Num jantar organizado dentro das linhas de um caderno comparecem Janis Joplin, Marilyn Monroe, Isadora Duncan, Fernando Pessoa, Leonardo da Vinci, Oscar Wilde e Jesus Cristo. Na recepção, Jim Morrison espera a sua vez de entrar. O anfitrião, que recebe a todos com presteza e curiosidade, atende pelo nome de Renato Russo (embora tenha nascido Renato Manfredini Júnior) numa homenagem tripla a Jean-Jacques Rousseau (iluminista suíço), Bertrand Russel (filósofo inglês) e Henri Rousseau (pintor francês). No “O Livro das Listas”, de Renato Russo, que acaba de ser lançado pela Companhia das Letras, com organização dos poetas Sofia Mariutti e Tarso de Melo, as referências irrompem sem uma preocupação cronológica ou de etiquetas.
“Renato sempre foi interessado em ler de tudo, refletir a respeito e deixar registrado o impacto que aquilo causava nele, para depois usar em uma música ou num desenho. Para ele, sempre foi material de criação, nunca de erudição apenas”, detecta Melo, que dá como exemplo “Eduardo e Mônica”, canção lançada em 1982 no álbum “Dois”, da Legião Urbana. Ao longo da travessia dos personagens, o compositor chama à baila o cineasta Jean-Luc Godard, os poetas Arthur Rimbaud e Manuel Bandeira, o pintor Vincent Van Gogh, o músico Caetano Veloso e as banda Mutantes e Bauhaus.
“Renato não só organizava sua criação em listas de ‘novas composições’, como também reproduzia a forma das listas em muitas de suas canções. É o que o (crítico literário austríaco) Leo Spitzer chama de ‘enumeração caótica’”, complementa Sofia, que aponta outro caso na obra do líder da Legião Urbana. “Podemos ver isso também na música ‘Perfeição’ (“O Descobrimento do Brasil”, 1993), quando ele canta: ‘Vamos celebrar a estupidez do povo/nossa polícia e televisão”.
“O jeito dele era meio que ‘atropelado’, inclusive nas entrevistas. Ele não comentava detidamente nenhum assusto, mas explicitava tudo em jorros com bastante veemência”, argumenta Melo.
Por essa razão, às listas construídas pelo cantor ao longo de praticamente toda a existência – período que compreende a infância e alcança a véspera da morte – foram acrescentadas entrevistas de Renato e explicações pontuais dos organizadores sobre figuras históricas citadas frequentemente. “A ideia era costurar as listas com verbetes que tornassem o livro uma espécie de almanaque. Procuramos dar um ‘bê-a-bá’ dos artistas da época para as novas gerações, mas também relacioná-los, sempre, com o próprio Renato”, observa Sofia.
“Não comentamos todos os listados, porque seria impossível. Ao mesmo tempo, não dá para deixar de falar de Bob Dylan, de Fernando Pessoa e de Rolling Stones, que tiveram uma associação muito forte com a obra do Renato. Quem sabe um outro jovem que esteja entrando no universo das artes agora não se encante com essas mesmas descobertas?”, aposta o organizador.
Rotina. As listas do astro, ao contrário do que pode supor nosso vão deslumbramento, não contemplavam apenas planos artísticos, culturais, elevados. O dia a dia também se fazia presente nesse costume. “Fiquei bem impressionada com as listas de ‘things to do’ (coisas a fazer), que muitas vezes se mantinham de um dia para o outro e o outro, mostrando que o Renato também sabia procrastinar como nós, humanos! Ele era extremamente metódico e produtivo, mas também procrastinava”, constata Sofia.
“Ele tinha essa preocupação em não perder o pé da vida, e isso fica claro em listas de coisas para comprar, contas para pagar, e mesmo projetos pessoais, como realizar show, adaptar livros para o cinema e escrever letras de músicas. Era uma rotina, mas de um gênio”, avalia Melo.
Exposição. A publicação do livro coincide com a exposição que o Museu da Imagem e do Som (MIS) inaugura hoje (6), em São Paulo. O projeto nasceu de um desejo do próprio filho de Renato, Giuliano Manfredini que, ao assistir à mostra para David Bowie, deve ter se lembrado de imediato que o pai guardava uma camisa com o rosto do ídolo.
“É a maior exposição, em se tratando de quantidade de itens, da história do museu, vai desde objetos pessoais até a discografia completa do Renato e da Legião. E é a primeira vez que homenageamos uma figura da música brasileira”, conta o produtor da exposição e do MIS, Renan Daniel. “Temos interesse em viajar com essa exposição e estamos abertos a receber convites de outras cidades”, afiança.
O acervo, que contabiliza mais de mil objetos, é o que foi encontrado no apartamento de Ipanema onde o músico faleceu, em 1996. “São discos, livros de arte, outros de temática homoerótica, desenhos e várias cartas de tarô. O Renato tinha um lado místico muito forte”, revela Daniel.
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