Um livro que passou cinco anos preso na sua primeira frase. Esse é "Casaco Marrom", romance de estreia da jornalista mineira Giselle Nogueira, que será lançado hoje na livraria Mineiriana.
De inspiração autobiográfica, o livro fala de uma juventude que viveu a ditadura sem pegar em armas, mas que mesmo assim foi envolvida por ela. "Fico perplexa com a avidez dos jovens sobre o assunto. Eles falam que queriam ter vivido essa época, acham que para a vida ser interessante é preciso correr perigo", diz a autora. "Os jovens sempre têm causas para lutar. Por isso, queria desmitificar essa figura do herói", conta.
Em seu livro, Giselle conta a própria história pela personagem Raquel, fazendo o retrato de uma época em que toda discussão era ideológica. "Era um tempo de teatro sendo invadido, músicos perseguidos. Então, a luta não era só política em um sentido estrito. Tudo era político, ou se estava de um lado ou de outro", lembra.
Foi essa atmosfera que levou a escritora ao evento que abre seu romance. "Li uma vez que é pela primeira frase que você amarra o leitor. E comecei contando a minha prisão, algo que eu tinha curiosidade de repensar, tentar entender os passos que dei na minha vida e que levaram àquele caminho", diz, sem querer dar detalhes sobre essa prisão, deixando uma curiosidade para o leitor do livro.
Para ela, a história também foi feita no anonimato do cotidiano. "Conversando com as pessoas, a gente vê que todo mundo foi vítima de alguma arbitrariedade ou deu guarita para um procurado à época", lembra.
Depois da primeira frase, Giselle só voltou ao texto quando teve inspiração para terminá-lo. "A literatura exige certa reclusão, e isso acabou sendo produtivo".
AGENDA
O Que: Lançamento de "Casaco Marrom", de Giselle Nogueira, 144 págs., R$ 34.90
Quando: Hoje, às 10h
Onde: Livraria Mineiriana (rua Paraíba, 1.419, Savassi, 3223-8092)
Quanto: Entrada Franca