkmim e Assis Horta dão contornos ao livro, reforçando a influência política e cultural mineira para a modernização da música brasileira.

“A situação econômica possibilitou que diversas famílias mandassem seus filhos para estudar na Europa. Diamantina acabou produzindo mentes e homens preparados para interferir em situações importantes do país, entre os quais Juscelino Kubitschek”, pontua o autor.

Ao ter como pano de fundo a história cultural, política e econômica de Diamantina, seus costumes e suas tradições, “Desafinado” destaca como diferentes contextos e aspectos se misturaram e contribuíram para fazer emergir uma cidade na vanguarda de muitos acontecimentos do país.

Lançamento

“Desafinado – Das Cinzas da Acayaca à Bossa-nova” será lançado em Belo Horizonte nesta quinta-feira (1º), às 19h30, em evento na sede da Academia Mineira de Letras (rua da Bahia, 1466 – Centro). A entrada é gratuita e o livro será vendido a R$ 165. Já no sábado (3), “Desafinado” é um dos destaques do evento “Um Queijim e Um Violão”, na Casa Outono (rua Outono, 571 - Carmo). O show, às 20h30, fica por conta do Clube da Bossa Nova BH. Informações e reservas pelo telefone (31) 99906-0624. 

Sobre o autor

Wander Conceição nasceu em Diamantina em setembro de 1960. Músico violonista, cantor, poeta, pesquisador e escritor, ele é coautor dos livros “Caminhos do Desenvolvimento” (2005), uma síntese histórica da Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri (UFVJM), “La Mezza Notte – O Lugar Social do Músico Diamantinense e as Origens da Vesperata” (2007) e “A Terra, O Pão, A Justiça Social – A Importante Participação da Igreja Católica nas Políticas Públicas do Brasil” (2010).

Em sua atuação como músico, Wander Conceição montou o musical “Jobiniando”, cujo repertório reúne músicas de Tom Jobim com o objetivo de dar visibilidade ao seu trabalho de pesquisa sobre a influência da cultura de Minas Gerais para o surgimento da bossa-nova. O espetáculo tem sido apresentado em Diamantina com o acompanhamento da Orquestra Sinfônica Jovem de Diamantina.

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