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Luxo e elegância: Seu nome é Valentino

Estilista italiano preferido das atrizes de Hollywood diz que a coerência é o maior trunfo de seu sucesso no mundo da moda

Por ANTONIO NAUD JÚNIOR/ ESPECIAL PARA O TEMPO
Publicado em 02 de julho de 2007 | 17:29
 
 

PARIS - Conhecido por seus vestidos longos e sofisticados, o estilista italiano Valentino Garavani veste atrizes de Hollywood e a realeza européia há mais de 40 anos. Sua trajetória começou em Voghera, no norte da Itália, onde nasceu em 1932 e teve que lutar para convencer a sua família de que a moda não era sinônimo de frivolidade. Terminou deixando seu país de origem ainda adolescente para estudar em Paris.

Em 1959, ele abriu um ateliê de moda em Roma, que se tornou um dos mais conhecidos do mundo. Intenso e de personalidade forte, ele garante estar orgulhoso de ser um estilista da velha escola que continua em alta. Bronzeado e de cabelos negros impecáveis, contou com charme a história de sua vida e suas impressões sobre o universo da moda.

O TEMPO - Descobriu muito cedo que iria trabalhar com moda?
Valentino Garavani - Creio que já nasci estilista, porque minhas primeiras recordações me levam ao guarda-roupa de minha mãe, e depois a uma obsessão: estudar figurinismo. Aos 17 anos parti para Paris, tornando-me aprendiz de Jean Dessès e Guy Laroche. Meu pai financiou meu primeiro ateliê no coração de uma Roma em plena Dolce Vita. Paris, o cinema italiano e a alta sociedade foram minhas referências.

Depois de tantos anos, ainda continua motivado?
Claro, afinal faço moda de uma maneira coerente. No mundo da moda houve mudanças radicais e muitas, ao meu entender, são autênticas aberrações. Há mais de 40 anos visto mulheres com o meu mesmo estilo, fazendo o que quero e como quero. Sou feliz e essa é minha maior motivação.

Sente-se diferente dentro do seu universo profissional?
Em minha forma de trabalhar não sou nada comum. Tenho certeza disso. Minha coleção parte de meus desenhos, do princípio ao fim. Normalmente faço mais de cem desenhos, mas termino escolhendo apenas alguns que mais gosto. Sou um estilista da velha escolha, porém tenho idéias novas na minha cabeça.

Você entende o conceito de roupa casual para a mulher?
Neste mundo de pressa e stress, tanto os homens como as mulheres simplificam a vida recorrendo a uma imagem que consideram simples ou casual e que, desde o meu ponto de vista, não é nada favorável para eles. Resulta numa imagem pobre, nada cuidada. É uma pena. O mesmo acontece com as pessoas que não sabem respeitar as normas básicas da elegância e, por exemplo, vão ao teatro vestidos de maneira simplória, inadequada.

Mas não se pode negar que a moda se democratizou e existe uma vasta diversidade de estilos. O que é que você não aprova?
Sempre tenho vontade de rir das vítimas do fashion. São pessoas ridículas que vivem fantasiadas, vistam o que vistam, sem pensar o que fica bem ou resulta patético. Porém, o que realmente me dá agonia é ver essas garotinhas que vão pelas ruas com plataformas que parecem botas de pára-quedistas. Não conheço nada mais longe da beleza feminina.

Quando muitos pensavam que o século XXI veria o fim da alta-costura, ela parece continuar firme e forte. Concorda?
Aqueles que garantiram a morte da alta-costura erraram feio. Eu, que venho de um rigor somente possível com um ateliê artesanal, vejo com satisfação como os desfiles de Paris estão abarrotados de gente e como os meios de comunicação assistem em massa aos mesmos. Terminando por tudo se revelar um grande acontecimento, como realmente é.

Pode traduzir o que é alta-costura?
É a vitrine mediática mais importante do mundo; é a chave elegante de um nome para lançar outras coisas. Das passarelas seletas da alta costura passa para as ruas todo um mundo de complementos de moda e acessórios que fazem a marca crescer em todos os sentidos. Já sabemos que não existem tantos clientes desse tipo de roupa, porém sei que essa clientela também rejuvenesceu muito.

A cor vermelha é a sua marca?
Aos 18 anos, numa ópera, vi uma cena com várias mulheres vestidas de vermelho. Fiquei pasmo com tamanha beleza. Então pensei: "Se algum dia chegar a ser um bom estilista quero que o vermelho seja a minha cor". É uma cor que combina com todo mundo. Quando uma mulher aparece de vermelho em um lugar, torna-se o centro das atenções. Muita gente acha o vermelho uma cor agressiva, talvez por lembrar sangue. É uma cor forte, não nego. Mas uma mulher vestida de vermelho transmite contentamento, alegria, vida. Também gosto do negro, do bege e de cores mais suaves. Não sou um homem de cores fortes. O vermelho é exceção.

De Elizabeth Taylor a Sophia Loren, você já vestiu muitas mulheres famosas...
Pelas minhas mãos passaram mulheres que fizeram história. Se tivesse que destacar nomes diria que Jackie Kennedy Onassis vestiu como ninguém minha criação. Inclusive, ela me encomendou o vestido que usou no seu casamento com Aristóteles Onassis. Destaco também Farah Diba, uma personagem de olhar intenso e grande personalidade. Na atualidade, Hollywood é a melhor vitrine e eu visto as mais belas estrelas. Julia Roberts e Cate Blanchett vestiam criações minhas quando receberam seus Oscar.

Atualmente as estrelas de Hollywood são as suas melhores clientes?
Não só elas. Visto mulheres de diversas partes do mundo, e não só atrizes. Mulheres de vida mundana e garotas refinadas. Tenho um público eclético e fiel.

É difícil ser elegante?
A mulher que conhece sua própria personalidade e deseja ser elegante não terá muitas dificuldades. Agora quem se pinta demais, usa muitos acessórios e se veste exageradamente, jamais será elegante.

É a personalidade ou o vestuário que marca o estilo?
O vestido ajuda muito, porém se uma mulher não tem nada dentro da cabeça, se não tem inteligência suficiente para saber o que deve usar, se não sabe andar ou sentar apropriadamente, o vestido desaparece. Mesmo usando o vestido mais bonito do mundo, garanto que ele não vai funcionar.

Gosta de estar sempre impecável?
Sou muito clássico, sempre visto blazer e gravata, e quando estou de férias, uso jeans com camiseta. Mas sempre procurei ser sedutor. Quando era pequeno e minha mãe me vestia elegantemente, eu pedia que me colocasse outra roupa mais simples para ir brincar, simplesmente porque não queria sujar o traje bonito. Quiçá venha daí essa preocupação pelo vestir, pela imagem. Considero que é uma forma de educação, porque penso que todo ser humano tem a obrigação de se apresentar bem diante dos demais.

O que acha da moda brasileira?
Realmente não conheço a moda brasileira, mas gosto muito do Brasil e dos brasileiros. Vocês são alegres e atraentes.

Como se sente depois de atravessar a fronteira dos 70 anos?
Cheio de vida. Amo o meu trabalho e creio que poderei continuar trabalhando por muitos anos, pois sei como deixar as pessoas mais bonitas.

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