No terceiro andar do Centro Cultural Banco do Brasil, no Circuito Liberdade, há um balanço metálico instalado, rodeado por equipamentos eletrônicos. Uma luz fraca, vinda do teto, ilumina o espaço. O cenário quase não desperta a atenção. Quase. Não fosse por um óculos de realidade virtual também presente ali. Quem o coloca é levado para um mundo, literalmente, colorido, enquanto é embalado pelo balanço. A tecnologia permite a inserção, em tempo real, em um cenário cercado de árvores, flores e até carneirinhos. À medida que o vai e vem do brinquedo se intensifica, o cenário se modifica, e o participante começa a “sobrevoar” o planeta até alcançar um universo estrelado, com direito a satélite, poeira de estrelas e disco voador. A sensação de estar acima das nuvens, porém, não passa dos cinco minutos, e o participante volta à terra, digamos, real.
Essa descrição diz respeito à instalação “Swing”, dos artistas alemães Christian Marczinzik e Thi Binh Minh Nguyen, e é uma das 25 obras da exposição “Disruptiva”, iniciativa do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (File), que abre nesta sexta-feira (19) para o público no CCBB e onde permanece até 19 de março. A mostra ainda contempla instalações que embalam o público a vácuo (“Shrink 01995”, de Lawrence Malstaf), fazem-no flutuar por um colchão de ar e ser espremido por outro (“Physical Mind”, de Teun Vonk) e deitar sobre uma superfície metálica para sentir a vibração de uma onda (“Piso”, de Rejane Cantoni e Leonardo Crescenti).
O conceito da exposição está explicitado no subtítulo que a acompanha: “A Arte Eletrônica na Era Disruptiva”. A referência à era disruptiva diz respeito às inovações que quebram estruturas, especialmente no contexto mercadológico, a ponto de modificar um produto ou serviço. “A inovação disruptiva cria uma ruptura no mercado. Foi o que aconteceu com os computadores pessoais. Todas as máquinas de escrever acabaram porque os computadores as substituíram”, exemplifica o curador Ricardo Barreto.
Ele salienta, entretanto, que a proposta da exposição é explorar não a questão econômica, mas comportamental. “Como o público está se relacionado com a arte eletrônica? Está ocorrendo que os artistas e as tecnologias estão possibilitando que se façam obras a ponto de criar uma estrutura disruptiva no comportamento do público. Antes, as pessoas tinham uma aura de respeitabilidade sobre a obra. Agora, e cada vez mais, existe uma aproximação muito forte do público com a obra. É como se antes você visse seu grande amor a distância, e agora já está pegando na mão dele”, justifica Barreto.
O curador conta que essa interação é um resgate da relação entre público e obra advinda da Grécia Antiga: “Lá, não existia essa aura sobre as galerias com valores astronômicos. Todo mundo interagia com as esculturas de Zeus, de Apolo...”.
Estrutura. “Disruptiva” ocupa duas salas do térreo, o pátio e o terceiro andar do CCBB e é dividida em quatro corpos. No conceito do Corpo Vivencial, o público é convidado a se relacionar com o corpo presente. No Cinético, a proposta é que o visitante estabeleça uma relação entre movimento real e lúdico. A concepção do Corpo Virtual convida o público a uma imersão no digital, e, por fim, o Corpo Lúdico sugere que participante interaja com games.
A recomendação para o público é visitar a exposição com roupas confortáveis. “Disruptiva” estreia em BH depois de ter passado por Brasília e daqui seguirá para o Rio de Janeiro. Neste sábado (20), ainda haverá a “Palestra File 19 Anos: Breve História e conceito do File no CCBB”, às 10h30.
Agenda
O quê. Exposição “Disruptiva”, do Festival Internacional de Linguagem Eletrônica (File)
Quando. Desta sexta-feira (19) a 19 de março, exceto às terças-feiras, com visitação das 10h às 22h, até dia 31 de janeiro; depois desta data, a visitação será das 9h às 21h
Onde. CCBB (praça da Liberdade, 450, Funcionários)
Quanto. Gratuito