Prêmio Sinparc

Entre ganhos e incoerências

Única iniciativa de premiação às artes cênicas de BH distribuiu R$ 33 mil a espetáculos que estrearam em 2015

Por Joyce Athiê
Publicado em 21 de fevereiro de 2017 | 19:43
 
 
 
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A cerimônia de entrega do 3º Prêmio Copasa Sinparc de Artes Cênicas, realizado, nessa segunda-feira (20), no Cine Theatro Brasil Vallourec, distribuiu 34 troféus a espetáculos que estrearam em 2015.

O evento, que teve apresentação dos atores Ricardo Batista e Kayete, foi marcado pelo despojamento, com direito a algumas gafes. Em uma projeção no fundo do palco, em vez de Prêmio Copasa de Artes Cênicas lia-se Prêmio Copasa de Artes Ciências.

Márcio Antônio Machado foi o homenageado da noite. O produtor, ator e diretor foi um dos idealizadores do Sinparc, instituição criada com o intuito de organizar a classe artística.

Nos discursos dos premiados, não faltaram declarações sobre a situação política do país, como a de Rejane Faria, do grupo Quatroloscinco – Teatro do Comum. “Nosso lugar é o teatro, é a palavra, é onde encontramos um lugar de resistir. Por isso, é preciso falar desse momento de infelicidade política que vivemos no nosso país”, discursou a premiada na categoria melhor atriz, pela atuação em “Ignorância”, num páreo árduo com Gláucia Vandeveld, atriz também indicada na categoria.

Os espetáculos de pesquisa e experimentação de linguagem estiveram presentes em peso entre os premiados, muitos deles pautados tambem por discursos políticos. Nesse sentido, é interessante ver o discurso feminista e a denúncia à violência contra a mulher ganhar destaque com “Rosa Choque”, que recebeu quatro prêmios, entre eles, de melhor espetáculo adulto, numa categoria que também concorreu “Real”, do Grupo Espanca!, trabalho que olha para a sociedade brasileira e cujos textos e experimentações cênicas também mereciam ser premiados. “Rosa Choque” foi agraciado ainda nas categorias luz, ator e direção, este último entregue a Cida Falabella que, hoje, também atua como vereadora.

Olhares. Entre os resultados, causou surpresa a ausência de premiações para “Cachorro Enterrado Vivo”, não apenas pelo reconhecimento já alcançado em outras premiações, como o Prêmio APCA, mas pelo conjunto de características cênicas que o solo do ator Leonardo Fernandes carrega, envolvendo o público em uma discussão sobre os limites da crueldade humana. A peça foi indicada a seis categorias, levando para casa o prêmio de melhor cenário pelo trabalho de Cícero Miranda. 

Polêmica. A questão da mulher, no entanto, ganhou outros direcionamentos com o prêmio de melhor figurino, anunciado como a categoria mais polêmica. Embora a comissão tenha levantado importante discussão sobre a nudez como figurino, indicando “Calor na Bacurinha”, apresentado por atrizes que fazem da nudez um elemento de linguagem, a comissão retroceu à polêmica e entregou o troféu a “Memória de Bitita”.

A indicação, apenas na categoria de figurino, foi recebida com estranhamento pelas atrizes que refletem em cena assuntos como a objetificação do corpo feminino. “Dramaturgia, direção, encenação feita por mulheres e você me vem querer dar destaque pro meu corpo nu”, escreveu a atriz Michelle Sá no seu perfil do Facebook.

A discussão, no entanto, merece o debate. “Sabemos que vivemos em uma socidedade machista e patriarcal, mas corremos o risco de uma atitude preconcebida. Acho a indicação merecida se pensarmos o tanto que a nudez e aquelas peles criam um discurso para o espetáculo. Isso rompe com a expectativa de figurino. O que podemos perguntar é porque foram indicadas apenas nessa categoria”, afirma Luciana Romagnolli, crítica de teatro.

No teatro infantil, “O Que Mora no Escuro”, indicado em nove categorias, levou o prêmio de luz e espetáculo. Na dança, Primeiro Ato, que concorria com “Três Luas”, ganhou de presente pelos 35 anos de trajetória do grupo os troféus de bailarina, luz e trilha (assinada pelo cantor e compositor maranhense Zeca Baleiro). O melhor espetáculo de dança ficou para “Zhu”, da Cia. Mário Nascimento.

Confira a lista completa dos premiados:

Teatro adulto

Ator
Guilherme Theo ("Rosa Choque")

Atriz
Rejane Faria ("Ignorância")

Ator coadjuvante
Hugo da Silva ("Ópera de Sabão")

Atriz coadjuvante
Camila Morena ("Ópera de Sabão")

Diretor
Cida Falabella ("Rosa Choque")

Cenário
Cícero Miranda ("Cachorro Enterrado Vivo")

Criação de luz
Cristiano Araújo, André Veloso e Catapreta ("Rosa Choque")

Figurino
Ricca Costumes ("Memórias de Bitita")

Texto inédito
"Ópera de Sabão" (Raysner de Paula)

Trilha sonora original
Grupo Maria Cutia e Fernando Muzzi ("Ópera de Sabão")

Espetáculo
"Rosa Choque" (Coletivo Os Conectores)

Teatro infantil

Ator
Marcelo Ricco ("O Menino mais Rico do Mundo")

Atriz
Kely Anne Fonseca Pereira ("O Gol Não Valeu")

Ator coadjuvante
Bernardo Rocha ("O Pequeno Príncipe")

Atriz coadjuvante
Chris Geburah ("A Princesa Frida")

Cenário
Diego Benicá ("O Menino Mais Rico do Mundo")

Criação de luz
Ricardo da Mata ("O que Mora no Escuro")

Diretor
Diego Benicá ("O Menino mais Rico do Mundo")

Figurino
Ricca Costumes ("A Princesa Frida")

Texto inédito
"O Gol Não Valeu" (Francisco Falabella Rocha)

Trilha sonora original
Leo Mendonza ("A Princesa Frida")

Espetáculo
"O Que Mora No Escuro" (Cia. O Trem)

Dança

Trilha sonora ou seleção musical
Zeca Baleiro ("Três Luas")

Concepção de luz
Telma Fernandes ("Três Luas")

Concepção cenográfica
Carlos Moreira ("Cangaço – Lampião em um Cordel Dançante")

Figurino
Marilene Alves ("Thymos")

Bailarina
Marcela Gozzi ("Três Luas")

Bailarino - dança
Patrick Tico ("Zhu")

Concepção coreográfica
Alex Soares ("Terminal A2")

Espetáculo - dança
"Zhu" (Cia. Mário Nascimento)

Espetáculo - teatro infantil
"O Que Mora no Escuro" (Cia. O Trem)

Espetáculo - teatro adulto
"Rosa Choque" (Coletivo Os Conectores)

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