“Trapped”

Disponível na Netflix, “Trapped” garante emoção fora do lugar comum

Idioma dificulta, mas não é barreira quando roteiro, elenco e direção são bons

Por Isis Mota
Publicado em 27 de setembro de 2017 | 03:00
 
 
 

Embora o mundo das séries seja dominado pelas produções norte-americanas, há alguns anos os programas escandinavos vêm ganhando seguidores que, embora em número tímido, não poupam intensidade na adoração. A queridinha da vez é a islandesa “Trapped” (“Ófærð”), produção mais cara da história da TV do país e que está na Netflix.

Na remota cidadezinha de Seydisfjordur, assistimos ao entrelaçamento da rotina dos moradores com um assassinato, tendo como pano de fundo um ambicioso projeto comercial: chineses planejam construir lá um porto, beneficiando-se da localização estratégica da ilha, no meio da rota entre China e América do Norte.

Enquanto lidam com seus dramas particulares, os membros de uma equipe policial habituada a lidar com multas e briguinhas deparam-se com um corpo faltando cabeça e membros, pescado no fiorde bem na hora em que chegava uma enorme balsa trazendo visitantes da Dinamarca. Detetives e peritos da capital são chamados, mas uma absurda tempestade de neve fecha estradas e aeroportos. Eles ficam encurralados na cidade, ninguém chega, ninguém sai, ao estilo dos melhores romances de Agatha Christie.

Para complicar as coisas, estão na balsa um ex-morador da cidade que se envolveu num incêndio sete anos antes, no qual sua namorada morreu. E um bandido lituano que tentava traficar duas garotas nigerianas para um cliente na Islândia. Eles têm ligação com o assassinato ou servem só para desviar o foco do verdadeiro criminoso?

Cabe ao chefe de polícia Andri (Ólafur Darri Ólafsson), um homenzarrão com porte de urso, mas que não dispensa um leitinho quente antes de dormir, desvendar esse mistério. O roteiro é de primeira qualidade, cada episódio traz uma reviravolta que aumenta a tensão. A direção é de Baltasar Kormákur, que também é criador da série e tem experiência em teatro e cinema – ele dirigiu Denzel Washington e Mark Wahlberg em “Dose Dupla”.

Distâncias. Assistir aos dez episódios de “Trapped” é ser transportado para outro mundo. Vemos as paisagens geladas e os comportamentos peculiares da Islândia com o mesmo estranhamento que, eu aposto, os nórdicos veem atores e sets de “3%”, primeira produção original brasileira da Netflix. O branco onipresente da neve se torna um elemento visual importante. Opressor, faz com que personagens e espectadores se voltem para o interior.

Também é curioso observar as rivalidades locais. “Malditos dinamarqueses! Acham que somos um lixão de cadáveres”, esbraveja o prefeito Hrafn Eysteinsson (Pálmi Gestsson). Esse desprezo do povo de um país pelo do vizinho também é protagonista de “Bron/Broen”, só que a briga em questão é entre Dinamarca e Suécia. Em “Trapped”, o corpo surge na costa da Islândia, mas a balsa é dinamarquesa, e cidadãos dos dois países começam uma adorável troca de “gentilezas”. Mais Brasil e Argentina, impossível.

O idioma, porém, é o maior dificultador. As línguas nórdicas nem sequer têm o mesmo alfabeto que a nossa. Se você opta por ver na língua original, não pode piscar porque perde a legenda. O estranhamento provocado por uma língua que soa tão diferente chega a tirar a atenção. Por outro lado, na dublagem a sensação beira o ridículo, pois aí é o nosso idioma que parece completamente fora de lugar. Dê uma chance ao noir nórdico, mas vá por mim: com legenda.

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