Sabe aquela velha máxima “a definição de insanidade é fazer a mesma coisa e esperar um resultado diferente”? Ela pode ser considerada o resumo da saga “Jurassic Park”. Porque, em resposta à pergunta feita por um dos personagens do novo longa que estreia nesta quinta (11), “o que nós aprendemos após mais de 6 milhões de anos de evolução?”, é que, se milhões de pessoas vão pagar para ver nos cinemas, nós vamos repetir o mesmo erro cometido pelos personagens dos filmes anteriores e voltar àquela ilha onde todo mundo morre.
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Os novos empreendedores transformaram a atração em uma espécie de Sea World – daí o título, “Jurassic World”. E passam o início da produção explicando como tudo agora está sob controle e como é super seguro fazer experimentos genéticos e criar novas espécies de dinossauros. Porque isso era exatamente o que os outros administradores pensavam e deu super certo para eles.
Segundo a diretora Claire (Bryce Dallas Howard), os experimentos são necessários porque “as crianças de hoje não se surpreendem mais com simples dinossauros” – um reconhecimento metalinguístico do longa de que, após “Avatar”, “As Aventuras de Pi” e afins, não é qualquer T-Rex em CGI que obtém do público-alvo da produção o mesmo “!!!” do filme original.
Não por acaso, “Jurassic World” começa com dois sobrinhos de Claire visitando a ilha. E o adolescente de 15 anos acha aquilo tudo “coisa de criancinha”. O diretor Colin Trevorrow usa os dois como uma forma de reapresentar a premissa do parque para quem não se lembra ou não viu a trilogia inicial, encerrada há quase 15 anos. Por isso, se você já está na casa dos 30, vai achar a hora inicial desnecessariamente longa.
A coisa só fica boa quando a Indominus Rex, ou D-Rex, criada pelos cientistas do parque, escapa de seu cativeiro. Inteligente, mas ensinada exclusivamente a destroçar e comer, ela toca aquele mesmo terror dos longas anteriores sobre os 20 mil visitantes. E Claire precisa da ajuda do treinador Owen (Chris Pratt) para evitar que seus sobrinhos se tornem o prato principal.
“Jurassic World” é como levar as crianças ao parque de diversões. Você vai ficar entediado em alguns momentos bobos, mas quando ele consegue disparar sua adrenalina, é bem divertido. O roteiro de Rick Jaffa e Amanda Silver (do infinitamente melhor “Planeta dos Macacos: O Confronto”) não esconde que seu público-alvo é a família toda (a matança é geral, mas o sangue é quase inexistente), com caracterizações óbvias e personagens caricatos que vão ser bem entendidos pelas crianças. O resultado, no entanto, é o mesmo problema da trilogia original, com os humanos bem menos interessantes que os dinossauros.
Assim como em “Planeta dos Macacos: O Confronto”, eles tentam inserir alguns comentários contemporâneos e adultos, da crítica às grandes corporações à privatização do setor militar e o mau-trato aos animais. Mas são tantos temas, incluindo a indispensável importância da família em uma produção de Steven Spielberg, que nenhum deles é bem desenvolvido.
A presença de Spielberg, por sinal, é inegável. Da trilha john-williamsiana de Michael Giacchino aos antológicos jipes noventistas, “Jurassic World” é uma grande reverência ao “Jurassic Park” original. E se Trevorrow não tem o mesmo talento do mestre, nem o frescor da novidade, ele se mostra competente nas cenas de ação.
Howard e Pratt fazem o que podem com personagens pouquíssimos desenvolvidos. Mas quem eles querem enganar? O que importa mesmo é o confronto entre as duas bestas que encerra o filme. Resta esperar que, na inevitável continuação, não tentem nos convencer de que qualquer humano queira chegar perto dessas criaturas de novo – e o longa se torne um grande “Jogos Jurássicos” entre os simpáticos e assustadores répteis.
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