Em vez de “ordem e progresso”, entre outros lemas patrióticos, são palavras como “ócio”, “teimosia”, ou frases, a exemplo de “nunca dormir” e “nunca acordar”, que surgem nas peças da coleção “Breves Bandeiras”, concebida pelos designers Filipe Costa e João Emediato. Os trabalhos desenvolvidos por eles a partir de uma pesquisa sobre bandeiras estaduais e nacionais poderão ser vistos a partir desta segunda-feira (26), no Guaja Casa. Durante a abertura da mostra, eles lançarão, via site, um leilão das obras.
Emediato explica que os dois já haviam experimentado o uso dessas insígnias em outros projetos de design, mas desta vez resolveram dar outro passo, aproximando o suporte do universo da arte. “A gente convive diariamente com várias bandeiras de Estados, países e associações, mas geralmente refletimos muito pouco sobre o que elas representam. Além de analisar o conteúdo gráfico, nós começamos a observar melhor os dizeres, que seguem um lógica positivista, com ideais relacionadas ao trabalho e ao progresso”, diz ele, que ressalta em seguida como procuraram desfazer esse repertório.
“Nós quisemos subverter a função dessas bandeiras colocando outro dizeres, de forma que eles possam estimular a percepção das pessoas. Recentemente, por exemplo, houve uma greve de policiais no Espírito Santo, cuja bandeira, ironicamente, traz a frase: ‘trabalha e confia’. A gente ficou pensando nessas situações e no que, de fato, seria possível afirmar para o Brasil hoje utilizando esse sistema”, completa Emediato.
Costa reforça que a iniciativa tem como resultado, portanto, “anti-bandeiras”, em razão do modo como as criações questionam os modelos utilizados para representar grupos, comunidades ou uma nação. “Elas podem ser definidas assim porque não são feitas para serem perenes como as bandeiras dos países. Elas são breves e efêmeras. Em vez de representar um Estado, elas refletem um estado de espírito, e expressam mais um olhar individual do que coletivo”, diz o designer.
Emediato também detalha que a pesquisa se desenvolveu ao longo de um ano. Nesse período, a dupla colecionou referências que contribuíram para gerar as novas composições. De acordo com Costa, o universo das bandeiras é permeado por regras e existe, inclusive, uma área, denominada vexilologia, que estabelece os critérios considerados básicos para a feitura de um objeto desse tipo. “Há várias restrições em relação aos tipos de cores, de formas e de disposição dos textos que são colocadas. O que a gente fez foi novamente subverter”, frisa Costa.
Agenda
O quê. Mostra “Breves Bandeiras”, de Filipe Costa e João Emediato
Quando. Desta segunda-feira (26) a 4 de julho, das 9h à 0h
Onde. Guaja Casa (av. Afonso Pena, 2881,Funcionários)
Quanto. Entrada gratuita