O próprio maestro admite: “Muita gente vai se espantar com a nossa previsão”. As palavras são de Rodrigo Toffolo, 39, regente titular da Orquestra Ouro Preto desde 2007. Mas a história de ambos vem de antes e praticamente se confunde. Toffolo foi um dos fundadores da orquestra no ano 2000 e, desde então, o seu diretor artístico. O otimismo – que nas palavras do escritor Oscar Wilde (1854-1900) sempre “termina com óculos azuis” – e o pendor para surpreender são marcas que a orquestra carrega desde seu nascimento, quando ainda trazia a alcunha “experimental” no primeiro batismo.

“Nossa expectativa é de crescimento para o próximo ano, em todos os sentidos, desde o valor de aporte que a orquestra recebe até no número de concertos e novos integrantes”, revela o maestro.

Financiada por meio de patrocínios privados, a orquestra não possui nenhuma ligação com o Estado de Minas Gerais ou o município de Ouro Preto, como Toffolo faz questão de frisar. “Não temos orçamento da prefeitura nem do governo, somos focados na captação de recursos junto à iniciativa privada, utilizando leis de incentivo em alguns casos”, explica.

Considerada arriscada, inclusive pelo entrevistado, a estratégia não parece ter afetado, até hoje, os planos da orquestra, que possui no currículo encontros com as canções de Alceu Valença, Beatles e com o livro infantojuvenil também clássico “O Pequeno Príncipe”, que renderam premiações, discos e aclamações mundo afora. “A parte boa é que temos total independência, não sofremos pressão política, mas dependemos dos humores do mercado; se ele oscila, a nossa sobrevivência vai junto”, sublinha Toffolo.

Para ele, a empreitada deu certo por ter criado um diferencial, algo que se verifica no recente encontro com Flávio Renegado, com quem a orquestra gravou um DVD no Alto Vera Cruz, em BH. “Viramos uma grife calcada no diálogo. O projeto com o Renegado dá esse recado, que tem a ver com pertencimento. Fomos lá no aglomerado tocar para as pessoas e as convidamos a ocupar as salas de concerto para ouvir Chopin, Villa-Lobos e Tom Jobim. Provamos que o maestro e o ‘mano’ podem tocar juntos”, brinca Toffolo.

Outra iniciativa que procura aproximar a música erudita das periferias é a da Orquestra Jovem Gerais, com sede em Contagem. Além da participação na orquestra, a ONG oferece educação musical para jovens de baixa renda em situação de vulnerabilidade social. Atualmente, são 230 alunos residentes em Contagem, Belo Horizonte e Ibirité. Ao longo dessa história, iniciada em 1997, mais de 1.600 crianças e adolescentes foram atendidas pelo projeto. “Estamos tirando essa molecada da rua para fazer algo produtivo. Acredito que ‘a música pode salvar o mundo’, como disse o (maestro venezuelano) Gustavo Dudamel”, destaca o regente Renato Pedroso, que está à frente da Orquestra Jovem Gerais desde 2014.

A fim de cativar os estudantes, Pedroso apostou em um programa com trilhas sonoras de sucessos cinematográficos, como “Piratas do Caribe” e “Guerra nas Estrelas”. Porém, nem tudo são flores. “Já tivemos aulas de inglês e psicologia, mas tivemos que cortar por falta de verba”, conta o coordenador da ONG, Gabriel Henrique. Em Betim, a Orquestra Sinfônica tem o apoio da prefeitura na formação de seus 74 jovens instrumentistas. “O modelo a seguir é o da Venezuela, já feito na Bahia com o nome de Neojiba, que é espalhar orquestras pelas cidades”, sugere o maestro da Sinfônica de Betim, Márcio Miranda Pontes.