Deitado em uma cama de hospital, Cazuza gravou, em 1989, “Camila, Camila”, música de Thedy Corrêa, Carlos Stein e Sady Homrich que permanece como o maior sucesso do Nenhum de Nós. Na época, Thedy tentou visitar Cazuza, mas, devido à fragilidade do poeta exagerado, vítima da Aids, não conseguiu se encontrar com o ídolo. “Cazuza é um dos maiores poetas do rock brasileiro, para nós foi uma honra”, diz Thedy.
A regravação acabou sendo lançada no álbum póstumo “Por Aí”, de 1991. Agora, tanto Thedy quanto seus companheiros de banda têm a oportunidade de realizar outro sonho de fã. Nesta sexta (27), estreia em BH o espetáculo em que eles se reúnem no palco com a dupla Kleiton e Kledir, considerada por Thedy “a maior referência do conjunto”.
“Posso dizer que talvez o Nenhum de Nós não existiria se a gente não tivesse conhecido a estética do Almôndegas”, afiança, em alusão à banda composta por Kleiton e Kledir que antecedeu a formação da dupla. “Eles eram uma espécie de rock rural em versão gaúcha”, complementa.
Parceria. Nascidos em Pelotas, no interior do Rio Grande do Sul, os irmãos Kleiton e Kledir já moravam no Rio de Janeiro quando, em meados da década de 80, tiveram notícias do grupo de conterrâneos, oriundo de Porto Alegre. “Ficamos amigos, mas nunca tínhamos feito nada juntos como agora. O que nos entusiasmou foi a ideia de somar para dar vida a uma terceira coisa; não vai ser cada hora um toca, é todo mundo ao mesmo tempo no palco”, explica Kledir.
Para montar o repertório, a turma teve de encarar o desafio inerente a duas carreiras extensas. Desde 1975 na estrada, Kleiton e Kledir lançaram mais de 20 discos. O emblemático álbum de 1981, que trazia os hits “Deu pra Ti”, “Lagoa dos Patos”, “Trova” e “Paixão”, que ganhou uma versão de Ana Carolina para a novela global “Orgulho e Paixão” no ano passado, serviu de farol.
“A gente tinha que ser sucinto porque, se dependesse de mim, iria colocar todas as músicas deles”, admite Thedy, que elege como favorito o LP “Circo de Marionetes”, de 1979, ainda da fase Almôndegas da dupla. “Foi o que mais me influenciou como compositor e letrista”, avalia Thedy.
Nessa seara, ele observa que as raízes gaúchas deram a todos eles “uma visão mais melancólica e sombria da existência, com uma tendência à tragédia”. “Achavam que a gente era dark, mas eu dizia que não, que nossa música tinha a ver com a milonga e o tango dos países platinos”, conclui Thedy.
Serviço. Kleiton e Kledir com Nenhum de Nós, nesta sexta (27), às 21h, no Palácio das Artes (av. Afonso Pena, 1.537, centro). De R$ 50 (meia) a R$ 140 (inteira)