Perfil

Luiz Stein ganha exposição única na capital mineira

Criador de algumas das mais famosas capas do rock e pop nacional, artista plástico e designer carioca apresenta mostra individual no CCBB

Por Alex Ferreira
Publicado em 01 de fevereiro de 2022 | 06:00
 
 
 

O cantor norte-americano Tony Bennett diz que sua paixão pela música sempre passou primeiro pelas capas dos discos que admirava.

“Quando eu era bem jovem, lá nos idos dos anos 50, comprar um LP era a única chance que eu tinha de poder levar para casa minha própria obra de arte. Para mim, aquelas imagens maravilhosas eram a porta de entrada para uma incrível jornada musical escondida em cada álbum”, declara o lendário crooner. 

Na era do vinil, o encarte de um trabalho fonográfico era tão importante quanto a música que ele representava e acabou levando muitos artistas a produzirem obras exclusivas para o formato. É o caso do designer carioca Luiz Stein, que, desde os anos 80, vem criando algumas das capas de discos mais marcantes da indústria fonográfica brasileira. 

Agora, vários dos artefatos produzidos por Stein ganham destaque em uma exposição individual que toma conta do Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), na praça da Liberdade, até o dia 7 de fevereiro. 

A mostra faz parte da programação do Festival Rock Brasil 40 Anos e conta com 31 imagens que ilustraram discos importantes do pop nacional, como “As Aventuras da Blitz 1” (1982), da Blitz; “Crescendo” (1989), do Ultraje A Rigor, e “Barão ao Vivo” (1989), do Barão Vermelho. 

“Capas de discos sempre foram um elemento artístico importante dentro da cultura pop”, explica Stein, acrescentando que seu interesse pelo universo dos discos começou cedo, através do mundo das artes gráficas.

“Minha porta de entrada foram os quadrinhos – sempre adorei quadrinhos e como gostava muito de música também, esse caminho foi se abrindo naturalmente”, revela ele, que é conhecido, entre outras coisas, por ter se inspirado em elementos da HQs para criar o primeiro disco da Blitz. 

“Sempre tentei juntar minhas referências – de artes gráficas, quadrinhos, artes visuais – nas capas que assinei. Isso, claro, sem perder a força da comunicação. Meu desejo é que o trabalho fale por si de maneira natural e consiga atingir um grande número de pessoas no processo”, analisa. 

Stein lembra que no início da carreira achava inspirador ver gente como Andy Warhol, Anton Corbijn e Peter Saville se dedicando à criação de capas de long-plays. 

“Esses caras sempre serviram de referência para mim. Particularmente, eu gostava muito do Peter Saville, que fazia a capa de bandas inglesas, como o Joy Division e o New Order. Ele sempre apostou na economia de imagens, que é algo que eu sempre trouxe para o meu trabalho também”, comenta. “Esse tipo de coisa sempre me fascinou por ser um produto que, além de interessante e provocador, funciona em termos de comunicação”, completa o designer. 

Para ele, no entanto, sempre foi importante que o trabalho representasse a união perfeita entre a arte visual e a música.

“O casamento do design gráfico com a sonoridade que ele representa é algo belo, mas delicado, pois precisa ir além das imagens. Em alguns casos, ela é uma espécie de psicanálise gráfica”, avalia o artista, que usa como exemplo uma história que viveu com o cantor Lulu Santos para ilustrar seu argumento. 

“Certa vez, fiz uma capa para o Lulu, e ele não concordou com meu design. No mesmo dia, ele me ligou dizendo: ‘Olha, Luiz, eu entendo a sua preferência por esse determinado caminho, mas, se quiser mesmo fazer assim, você grava um disco e aí desenha a capa do jeito que quiser’. Aquilo deixou claro para mim que a minha função é interpretar o trabalho musical do artista – e que, acima de tudo, as capas precisam refletir o conteúdo, a história e o clima de cada disco”, ressalta. 

Capas na era do streaming 

Um dos poucos capistas conceituados no Brasil, Stein já viu de tudo durante a chamada “evolução” da música – testemunhando desde a ascensão e queda de formatos como o vinil, o CD e o MP3 até a revolução moderna das plataformas de streaming. 

“Ao longo dos anos, eu tenho presenciado de perto como o formato da apresentação da imagem ligada ao que é um álbum musical só tem diminuindo. O surpreendente é perceber que, agora, a capa precisa ser feita para caber em 5 cm, para poder ser vista em um aparelho de celular. É uma mudança formal gigantesca, que afeta muito a informação”, diz.  

No entanto, ele não acredita que as constantes “mortes e ressurreições” de formatos como o LP e CD venham acabar com o papel que a imagem tem para resumir o conceito de uma obra musical. 

“Acho que a música sempre vai precisar do visual como parceiro artístico. Se por acaso um dia não existir mais a ideia de uma capa, vai ter ainda uma plataforma de música ou um site que vai precisar desses dois elementos. O público vai sempre querer juntar uma imagem à música. Isso é algo inescapável”, arremata.

Notícias exclusivas e ilimitadas

O TEMPO reforça o compromisso com o jornalismo profissional e de qualidade.

Nossa redação produz diariamente informação responsável e que você pode confiar. Fique bem informado!