Jacob do Bandolim, Nelson Cavaquinho, Jackson do Pandeiro. Não são raros os exemplos na canção popular brasileira de artistas que acoplaram algum instrumento ao sobrenome artístico. Porém, antes de Horondino José da Silva (1918-2006) ninguém havia se valido do violão de sete cordas para tal façanha. E esse não foi o único pioneirismo do músico que ficou conhecido como Dino 7 Cordas, cujo centenário de nascimento é celebrado nesse sábado. É o que afirma a musicista Marcia Taborda, autora da dissertação de mestrado “Dino 7 Cordas: Criatividade e Revolução nos Acompanhamentos da MPB”.
“A genialidade de Dino era sempre criar uma surpresa, colocar a frase melódica num lugar diferente; a própria maneira como ele se relacionava com a melodia, a harmonia dos baixos e contracantos era nova. Isso influencia todos os violonistas até hoje”, garante a pesquisadora.
Presidente do Clube do Choro de BH, o radialista Acir Antão endossa essas palavras. “Ele foi o primeiro grande sete cordas dos regionais brasileiros, uma escola para todo mundo. Graças a ele, o instrumento ganhou fama e vários outros começaram a aparecer, muito em função das gravações históricas com Jacob do Bandolim, quando os dois eram parte do Época de Ouro”, destaca, em referência ao conjunto de choro criado por Jacob em 1959.
Feitos. Yamandu Costa tinha apenas 17 anos quando conheceu Dino, então com 80. Apesar da diferença de idade, os dois encontraram um canal para se comunicar. “Não tinha muito papo, ele era de outra época, já não tinha muita paciência. Mas tocamos juntos e ele adorou ver um menino novo se entregando naquilo. Ele sempre foi muito carinhoso comigo, temos até umas fotos juntos, bem bonitas, mas eu infelizmente não sei mais onde elas estão”, revela o músico.
O tal encontro aconteceu em São Paulo, durante o festival Chorando Alto, de 1998. Yamandu, que comandou em 2016 o “Sete Vidas em 7 Cordas” – programa do Canal Brasil dedicado ao instrumento tornado célebre pelo veterano –, se vale de uma comparação para exaltar a obra de Dino. “Ele é um músico que tem uma importância que poucos outros tiveram. Porque Dino criou uma linguagem, assim como o Django Reinhardt inventou o jazz manouche, que agora está super na moda. Dino definiu todo o nosso sete cordas brasileiro”, avalia.
Nascido em uma família de músicos no bairro de Santo Cristo, no Rio de Janeiro, Dino começou a carreira na década de 1930, tocando em circos e teatros. O primeiro reconhecimento veio com o convite para integrar o conjunto de Benedito Lacerda, o mais prestigiado da época. Em seguida, tocaria com Canhoto e acompanharia nomes do porte de Orlando Silva, Carmen Miranda, Luiz Gonzaga, Paulinho da Viola, Clara Nunes e Marisa Monte. Já consagrado, gravou em 1991 um disco com Raphael Rabello, seu mais destacado e assumido pupilo.
“Quando ouvi a faixa ‘Conversa de Botequim’ (Noel Rosa e Vadico) desse álbum, eu fiquei fascinada, comecei a minha tese de mestrado naquele mesmo ano e só consegui terminar em 1995”, rememora Marcia. “Descobri o Dino por meio desse disco com o Raphael Rabello, que mostra o quão polivalentes os dois eram”, elogia Yamandu, que participa de homenagem a Dino nos dias 27, 28 e 29 de maio, no Sesc Pompeia (SP). Acir ainda ressalta dois lados menos conhecidos do violonista. “Ele produziu e arranjou o primeiro LP do Cartola (de 74) e também tinha composições lindas, como ‘Choro dos Olhos Castanhos’ e ‘Aperto de Mão’, lançada pela Isaurinha Garcia”, diz.
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