O Brasil era outro em 1982. Ainda sob o domínio da ditadura militar, o país viu uma das melhores seleções de futebol da sua história ser eliminada na Copa do Mundo para a Itália, que se sagraria campeã. Em 2019, diante de um cenário conturbado, a opinião de Fábio Jr., 65, sobre a política nacional é clara. “Precisamos colocar a casa em ordem”, declara.
Naquele já longínquo ano da década de 80, a conhecida voz romântica do cantor propagou nas rádios um dos maiores sucessos da sua carreira. “Essa música foi baseada numa história real”, entrega. Ele se refere a “O que É que Há”, dos ardorosos versos “Por que é que há tanto tempo você não procura meu ombro?/ Por que será que este fogo não queima o que tem pra queimar?”.
Composta em parceria com Sérgio Sá (1953-2017) – dono de hits entoados por Roberto Carlos, Tim Maia, Vanusa, Chitãozinho e Xororó e outros –, a canção prova que ainda tem o tal fogo para queimar. Em 2015, ela já constava no show “Solo”, de Ana Carolina, por sugestão do historiador musical Rodrigo Faour, e foi registrada no novo disco da cantora mineira, “Fogueira em Alto-Mar” (2019).
No ano passado, a música recebeu a voz de ninguém menos do que Gal Costa e passou a integrar o repertório do elogiado espetáculo “A Pele do Futuro”. “É uma honra! Adorei a versão da Gal. Havia escutado há um tempo. Ela é demais, ficou incrível”, elogia Fábio, com o orgulho típico do “pai da criança”.
Como não poderia deixar de ser, a música está garantida no show que o cantor traz neste sábado (3) a BH, ao lado de hits que justificam a chamada “Fábio Jr. Canta Sucessos Românticos”, entre eles “Pai”, “Alma Gêmea”, “Só Você” e “Caça e Caçador”, que, assim como o intérprete, parecem não sofrer com a passagem do tempo. “São músicas que abordam situações pelas quais todos passamos, acredito que isso as identifique por tanto tempo, atingindo diversas gerações”, sugere o compositor, que aproveita o ensejo para falar sobre o público de suas apresentações.
“É curioso, porque noto uma renovação, tem os fãs que sempre me acompanharam, mas tem também a nova geração. São as mães trazendo as filhas”, constata. O status de galã, conquistado ainda na década de 70, quando estreou na novela global “Nina” – e que se consolidou ao longo de incursões no cinema, com “Bye Bye Brasil” (1979), e na televisão, na qual se destacou em “Pedra Sobre Pedra” (1992) como o fotógrafo Jorge Tadeu –, não chegou a trazer para o artista preocupações com a velhice.
“Encaro numa boa, comigo não tem essa, não. O importante é ser feliz em todos os momentos da vida, sempre digo isso para os meus filhos”, garante. Aliás, o músico tem apostado em novidades. Além de interpretar canções de lavra alheia, como “Tente Outra Vez” (Raul Seixas e Paulo Coelho), “Casinha Branca” (Gilson e Joran) e “Dias Melhores” (Jota Quest), ele promete colocar na praça, até o final do ano, “algumas músicas inéditas”.
“Também sinto saudades de atuar, mas as agendas não conciliam”, lamenta. A última participação de Fábio foi no filme “Qualquer Gato Vira-Lata 2”, em 2015, mesmo ano do lançamento de seu mais recente disco. Há 45 anos na carreira artística, ele admite não ser “ligado em internet”. “Sei da importância, tenho uma equipe que cuida das minhas redes sociais e, de vez em quando, dou uma aparecida”, confessa.
Nesse caminho, Fábio viveu episódios inusitados. Começou cantando, em 1975, com o nome de Mark Davis. O episódio foi abordado na série “A História Secreta da Música Pop” (2019), de André Barcinski. “Naquela época, fazia sucesso quem era ‘gringo’. Eu não falava uma palavra em inglês, então evitava dar entrevistas. As músicas eram compostas com palavras que rimavam, tipo ‘forever’ com ‘together’, e por aí vai”, diverte-se.
Serviço.