Discutir a sexualidade e suas múltiplas narrativas, desde a infância, é fundamental para formar cidadãos mais sensíveis e menos preconceituosos. Ao contrário do que prega uma parcela conservadora e heteronormativa da população (e da política) brasileira, quanto antes a diversidade é debatida, tanto mais cedo as pessoas aprendem a lidar com a diferença. Nesse sentido, o espetáculo de bonecos “Simón, el Topo”, do grupo Teatro de la Plaza (Peru), promoveu uma sessão de “terapia coletiva” na tarde desta segunda-feira (17), no Teatro Marília, dentro da programação do FIT-BH.
Uma plateia composta por adultos e, sobretudo, alunos da rede pública municipal pôde acompanhar a história da toupeira Simón, de 10 anos. Simón é um ser sensível, gosta de flores e de borboletas e não curte as brincadeiras violentas dos garotos. Por esse motivo, ele é hostilizado por um deles, sem entender o porquê. “A toupeira é um animal que vive debaixo da terra se escondendo. Podemos fazer uma analogia entre ela e a sexualidade reprimida de muitas crianças e jovens”, pondera Dusan Fung, um dos atores da peça.
“Esse espetáculo tem um forte teor pessoal, porque, enquanto eu crescia, aprendi os valores religiosos, raciais, econômicos, mas não se discutia a sexualidade e sua diversidade”, destaca o diretor Alejandro Clavier, que é responsável pela adaptação do conto homônimo de Carmen De Manuel para o teatro.
A saga de Simón é contada de maneira lúdica, divertida e delicada. Além do mais, é colorida, lembrando que a sexualidade e a vida podem ter escalas menos monocromáticas. O grupo lança mão dos bonecos para criar um efeito que, ao mesmo tempo, nos distancia e nos aproxima da realidade. Ao contrário de outros trabalhos do tipo, os manipuladores/atores se dão a ver, interagindo com os bonecos, com a plateia, quebrando a “quarta parede” para pontuar trechos da história em “portunhol”. Aqui está outro ponto destacado: os atores criam um gromelô, língua inventada, para fazer os diálogos entre os personagens, conquistando mais uma camada lúdica em sua narrativa.
“Simón, el Topo” faz uma travessia importante na produção artística atual: é contundente em sua mensagem, sem perder sua narrativa estética, sua teatralidade; promove a reflexão e possíveis debates, mas se vale de uma linguagem artística bem trabalhada. O espetáculo se apresenta, nesta terça-feira (18) às 19h, pela última vez, no Teatro Marília. Por sua riqueza estética e sua capacidade de criar pontes para o diálogo, “Simón, el Topo” é programa imperdível na noite desta terça-feira.
FIT-BH terça
Programação do dia
“Enterrar os Filhos”, performance da artista Nina Caetano, às 13h30, na praça Rui Barbosa. Gratuito.
“Simón, el Topo”, do Teatro de la Plaza (Peru), às 19h, no Teatro Marília. R$ 20 (inteira)
“A Invenção do Nordeste”, do Grupo Carmin, às 20h, no Teatro Francisco Nunes, às 20h. R$ 20 (inteira)
“Isto É um Negro”, da Cia. Chai-na, às 21h, na sala João Ceschiatti. R$ 20 (inteira)
“Batucada”, de Marcelo Evelin, às 22h, no Espaço Itambé 200. R$ 20 (inteira)