O poeta Romério Rômulo publicou sua última obra em 1996, "Tempo Quando" (quatro livros em dois volumes). O hiato de dez anos não significa uma crise criativa. Basta dizer que na última década ele escreveu mais quatro livros e apresenta agora o primeiro da safra, "Matéria Bruta", lançado pela editora paulista Altana.

"Escrever poesia é algo caudaloso para mim, tenho sempre uma quantidade expressiva de textos e ao mesmo tempo que estou criando, retrabalho permanentemente os que já fiz", conta ele.

Mineiro de Felixlândia que vive entre Ouro Preto " onde é professor da Ufop " e o Rio de Janeiro, Romério cresceu na região do São Francisco, numa paisagem marcada pelo rio e o cerrado.

Nos anos 1960 foi estudar em Ouro Preto e desde então convive com o cenário histórico que se tornou outra de suas referências. Dessas geografias se originam "Matéria Bruta".

"É um livro mais autobiográfico, voltado para a terra", define ele. A relação de Romério com a poesia é de necessidade e desafio.

"É a única forma escrita na qual sei me expressar, então representa um desafio no sentido de realizar uma comunicação pessoal. E especialmente esse gênero me atrai por ser uma fonte de busca de uma linguagem nova. Desde sua origem a poesia traz como como marca o fato de ser um campo de surgimento de expressões renovadoras da linguagem", aponta.

Ele relaciona essa condição histórica da poesia ao universo em que sempre conviveu, do sertanejo.

"É um homem que traz essa capacidade de criar expressões para definir as coisas", compara, acrescentando que busca esse "ritual sertanejo" quando se debruça sobra a escrita poética, combinando isso à procura de um rigor de linguagem "que chega a incomodar".

O livro tem prefácio da professora Dulce Maria Vianna Mindlin que, segundo Romério, está coordenando um grupo de estudos de outros professores universitários sobre sua obra poética.

Para Dulce, "Matéria Bruta" apresenta um poeta "em diálogo consigo mesmo, com suas vivências, com suas experiências. A apropriação pelo discurso dos fragmentos que virão a constituir esse sujeito é fato que salta aos olhos. A "apreensão" de um real, mesmo que passado, exibirá sua funcionalidade inquestionável na constituição deste sujeito presente que, numa salutar tagalerice poética, traz à tona um mundo de experiências vividas".

O projeto gráfico é de Sebastião Nunes e as ilustrações de Bolão, artista popular de Tiradentes que tem como marca as xilogravuras retratando demônios. "Não há uma relação direta desses demônios com os poemas, é um objeto artístico vinculado ao livro", explica Romério.

AGENDA " "Matéria Bruta", de Romério Rômulo, editora Altana, 136 págs., R$ 22.